Ponto de vista: Maya
Sobreviver as duas primeiras semanas na ENS estava sendo uma tarefa difícil. Além dos testes de nível surpresa, os professores haviam resolvido massacrar a turma com trabalhos em grupo e trabalhos de casa que demandavam horas da madrugada, muito café e zero vida social.
Contudo, isso não era nem de longe o pior que estava acontecendo. Eu podia lidar com uma lista de trabalhos intermináveis, horas sem dormir a base de café e chá e reclusão. O que eu não conseguia fazer era lidar com Margot.
E isso me deixava completamente de mãos atadas.
Havíamos sido amigas desde a maternidade. Nossas famílias eram tão unidas que não havia outra palavra para que eu pudesse descrevê-la mais que irmã. Contudo, ela havia enlouquecido completamente.
Completamente.
Durante as duas semanas que se seguiram, além das notícias sobre os testes surpresa que estavam aterrorizando todas as turmas da escola, outra matéria era recorrente no jornal online de fofoca.
"Quem será o próximo NÃO do B.B hoje?"
Quem quer que tivesse tempo para escrever essa porcaria, se dedicava a investigar exatamente quem eram todas as garotas que haviam se declarado a Bernardo, e que haviam levado um fora, desde o início do ano letivo.
Não que ele tivesse dito muito a nenhuma delas, mas por alguma razão, ninguém parecia suficiente para o modelo da escola.
Idiota.
De qualquer forma, eu não poderia me importar menos com essas matérias inúteis e com as fofocas pelos corredores. Mas, longe de se encontrar desencorajada, Margot parecia acreditar que isso era um sinal, quero dizer, o fato de ele ter dado um fora em todas as demais, e que ela deveria dizer o que sentia por ele.
Que era o que mesmo?
Fixação? Ilusão? Fantasia?
Eles nem se conheciam direito...
Tentei argumentar que ela estava projetando nele as histórias de romance online que ela lia, escondida durante a noite. Que ela não podia realmente estar apaixonada por alguém com quem mal havia trocado uma ou duas palavras. Que amor deveria ser mais que isso, embora nenhuma das duas soubesse muito bem como nos sentiríamos quando essa palavra realmente fizesse sentido.
Mas ela havia parado de me escutar.
E foi então que tudo começou.
Sentei-me no refeitório, esperando que minha amiga se juntasse a mim. Tínhamos um trabalho em dupla para a aula de física que havia passado a ser a minha única esperança de recuperá-la. Se uma boa tarefa de física não desviasse sua atenção do que quer que ela estivesse planejando fazer e ocultando de mim, eu não sabia o que faria.
Remexi na comida inquieta, enquanto observava o relógio e percebia que ela estava atrasada. Depois da aula, ela havia corrido de volta para a sala dizendo que havia esquecido algo e havia pedido para que eu seguisse em frente, prometendo que logo me encontraria.
Agora, eu me arrependia amargamente da minha ingenuidade.
Mas era tarde demais.
Levantei-me de um salto quando a vi entrar e seguir decidida até a mesa onde Bernardo estava sentado, com o mesmo grupo de sempre.
O refeitório imergiu no mais completo silencio. Todo sabiam exatamente o que iria acontecer, mas esperaram.
Bando de covardes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
10 encontros
Teen FictionMaya sempre teve claro o que queria conquistar na vida: ser uma cientista renomada e trabalhar em projetos importantes dentro de grandes empresas pelo mundo. Então, quando finalmente conseguiu ser aceita na melhor escola do Estado, sentiu que faltav...