Tarde demais?

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Nota da autora: Play na musica, capitulo para chorar 💔



Ponto de vista Maya

Cruzei os portões da escola com Margot ao meu lado. Ela ainda não havia se recuperado totalmente, mas havia insistido que iria comigo, dando a desculpa de que não podia continuar perdendo aula.

Eu sabia que não era isso.

Eu a conhecia bem demais para saber que ela jamais me deixaria sozinha depois da noite de ontem. Porque eu nunca havia chorado assim antes na frente dela.

Eu nunca havia chorado assim antes. Ponto.

Abaixei a cabeça, como até então não o havia feito, e fitei meus próprios pés, caminhando pela entrada daquela já duvidosamente prestigiada escola.

O que Hugo havia contado, sobre como o diretor ignoraria qualquer denuncia sobre o acosso, pareceu chocar de encontro a mim assim que coloquei os pés na ENS, e doeu começar a ver aquele lugar com outros olhos.

Machucou ver que, como tudo na vida, a ENS também tinha suas falhas. E por mais perfeito que eu achei que meu sonho fosse, ele também estava cheio de barreiras com as quais eu teria que lidar.

Notei como alguns pares de olhos me seguiam, enquanto Margot me guiava até a entrada da escola.

Talvez não se importassem ou talvez acreditassem que eu tinha ficado surda. Mas eu conseguia ouvir com perfeição os comentários dos grupinhos de meninas ao redor.

"Eu sabia que isso não duraria. Olha para ela, nunca dariam certo."

"Ela é uma ninguém. Estava se achando melhor que a gente, mas quanto mais alto você sobe, maior a queda, como dizem."

"Dizem que ela traiu ele. Hipócrita, com toda essa atitude de menina correta"

Senti Margot me puxar pelo braço, encarando com desafio os grupinhos que se aproximavam, mas ninguém se atreveria. Eu conhecia bem essa expressão no rosto dela, e estava grata por isso.

Parei em frente a sala de aula, travando na porta, sem conseguir entrar.

Escutei minha amiga suspirar, me olhando com um pouco de pena, enquanto segurava a minha mão e me puxava suavemente.

— Maya, o que quer esteja decidindo fazer, eu vou estar do seu lado e vou te apoiar. Vamos, a aula vai começar...

Observei a porta, sentindo os olhos queimarem e tragando o choro. Deixei que ela me puxasse, dando um passo após o outro, enquanto era recebida por mais olhares de desdém e prejulgamentos.

Mas nenhuma daquelas pessoas realmente importavam.

Eles não tinham feito nenhum esforço para me conhecer.

Eles nunca haviam me dado qualquer oportunidade. Era como chegar  atrasada a uma escola onde todos os círculos sociais já estivessem armados desde o momento em que ela foi criada.

E como chegamos tarde, fomos colocados a margem. Não fazíamos parte real de tudo aquilo.

Ninguém parecia se interessar realmente.

Exceto uma pessoa. E eu o havia perdido.

Observei como Bernardo continuou escrevendo o que quer que estivesse escrevendo, enquanto eu caminhava me sentindo completamente fora de lugar até a minha cadeira, a sua frente.

Sentei-me sob o olhar atento de Margot, que permaneceu segurando a minha mão por algum tempo até que a professora entrou finalmente, para começar a aula.

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