POV'Emma
Um pouco mais a frente, estacionei o carro em frente a uma sorveteria. Peguei um sorvete e me sentei em uma mesa perto da janela. Não sei quanto tempo passei observando a rua que a cada minuto se tornava mais vazia, já levantei inúmeras vezes para pegar um pouco mais de sorvete. A senhora que me atendeu me olhou com pena, parecendo querer perguntar o motivo da minha tristeza.
Observo o carro que comprei há alguns anos. Sinto falta da minha moto, de pilotar e sentir o vento contra meu rosto. Sempre que eu me sentia assim eu saía sem rumo, apenas deixando que minha velha motocicleta me levasse. Decidi comprar um carro porque Alyssa me pediu, disse que se sentia mais confortável se usássemos um carro para nos locomover já que era eu quem sempre a levava para todos os lugares e, como sempre faço, realizei seu desejo. Agora são poucas as oportunidades que tenho de tirar minha moto da garagem.
Olho para meu relógio. Já faz três horas desde que deixei Alyssa lá. Como uma grande ansiosa, voltei para onde a deixei e saí do carro para a esperar, eu não sabia que horas ela voltaria. Poderia escolher ficar lá com ele depois de ter terminado o filme e demorar mais três horas.
Espero impacientemente por ela por mais quarenta minutos. Quando estava pensando em ligar para saber se estava tudo bem, vi sua silhueta passar pelas portas. Ela não me viu, nem sequer olhou em minha direção. Ainda mantinha um sorriso ao conversar com ele, mas o lugar onde meus olhos pousaram fixamente foi em suas mãos dadas. Aquilo teria facilmente partido meu coração, se o que aconteceu em seguida não o tivesse quebrado.
Ele parou, fazendo ela parar em sua frente, acariciou sua mão que estava segurado e com a outra fez um carinho em sua bochecha. Ele se aproximou, insinuando o que iria fazer. Prendi minha respiração esperando que ela se afastasse, mas ela não o fez. Ele se aproximou mais e entendendo sua permissão...a beijou.
Senti como se o chão desabasse sob meus pés. Meu coração acelerou de um jeito ruim e se apertou como se alguém o estivesse machucando fisicamente. Não consegui desviar meus olhos para diminuir meu sofrimento. Observei por todos os longos cinco segundos que mais pareceram cinco horas.
Quando eles se afastaram, envergonhada, ela desvia os olhos dos seus e consequentemente os para em mim. Sua surpresa é notória por mim ver aqui, ela olha novamente para o garoto a sua frente e depois novamente para mim, percebendo que acabei de presenciar o beijo dos dois.
Me desencosto do carro e entro, sentando em meu lugar de motorista. Sinto meu estomago embrulhar, se havia alguma borboleta em meu estomago, Alyssa acabou de jogar ácido em todas elas.
Não demora muito para que ela esteja sentada ao meu lado.
- Não achei que você estivesse falando sério quando disse que me esperaria.
Ela diz olhando para frente. Não a respondo. Não sinto a menor vontade de dizer nada, nem de olhar para ela. Sei que não é como se eu tivesse presenciado uma traição, já que não existe nenhum relacionamento entre nós...mas meu coração não entende assim. Ele chora como se houvesse sido.
Ligo o carro e faço o caminho até em casa. Paro em frente a sua porta mas ela não se mexe para sair.
- Você não vai descer? - Ela pergunta, já que continuo parada sem desligar o motor.
- Não. - minha voz sai rouca. Amargurada.
- Para onde vai?
Sem uma resposta, me inclino sobre ela e abro a porta ao seu lado, tiro seu sinto e volto para minha posição, ainda calada. Um claro sinal de que quero que ela desça.
Sem mais perguntas ela sai, espero apenas ela bater a porta e saio o mais rápido possível. Não sei para onde ir, apenas dirijo por muito tempo, rodando, e rodando, até me perder. Sinto o vazio se apoderar de mim, um tipo de vazio diferente, como se eu tivesse acabado de perder meu mundo.
Meio que perdi.
Eu já sabia que em algum momento precisaria lidar com isso, ver Alyssa com outra pessoa, mas no fim, eu não estava preparada para isso ainda. Matar uma pessoa foi muito mais fácil do que ver outra pessoa beijar o amor da minha vida.
Não sei quanto tempo passou, quando finalmente cansei, coloquei no gps o endereço de casa e fiz o trajeto.
Sei também que Alyssa não tem culpa pelo o que estou sentindo. Ela não sabe sobre os meus sentimentos e o que aconteceu entre a gente não me dá o direito de querer algum tipo de consideração. Ela está livre para escolher ficar com quem desejar. Eu tenho apenas que aceitar isso.
Além do mais, fui eu quem disse que era errado e que ela precisava conhecer outras pessoas. Só o que me resta agora é engolir minha decepção e disfarçar minha tristeza.
Já é muito tarde quando estaciono o carro na garagem. Com minha própria chave, abro a porta da casa ao lado da minha, e entro indo diretamente para os fundos, para o lugar onde sempre gosto de deitar para pensar. Todos já devem estar dormindo, por isso a casa está toda escura.
Chego onde fica a rede, mas noto seu balançar e um certo peso dentro dela. Com cautela, me aproximo afim de ver quem era a pessoa que estava a essa hora no meu querido lugar. Olho para dentro e a cena me comove. Uma Alyssa encolhida e adormecida, sendo ninada, embalada pela rede como eu tanto gosto de ficar.
O que ela está fazendo aqui?
Respirando fundo e sem coragem de a acordar, chego mais perto e a pego em meus braços com cuidado. Como um bebê em meu colo, levo ela para sua cama e a cubro. Antes de sair deixo um beijo suave em sua testa, encosto a porta de seu quarto, e volto para rede, dormindo lá até o amanhecer do dia.

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Te Sigo Baby
Storie d'amore+18 As vezes eu paro para refletir sobre o tempo. É algo que está a nossa volta mas não sentimos, não vemos, ele apenas passa por nós e quando nos damos contas já estamos mais velhos e com novos pensamentos, novas perspectivas e novos desejos. As pe...