Luz do dia

35 9 17
                                        

Ponto de vista: Maya

2 meses antes...

Foi no início do ano letivo, no segundo ano do segundo grau. A maioria das pessoas está certa em acreditar que quase tudo o que sentimos nessa fase das nossas vidas é passageiro. Essa deveria ser uma regra que se aplica a todos. Não ter tantas certezas. Sofrer e saber que vai passar, amar e saber que não será o único ou o último amor da sua vida.

Mas não é assim que funciona, não é mesmo?

E mesmo que te avisem, mesmo que te preparem, mesmo que esse não seja o seu objetivo, caímos. E em algum momento, começamos a sentir tudo tão intensamente que esquecemos que existe muita vida pela frente.

Eu achei que pudesse esquivar, mas estava enganada.

Eu caí tão dolorosamente quanto qualquer outra pessoa, só que lutei muito mais para admitir isso.

O sol parecia decidido a queimar cada célula do meu corpo. Eu havia planejado esse dia tão detalhadamente que parecia quase improvável que algo fora do roteiro cruzasse o meu caminho. Afinal, eu havia lutado para estar ali.

— Eu estou tão excitada!

A voz de Margot ao meu lado me fez girar em sua direção e sorrir.

Cruzou os braços com os meus, enquanto caminhávamos juntas com um sorriso amplo nos lábios e cruzávamos os grandes portões de ferro da escola.

— Eu também! Nem acredito que colocarei meus pés na sala de ciências da melhor escola da cidade! — Respondi sentindo um frio confortável na boca do estomago. Uma ansiedade boa, dessas que te acompanham quando você finalmente realiza um sonho.

Escutei minha amiga sorrir ao meu lado concordando, sem muita convicção, enquanto começava a observar atentamente ao redor.

Respirei fundo, entendendo, de pronto, o que as palavras dela significavam.

— Margot...

— Shiiii... — Pousou o indicador nos lábios e me observou, revirando os olhos. — Sem sermões hoje, por favor.

— Você prometeu. — Respondi, negando frustrada, enquanto ela voltava a observar atenta ao redor. — Vamos nos formar e passar na melhor universidade do Estado. E depois seremos...

— Sim, depois seremos felizes e seremos super cientistas malucas em NY juntas. — Sorriu completando a frase. — Eu não vou te desapontar, ok? Só sinto que...

Suspirei, sabendo que perderia essa batalha.

— Sente que perder seu tempo correndo atras de um cara quando deveria estar se concentrando no seu futuro é algo que valha a pena? — Completei a frase por ela, esperando que ela se desse conta através do meu sarcástico do quão absurdo era aquilo.

Ignorou meu comentário e parou, me obrigando a parar também ao seu lado.

— Sinto que podemos viver um pouco mais. — Sorriu tocando a ponta do meu nariz como se eu fosse sua irmã menor. — Relaxa Maya, você ainda será a minha preferida.

Revirei os olhos diante da esperança vã de que ela estivesse dizendo a verdade e deixei que me arrastasse pelo caminho até a porta de entrada da escola dos meus sonhos.

Apesar do calor do lado de fora e do sol que ameaçava queimar o mundo, as condições nos imensos e impecáveis corredores da ENS (Escola Novo Século) pareciam haver-nos transportado para outro lugar. Considerada um modelo para escolas de todo o Estado, essa havia sido a escola dos meus sonhos desde que o meu amor pela ciência havia começado, desde muito pequena. A escola, além dos melhores professores, tinha um dos melhores laboratórios da cidade. E eu planejava passar os dois próximos anos da minha vida fazendo experimentos nele, até que pudesse alçar voo e conquistar o mundo la fora.

10 encontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora