Ponto de vista Margot (Capítulo Bônus)
Abri a porta do banheiro depois de retocar, sem muito sucesso, a maquiagem e encontrei um enorme corredor um tanto escuro e vazio. Dentro daquela casa, provavelmente caberia uns quatro apartamentos meus. Não que o nosso apartamento fosse pequeno, mas aquele lugar era gigante.
Para que precisavam de tanto espaço? Aposto que Eric tinha se divertido brincado de esconde esconde ali quando pequeno.
Segui o caminho de volta, que me levaria ao andar de baixo, em direção a enorme sala onde a festa estava acontecendo.
Depois que Maya havia desaparecido com Bernardo em algum canto desses comodos intermináveis, Eric havia tentado de todas as formas me fazer tomar aquela Sprite com uma substância duvidosa dentro. Ele achava mesmo que eu era tão estupida para não sentir o cheiro a vodka naquilo?
Eu estava morta de sede.
— Dizem que o tataravô de Eric ainda vive nessa casa.
Escutei sua voz entre as sombras e arregalei os olhos de susto. Aquele lugar poderia ser mesmo aterrador a essas horas da noite.
— Você quase me mata do coração. — Respondi irritada, enquanto suspirava pesadamente e estreitava os olhos em direção a figura parada no fim do corredor, bem embaixo da luz ténue da lua que entrava por uma janela de vidro.
— Como poderá imaginar. — Disse, parando ao meu lado, apoiando as costas e a cabeça na parede. — Ele morreu há muitos anos atrás.
Desviei os olhos dele porque, embora estivesse escuro e ele não pudesse decifrar o medo nos meus olhos, eu não ia lhe dar esse gostinho de mostrar que essa história estava me dando arrepios.
— Vamos dar o fora daqui, devem estar nos procurando lá embaixo. — Respondi com toda a dignidade que me restava, varrendo as paredes escuras que projetavam as sombras das árvores que se moviam lá fora com o vento.
— Eric bebeu Sprite demais. — Respondeu, com certo sarcasmo. — Está babando e roncando no sofá. Marcos tinha alguém importante para encontrar e foi embora. Maya e Bernardo... — Sorriu e, por algum motivo, me senti ainda mais inquieta. — Bom... eu não sei.
— Oh. — Respondi, sentindo que aquela sensação incrementava, ainda que não fosse desconfortável... só... desconcertante.
— Toma. — Disse me entregando uma garrafinha de água perfeitamente fechada. — Pode confiar. — Completou, me olhando nos olhos.
Percebi que, mais uma vez, ele estava sem óculos.
Mais uma vez, seus olhos brilharam tão intensamente que me fez querer perguntar porque ele os escondia, atras daquela camada grossa de vidro.
Mas guardei esses pensamentos somente para mim. Abri a garrafa de água e tomei quase tudo de um gole. Estava sedenta.
— O que aconteceu... — Perguntei, sentando no chão e apoiando as costas na parede. — Com o tataravô de Eric?
O senti sentar ao meu lado, o braço roçando no meu.
— Foi mordido por uma serpente. Havia um grande descampado atras dessa casa no passado. Ele gostava de caminhar por ele. Foi encontrado morto algumas horas depois. Eric gosta de dizer que sua família conta que ele nunca deixou essa casa de verdade.
Assenti, em silencio.
— Ótimo. — Respondi. — Eu não queria mesmo dormir essa noite.
O escutei sorrir e observei como apoiava a cabeça na parede, fechando os olhos enquanto descansava o braço em uma das pernas flexionadas.
Agora, as folhas das árvores lá fora, dançavam sobre seu rosto, projetando sombras animadas.
Ele era bonito. Não daquele tipo que te impacta desde o primeiro segundo e faz seu coração parar abruptamente como Bernardo. Mas de uma forma sutil, dessas que vai te ganhando dia a dia, sem que você se de conta.
Eu não tinha me dado conta.
— Posso passar a noite com você.
Girei em sua direção bruscamente, com os olhos arregalados, dando graças a Deus pela penumbra.
— O que você quer dizer com isso? — Perguntei, sentindo bem no fundo que aquela era uma pergunta estupida e que eu certamente tinha entendido errado e estava exagerando, como sempre.
— Que você não precisa ter medo. — Respondeu, girando a cabeça para me encarar de volta. — Enquanto eu estiver por perto.
Pisquei algumas incontáveis vezes, tentando focar e silenciar o Tum Tum constante que tinha despertado no meu peito.
Mas eu sabia, não conseguiria.
Diferentemente de Maya, eu era intensa demais. Pouco logica. Sem freio, irracional.
Eu não sabia ser prudente e sentir com cuidado.
Era por isso que eu me machucava para valer. Eu mergulhava de olhos fechados... em meio a pedras.
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10 encontros
Novela JuvenilMaya sempre teve claro o que queria conquistar na vida: ser uma cientista renomada e trabalhar em projetos importantes dentro de grandes empresas pelo mundo. Então, quando finalmente conseguiu ser aceita na melhor escola do Estado, sentiu que faltav...