⏳⏳(19 Dezenove anos antes)
(Idade: 5 anos)
Depois que Lucrécia se mudou, eu fiquei sem ter amigos por um tempo. Anton e eu não nos entendíamos direto durante esse período, mas ele aprendeu a ler e começamos a nos entender. Depois que Lucrécia foi embora, as crianças começaram a dizer que eu sou uma bruxa, e que por minha culpa, ela, a mãe dela e até mesmo avó, tiveram que ir para longe.
Meu pai passou a se esforçar e tentar aprender a linguagem de sinais, que agora eu sei, mas ele não sabe usar direito, parece que ele tem um cérebro diferente do meu, pq ele nunca aprende e isso me deixa nervosa. Eu consigo me comunicar bem com as pessoas por meio da escrita, mas é chato ter que escrever o tempo todo, e quase ninguém entende quando eu sinalizo. As únicas que entendem são a professora, a psicóloga e a minha babá.
Eu e Anton somos da mesma sala agora, mas ele fica querendo ser o melhor aluno, só que eu estou lutando fortemente para conseguir mais estrelinhas douradas de "você brilhou" da professora. Pelas minhas contas, eu tenho só uma a mais que ele. Mesmo ele sendo legal, eu não vou deixar ele ganhar de mim, por isso vou colorir meus deveres de casa de um jeito mais bonito.
De repente meus olhos ardem quando um garoto puxa meu cabelo. Ele me puxa pelo cabelo, me fazendo dar uns passos para trás, eu bato na mão dele para ele me soltar mas ele não faz. Ele puxa tanto que dói e lágrimas começam a molhar meu rosto. Eu não consigo gritar por ajuda e como estamos do outro lado do brinquedo, nenhuma professora vai nos ver. Desesperada eu tento bater nele, mas ele me sacode e eu caio de joelhos. Eu já estou quase desistindo de me soltar quando escuto uma voz que eu conheço.
Anton: solta ela.
Ele fala e o outro garoto sacode minha cabeça.
Anton: solta ela, agora!
Ele tá bravo, nunca tinha visto ele bravo.
Anton: ou vc solta ou eu vou aí te fazer soltar.
Xxx: eu não gosto dessa bruxa muda.
Meu salvador vem até onde estamos.
Anton: eu mandei soltar!
Ele fala bravo, fecha a mão e bate bem forte no topo da cabeça do outro garoto, que logo me solta para sair chorando. Anton me ajuda a levantar e limpa meus joelhos antes de ajeitar meu cabelo.
Anton: vc está bem?
Eu concordo com a cabeça.
Anton: pq ele fez isso?
"Eu não sei"
Eu sinalizo, me esquecendo que Anton não sabe linguagem de sinais. Ele fica confuso e eu procuro meu caderno, que eu devo ter deixado cair em algum lugar.
Anton: o que é isso que vc fez com as mãos?
"Eu falei"
Respondo novamente em sinais e ele junta as sobrancelhas. Anton olha ao redor e acha meu caderno, mas não acha meu lápis, então ele pega minha mão e me leva de volta para a sala de aula, onde eu procuro um lápis diferente em minha bolsa.
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O mafioso da silêncio
RomanceUma promessa feita entre crianças é realmente válida? Para Clarissa, essa promessa foi como uma lufada de ar fresco na vida abafada que ela sempre viveu. A garota que não tem voz e depositou todas as esperanças no garoto com cara de bravo que a ape...