10 encontros

Um novo amigo

Ponto de vista Maya

Segunda-feira...

Passei pelos portões da ENS sozinha. Margot tinha pego uma terrível gripe e não iria à escola.

Senti os olhos dos demais cravados em mim.

Ótimo, eu quase tinha esquecido da declaração nada sutil de Bernardo no refeitório na semana anterior. Agora, todos achavam que sabiam quem eu era. E todos achavam que tinham o direito de julgar se quem eu era estava a altura dele, ou não.

Ignorei os comentários e olhares maldosos, enquanto eu caminhava em direção a porta de entrada. Segurei firme a alça da minha mochila, mantendo o olhar a frente. Estava quase chegando ao primeiro degrau quando o vi.

Reconheci a mulher que havia estado com ele em uma foto que eu havia visto na internet, arrumando seu cabelo antes de alguma campanha. Ele estava vestindo o uniforme da ENS, calça social preta, camisa de botão branca, gravata. Contudo, era ridículo como até o uniforme da escola parecia uma roupa de marca cara quando se tratava dele. A mulher a sua frente ajeitava seu cabelo com olhar sério e profissional, enquanto um homem observava com atenção uma máquina de fotos dessas que só vemos na TV.

O diretor da escola, que eu havia visto poucas vezes sair de seu casulo, parecia ansioso e expectante. Sorria de orelha a orelha, passando a mão na cabeça, que devo acrescentar, era isenta de qualquer fio de cabelo, tocando o ombro de Bernardo amigavelmente enquanto saltava de uma perna a outra.

Bernado, por outro lado, sorria educadamente, um pouco aturdido pela atenção sufocante que estava recebendo por parte do administrador da escola.

Os alunos que passavam, observavam e comentavam tentando dissimular sob o olhar severo da zeladora, que tentava por ordens do diretor, fazer com que todos fossem para suas salas e não atrapalhassem o que estavam tentando fazer ali.

O fato era que a ENS tinha conseguido que Bernardo fosse a nova "cara" da escola esse ano. Era evidente que a Novo Século poderia se dar ao luxo de pagar qualquer um para fazer uma campanha sobre a instituição, mas quem melhor do um aluno de verdade?

E digamos que o diretor viu a oportunidade perfeita quando pesquisou a media escolar do garoto mais popular na midia atualmente. Bernardo não só era aluno da ENS. Ele também sustentava uma média incrível e era o rosto mais cotado de muitas campanhas do momento.

Não me surpreendia que nosso querido diretor estivesse a ponto de chorar.

Escutei algumas meninas atras de mim cochicharem algo sobre a sorte de ver aquela cena pela manhã e senti o coração bater forte no peito, ao me lembrar que havia acordado ao lado dele na manhã anterior.

Sorri ao lembrar do rosto dele e da paz que ele me transmitia, enquanto eu o observava da minha cama, em silencio para não desperta-lo. Como se estivesse sonhando.

Tropecei no primeiro degrau e voltei a realidade justo quando o sinal tocou, indicando que tínhamos pouco tempo para chegar a nossos destinos.

Subi correndo os degraus até a porta principal, mas senti uma mão no meu pulso, me detendo antes do último degrau.

Observei sua mão, enquanto notava agora os olhos da mulher que o havia estado ajudando e os olhos  do diretor sobre mim.

Abriu um sorriso, ignorando os olhos curiosos dos poucos alunos que chegavam tarde e corriam em direção a porta de entrada.

— Hey. — Disse escorregando a mão do meu pulso para encontrar a minha. — Por que insiste em me ignorar sempre que pode?

Observei aquele meio sorriso desconcertante se formar nos lábios dele, enquanto o fitava um pouco aturdida.