QUATORZE

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E eu assisti enquanto você fugia da cena
Olhos de corça, enquanto você me enterrava
Um coração partido, quatro mãos ensanguentadas
As coisas que eu fiz
Só para eu poder te chamar de meu
As coisas que você fez
Bem, espero que eu tenha sido seu crime favorito

(Favorite Crime - Olívia Rodrigo)

ANA LUIZA

Eu ouvia alguns murmulhos na sala, peguei minha roupa e me vesti, eu estava tremendo e gelada, estava nervosa, como se estivesse fazendo algo errado, não era errado, eu era solteira e ele também, mas a forma que ele se desesperou quando me acordou de manhã fez eu sentir como se fosse a outra, eu sento na cama vendo que já tinha passado 15 minutos, não ouvia mais a voz das meninas, eu abri a porta com cuidado e olhei pra sala vendo a mulher que eu reconheci ser Ana de costas e Abel de frente olhando pra ela.

– Agora que elas saíram, precisamos conversar...

– Ana!

– Você saiu de casa no dia da cirurgia da Mariana sem falar nada comigo.

– Por que já conversamos sobre tudo, já tomamos nossa decisão, sabemos que não dá...

– Não dá porque você não quer? Está tão difícil sem você, todas nós sentimos sua falta, eu voltaria para o Brasil com as meninas.

– Você sabe o quanto isso seria importante pra mim, o quanto você sempre vai ser importante pra mim Ana. – Ele fala e eu não sabia a sensação de tomar um soco no estômago até agora, dou um paço para trás, e pego minha mochila, saio do quarto com cuidado, sabendo que se alguma das meninas me vissem daria uma confusão danada, mas consegui pegar o corredor que levava para a área de serviço, e sair pela a porta de serviço, na lavanderia, não esperei o elevador, desci as escadas torcendo para não cair, pela as lágrimas que inundavam meus olhos.

Parei na frente do prédio, sem rumo.

– Analu? Caraca, nós amamos a sua linha, por favor faz uma de maracujá? A de melancia e a de morango é ótima, mas maracujá é minha fruta favorita. – Olho para as duas meninas, uma de muleta e a outra com um sorriso enorme no rosto, que foi a que falou comigo, e meu coração quase para, elas estavam com sorvetes na mão, tinha uma sorveteria praticamente do lado do prédio, então elas não tinham entrado no quarto, elas tinham descido pra comprar sorvete.

– Oi meninas, maracujá? Ótimo! Vou anotar. – Falo limpando as lágrimas disfarçadamente.

– Está tudo bem? – A menor de muleta pergunta e eu concordo sorrindo.

– Claro, está tudo bem.

– Você pode tirar uma foto com a gente? Somos de Portugal, estamos felizes em te conhecer, você mora por aqui? – Inês pergunta e eu apenas concordo com a cabeça sem saber o que responder para elas, que se juntam mais pertinho de mim pra bater a foto, eu tentei dar o meu melhor sorriso.

– Foi um prazer conhecer vocês meninas, entrem pra casa, perigoso ficar aqui muito tempo. – Falo e as duas concordam agradecendo pela foto e me lembrando da linha de maracujá, sorri com a educação delas, e sorri ainda mais por perceber que mesmo de longe, elas tinham muito dele.

Elas entram no prédio, e eu pego meu celular chamando um Uber, eu tive aquele momento de choro mas agora parecia que eu estava passada, ele ainda gostava dela, por isso nunca conseguiu ser 100% na nossa relação, ou seja lá o que tínhamos.

Entrei no Uber, dei um bom dia, e coloquei meus fones, vi várias ligações da Laura, mas estava chegando e já falaria com ela, peguei minha mochila e fiz uma maquiagem pra tampar a cara de choro que eu estava, cheguei no prédio, e quando entrei, todos me olhavam de uma forma diferente, cheguei na minha sala e Laura estava sentada lá.

dangerous | abel ferreira Onde histórias criam vida. Descubra agora