Capítulo 13

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POV'Emma

Ontem mesmo eu tinha dito que pararia de correr atrás de Alyssa como um cachorrinho carente, e até esse momento tenho me mantido firme. Depois de ter me deixado sozinha no jardim dos fundos e ter ido se trancar em seu quarto, tentei continuar sem dar muita atenção pra ela. Voltei para sala e me sentei no sofá para assistir alguns episódios de friends, mas depois de quase uma temporada inteira, cada minuto parecia mais lento e mais difícil de continuar quieta.

- O que houve? - Clara pergunta se sentando ao meu lado. - Você passou o dia todo nesse sofá inquieta, mexendo essa perna sem parar e não para de olhar pra escada.

- Não houve nada, estou apenas entediada. - deito a cabeça em seu colo e ela passa a me fazer cafuné.

- E onde está Alyssa?

- Hm. - murmuro. Não quero falar dela.

- É ela o motivo de você está assim?

Escondo meu rosto para que ela não veja nele minha frustração, mas ela ri quando eu bufo.

- Quando vocês eram pequenas eram tão grudadas que eu achava muito engraçado e fofo. Alyssa não queria se separar de você nem por um segundo.

- E hoje em dia ela me odeia.

- Ela não te odeia, pelo contrário, é apenas amor.

- Diz isso porque a senhora não vê todos os insultos que ela lança contra mim.

- Alyssa é apenas uma criança ainda. - oh. Espero que ela não esteja ouvindo isso. - Está na fase de se apaixonar e agir de forma contraditória que só os adolescentes entendem. Tenha um pouco mais de paciência.

- Não sei se consigo mais compreender pacientemente como fazia antes. - olho em seu olhos e não consigo disfarçar minha tristeza.

- Você a ama muito não é? - ela afasta uma mecha de cabelo do meu rosto.

- Mais do que a mim mesma.

- Por que?

Me surpreendo com sua pergunta.

- Por que você a ama tanto? Alyssa te ignorou por anos, qualquer outra pessoa já teria desistido de tentar reconquistar uma simples amizade de infância.

- Alyssa nunca foi uma simples amizade de infância pra mim. Quando eu fiquei sem meus pais, eu lembro de ter sentido tanta raiva de tudo e de todos. Dentro de mim existia apenas um vazio cinza, mesmo eu sendo muito pequena. Eu me sentia sozinha em um escuro que me assustava muito, e Alyssa foi a primeira pessoa que me fez sentir melhor e me tirou desse lugar que existia dentro de mim mesma.

- Então você tem medo. - ela afirma. Encaro-a confusa. - Você tem medo de perder Alyssa e voltar a se sentir assim.

Tenho? Reflito comigo mesma...Sim. Claro que tenho. As vezes - para não dizer sempre - eu sinto que Alyssa é a única coisa que me mantem viva por dentro, se eu a perdesse...o que restaria?

Não a respondi. Me afundei na minha bolha de reflexão e assim se passou o resto da noite até que eu fosse para casa dormir.

Claro que eu passei a noite inteira em claro olhando pra janela de Alyssa que fica de frente para a minha. Sorrio enquanto lembro das varias vezes em que ficávamos até muito tarde brincando a distância, cada uma em sua própria janela, até que Alyssa por ser mais nova se sentisse sonolenta e me fizesse escalar sua parede para dormir com ela.

No relógio da minha parede são 03:42 da madrugada. Precisarei ir para o galpão as 05:00 como sempre. Tenho apenas pouco mais de uma hora para dormir e sei que não vou conseguir, então tenho duas opções, ir para o galpão diretamente agora, ou escalar a janela de Alyssa como nos velhos tempos e assistir ela dormir até que dê o horário.

Sei que isso parece meio maníaco, assistir alguém dormir. Mas eu passei o dia inteiro sem vê-la, nunca tinha ficado tanto tempo assim porque em outros momentos eu teria ido atrás dela e insistiria até que ela abrisse a porta pra mim. Invés disso, tentei fazer o contrário e ignora-la também. Em consequência disso, aqui estou eu, escalando uma janela no segundo andar apenas para vê-la por alguns minutos.

Quando chego em sua janela ela está trancada, mas isso não me é um empecilho, há algum tempo aprendi como abri-la do lado de fora. Assim que abro o trinco passo para parte de dentro antes que eu perca o equilíbrio. O quarto está bem escuro, preciso acostumar meus olhos até conseguir identificar um amontoado embaixo das cobertas. Me aproximo mais em passos silenciosos e contradizendo o que eu disse que iria fazer - apenas observá-la um pouco - deslizo com cuidado para debaixo da coberta, abraçando Alyssa por trás. Eu só não esperava por uma coisa: Que Alyssa estivesse dormindo nua.

Prendo minha respiração até me sentir sufocar. Quando tentei abraçá-la minha mão acidentalmente tocou em seu seio nu. Rapidamente a afastei de lá e pousei em seu quadril...também nu. É assim que sei que não há nenhuma peça de roupa em seu corpo.

Mil vezes inferno. Por que diabos tive que vir aqui? E desde quando Alyssa dorme desse jeito? - sussurro em meus pensamentos como se ela pudesse ouvi-los.

Preciso sair daqui antes que ela acorde. Tudo se tornaria mais constrangedor do que já é. Tento sair debaixo da coberta, mas, no momento em que faço o movimento, Alyssa se vira pra mim ainda sonolenta. Paro de respirar rezando pra que ela não acorde e me veja aqui. Se isso acontecer ela teria mais um motivo para nunca mais falar comigo e eu certamente cederia ao seu desejo porque nem eu mesma sei se terei coragem de olhá-la nos olhos outra vez depois desse fatídico momento.

Sendo a pessoa mais azarada que sou, o universo não ouviu meu pedido e Alyssa abre seus olhos lentamente.

O que eu faço?

- Aly...- começo meu lamento.

- Você não cansa de sempre invadir os meus sonhos?

Ela sussurra com os olhos bêbados de sono. Em seus lábios se encontra um pequeno, quase invisível sorriso. Faz exatos dez anos desde a ultima vez em que Alyssa sorriu pra mim. Isso me deixou...engulo o nó de emoção que se formou em minha garganta. Eu não deveria me sentir assim por algo como isso.

Volto a realidade onde eu lembro que preciso me tirar dessa situação embaraçosa e aproveitando que ela ainda está meio dormindo, irei tentar sair sem que ela perceba que isso não é um sonho.

Entretanto, foi sua próxima frase, com sua voz rouca e arrastada que me fez congelar meus movimentos.

- Para onde você está indo? Não vai me beijar hoje?

Viro-me lentamente para ela outra vez e agora seus olhos estão mais abertos. Se eu não soubesse que Alyssa tem o costume de ser meio sonâmbula poderia jurar que ela está tentando me pregar uma peça. Desde pequena ela sempre acordava confundindo a realidade, com o que tinha sonhado. Eu só nunca achei que descobriria por meio disso que Alyssa sonha comigo...a beijando.

Eu poderia ir embora, sei que amanhã ela achará que tudo não passou de um sonho. Mas minha curiosidade me fez querer saber mais sobre o que ela costuma sonhar comigo. Eu achei que ela me odiasse, mas ninguém sonha com alguém que odeia...não de forma constante como parece ser pela sua fala...e não a beijando também.

Por isso, resolvo encenar um pouco. Dizem que todo sonho tem um fundo de realidade, quero descobrir o que na vida real leva Alyssa a sonhar comigo desse jeito.

- Você quer que eu te beije?

Ela pisca os olhos com lentidão.

- Sim.

Te Sigo, BabyOnde histórias criam vida. Descubra agora