QUARENTA E SEIS

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ANA LUIZA

Eu estava fazendo a famosa respiração de cachorrinho me controlando enquanto entrava no centro cirúrgico, era tão gelado, não sabia dizer se era o ar ou o gelado na minha barriga.

Eu tinha lido sobre a eclampsia no parto, e vi que era o maior índice de morte das gestantes no parto, chorei escondida uns dois dias de medo, mas eu não podia me deixar cair, o Fernando era o meu sonho, nada poderia acontecer.

Estava de olhos fechados fazendo uma oração aberta quando ouço a médica fazer um barulho.

– Olha só!! – Abro os olhos e vejo Abel com roupa de centro cirúrgico, toquinha e tudo, ele dá um sorriso e chega do meu lado.

Estávamos de frente para um enorme vidro onde poderia ficar até 15 familiares, mas ele era fechado com uma espécie de cortina mágica, e só na hora certa que era aberta, então eu ainda não sabia dizer quem estava lá fora.

– Você avisou todo mundo? – Pergunto fazendo um carinho em seu pescoço e ele concorda. – Está nervoso?

– Estou com medo de desmaiar. – Ele brinca e eu balanço a cabeça negativamente.

A médica pede para eu sentar na cama para me dar a anestesia, e Abel fica sentado na cadeirinha baixa segurando a minha mão, senti a picada e depois já não senti mais nada, me ajudaram a deitar e Abel empurrou de volta a cadeira pra onde eu estava, eles levantaram uma cortina da minha cintura pra baixo e me monitorizaram toda, olhei minha pressão e vi que não estava nem tão baixa nem tão alta.

– Se você ficar nervosa é pior, confia em mim que vai dar tudo certo, nós vamos começar. – A médica fala segurando a minha mão e eu sorrio.

– Tem certeza que não está sentindo nada? – Abel pergunta e eu concordo com a cabeça, ouvíamos a conversa entre médicos e enfermeiros, e cada camada de pele que a médica cortava ela falava pra mim, Abel tentou espiar o que eles estavam fazendo atras do pano, e começou a ficar mais branco que o normal.

– Eu falei pra você não olhar. – Brigo como quem briga com uma criança, ele estava com os olhos arregalados e suando frio.

– Tinha muito sangue.

– Claro que tem Abel, eles estão me cortando. – Falo irritada e vejo que a cor dele vai sumindo cada vez mais, pego a minha mão e dou alguns tapinhas na cara dele. – Vira homem, não desmaia!

A minha fala pega a equipe de surpresa que começa a rir, e esse momento de descontração foi o suficiente para a cor do Abel voltar ao normal.

– Falta só uma camada para conhecermos o Fe, mamãe. – A médica fala e mais uma vez eu olho no monitor, a pressão continuava na média. – Se preparem para ouvir o chorinho.

Abel deita sua cabeça do lado da minha e respira fundo segurando a minha mão nervoso, e eu por incrível que pareça estava calma, a vontade de ver o Fernando era muito maior do que qualquer medo.

Ficamos juntinhos com as mãos dadas na expectativa de ouvir o chorinho, e em pouquíssimos minutos, ouvimos o choro escandaloso, a médica saiu de trás da cortina com o meu garoto nos braços, pra quem era prematuro ele era gigante, MUITO cabeludo, chorava tão forte que me fez pensar que se eu pulmão estava muito bom, uma das coisas que podem atrasar a alta do bebê prematuro é o pulmão não tão maduro da forma que deveria.

Eu solucei, meu Deus como eu chorei, olhei Abel que estava com o rosto molhado de lágrimas, a enfermeira deu uma limpado na rápida nele, e colocou uma toquinha, me entregando, sentir ele nos meus braços foi a melhor coisa que poderia acontecer na minha vida, vi que nada importava, eu poderia não ter nada do que eu tenho, mas só de ter ele e esse momento, eu era rica.

dangerous | abel ferreira Onde histórias criam vida. Descubra agora