Sem os óculos

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Ponto de vista Margot (Capítulo bónus)


Observei enquanto minha amiga despertava com os lábios do cara que eu tinha tido fotos e pôsteres colados em literalmente cada canto do meu quarto, roçando os seus.

O destino era mesmo surpreendente. Eu havia sonhado com Bernardo mais vezes do que podia contar e agora, eu o tinha incrivelmente perto, mas não da maneira que eu havia planejado.

E por ser Maya, eu realmente não estava triste por isso. Só um pouco ansiosa... eu também queria me apaixonar tão cegamente que os obstáculos seriam somente pedras contabilizadas pelo caminho, que me fariam mais forte, exatamente como estava fazendo com eles.

Suspirei e decidi dar mais uma volta pelos corredores da agência, que já estava fechando. Eu havia passado umas boas horas bisbilhotando, enquanto aquelas pessoas que eu havia visto somente em publicidades e capas de revistas, passavam por mim sem prestar muita atenção, com suas mil coisas para fazer.

Escutei sua voz vinda de uma sala no fim do corredor. Eu a reconheceria mesmo a quilómetros de distância. Ele me dava nos nervos.

Mas o que ele estava fazendo ali?

Movida pela intriga, caminhei em direção a porta de onde sua voz podia ser percebida claramente. Ranzinza como sempre. Impaciente como sempre. Mal-humorado as always.

Parei em frente a porta meio aberta e estreitei os olhos.

Matheus estava de costas para mim, sentado em uma cadeira giratória de frente para um espelho. Uma mulher bem mais velha, com olhar profissional, tentava arrumar seu cabelo e passava um pó em seu rosto.

— Fique quieto e prometo que logo terminaremos. — Ordenou, suspirando enquanto ele fechava os olhos impaciente.

— Você disse isso a duas horas atras. — O escutei dizer entredentes, enquanto a deixava acomodar seu cabelo.

Escutei a mulher sorrir e a vi revirar os olhos, como se já estivesse acostumada com sua atitude e depois de mais alguns segundos, a escutei ordenar que ele se levantasse.

Já haviam terminado.

Como eu disse, o destino pode ser surpreendente.

Ele parecia mais alto, mas eu sabia no fundo que ele sempre havia sido. Com uma calça social e uma camisa de botão verde, da cor dos seus olhos, ele não parecia o garoto com o qual eu cruzava pelos corredores da ENS com o rosto enfurnado nos livros, encurvado, enquanto corria para a aula depois do intervalo.

Observei sua expressão contrariada enquanto a mulher segurava sua mão, o guiando até a porta.

— Vamos, só mais algumas fotos e você será uma pessoa livre.

Foi somente quando ele se virou na direção da porta, que pude ver claramente o quão chocada uma pessoa podia ficar na vida.

Claro estava, essa pessoa era eu.

Porque ele não estava usando os óculos. E sem ele, todo aquele conjunto insuportável de garoto estudioso, arrogante e mandão ficava indiscutivelmente sexy.

Oh não.

Antes que eu pudesse fugir para evitar ser pega bisbilhotando meu pior inimigo na ENS, a porta se abriu completamente.

Seus olhos esverdeados encontraram os meus, parecendo tão surpresos quanto eu estava e, estancado no meio do caminho, Matheus parecia tão impossibilitado quanto eu de mover-se.

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