Voltando aos eixos

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Ponto de vista Maya

Escutei o carro dos meus pais frear bruscamente na porta de casa.

A porta abriu violentamente, batendo contra a parede, enquanto minha mãe entrava com a expressão mais assustada que eu a havia visto em toda a minha vida.

Correu até mim, ajoelhando na minha frente no sofá, segurando meu rosto com ambas as mãos.

— Você está bem? — Me observou de cima a baixo, me movendo para um lado e para o outro, sem esperar resposta.

Meu pai havia ficado na porta, conversando com o policial que havia chegado minutos depois de eu ligar, para denunciar o que tinha acontecido.

Eu não tinha planejado ir tão longe.

Mas a decisão e a falta de lucidez nos olhos de Hugo me disseram que isso não terminaria ali, se eu não agisse.

Ele tinha tentado tirar a minha roupa. E ele tinha tentado me convencer que estava fazendo isso porque gostava de mim.

Ele precisava de ajuda.

E isso estava além dos meus limites.

Depois que o policial foi embora, contei aos meus pais tudo o que tinha acontecido. Desde o momento em que eu tinha esbarrado com ele na escola até aquela noite, quando depois de lutar com toda a força que eu tinha, comecei a gritar, até que ele entrasse em pânico e saísse correndo.

Agora, havia uma denuncia e, embora ele fosse menor de idade, eu sabia que a ENS era conceituada demais para permitir que ele ficasse.

Estava segura de que não o veria mais. Contudo, não pude parar de tremer e chorar quando finalmente pude ficar sozinha no meu quarto, depois de um banho quente e de assegurar aos meus pais inúmeras vezes que eu estava bem.

Observei a marca avermelhada no meu pulso, onde ele havia apertado como se pudesse, com isso, me aprisionar e me enfiei debaixo das cobertas, tapando o corpo inteiro tentando afastar memorias do que não tinha acontecido da minha mente.

Porque quando coisas assim quase acontecem, você só consegue pensar no que teria acontecido.

A mente é realmente muito estranha, não é mesmo?

Eu só conseguia pensar em como tudo teria terminado se eu não tivesse lutado o bastante.

Escutei passos apressados se aproximando pela escada. O som ficou mais nítido quando, quem quere que fosse, entrou no corredor.

Escutei sua voz, do outro lado da porta e me sentei de um salto na cama.

— Eu vou entrar. — O escutei dizer e vi a porta se abrir.

Joguei as cobertas para longe, correndo em sua direção.

Escondi meu rosto no pescoço dele, enquanto ele me abraçava apertado.

As memorias do que não tinha acontecido começando a desvanecer, enquanto eu recuperava o eixo e voltava a ser eu mesma.

Sentou-se ao meu lado na cama, tapando o rosto com as duas mãos, e respirando pesadamente. Observei, enquanto Bernardo parecia submergir em outro mundo por alguns segundos.

— Eu sinto muito. — Negou. Os olhos vermelhos distantes dos meus.

Segurei suas mãos. Ele estava tremendo.

— Eu estou bem.

Suspirou pesadamente, sem conseguir me encarar.

— Eu deveria ter prestado mais atenção. Eu deveria ter ficado por perto...

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