Capítulo 37

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POV'Emma

Quando acordo, Alyssa não está ao meu lado. Ainda estou nua por causa da nossa noite. Tapo meu rosto me lembrando de tudo o que fizemos...ou melhor, do que eu fiz com ela. Não achava que eu era capaz de fazer aquilo, daquele jeito tão vulgar. Eu adorei e espero que ela tenha adorado também. Apesar de que por suas expressões, consigo ter uma ideia de que ela deve ter gostado bastante.

Dispensando meus pensamentos, me levanto e tomo um banho antes de ir procurar por ela. Quando chego a sua casa, encontro ela em pé, em frente a piscina olhando para o horizonte. Em suas mãos há uma caneca que ela leva aos lábios bebendo o líquido dentro dela. Ela veste um short jeans e uma das minhas blusas brancas, seu cabelo está preso em um coque alto enquanto alguns fios caem em sua nuca e rosto.

Tão linda. Como pode alguém ser tão perfeito?

Me aproximo sorrateiramente e a abraço por trás, seu corpo dá um pulo pelo susto. Beijo sua nuca, sorrio quando vejo sua pele se arrepiar.

- Por que está tão cheirosa assim pela manhã? - sussurro em seu ouvido. Meu nariz, viciado em seu cheiro, desliza pela região do seu pescoço.

Tão cheirosa. Amo o seu cheiro de bebê.

- Eu sempre estou cheirosa. - estalo a língua entre os dentes.

- Não seja convencida, baby. - descanso meu queixo em seu ombro, em nenhum momento meus braços a soltam. - Porque me deixou sozinha na cama?

- Você parecia dormir bem, não quis te acordar.

Olho para seu rosto de perfil, seus olhos nunca deixaram o horizonte e percebo que em nenhum momento ela me encarou.

- O que houve?

- Nada.

- Você parece pensativa. Tem certeza? Somos namoradas agora, precisamos ser sinceras uma com a outra.

Assim que termino de falar, ela me olha. Não gostei do seu olhar.

- Tudo bem, você quer saber o que me incomoda?

Balanço a cabeça indicando que sim.

- Então me diz, por que você tem uma arma?

O fato de em nenhum momento ela ter me questionado sobre isso ontem, me fez jurar que a bebida a tinha feito esquecer. Pelo visto me enganei.

- Eu comprei.

- Por que?

- Proteção.

Odeio ter que mentir para ela mais uma vez. Isso já está me corroendo por dentro.

- Sua proteção?

Tento entender melhor sua pergunta, ou o tom que ela usou para perguntar.

- Não. - dou a única resposta sincera até agora.

Ela revira os olhos bufando, tira meus braços de sua cintura e se afasta.

- Emma, essa sua obsessão pela minha segurança está passando dos limites, você não acha?

- Não, não acho.

- Você precisa parar com isso! Está me deixando preocupada! Toda esse seu excesso de cuidado está me sufocando!

Ela tem razão sobre isso já está passando dos limites, mas ela não me entende porque não sabe a verdade, eu já deveria imaginar que um dia ela começaria a se sentir assim.

Travis está certo, preciso contar a verdade para ela.

- Eu preciso te contar uma coisa. - fixo meus olhos no chão, sem coragem de dizer olhando em seus olhos.

- Que coisa?

Respiro fundo, tento puxar a coragem dentro de mim. Antes mesmo de começar a dizer meus olhos já se encheram de lágrimas, estou com tanto medo dela me deixar depois disso, mas não suporto mais continuar mentindo.

- Vem, vamos sentar.

Me sento em umas das espreguiçadeiras e ela se senta em outra de frente para mim. Ainda não a olho, deixo que meus olhos se percam na piscina e começo a falar.

- Existe um motivo para eu ser super protetora com você...eu não vim morar aqui do lado coincidentemente, foi tudo de propósito. Como eu te contei, meus pais me abandonaram em um beco quando eu tinha dois anos, depois desse dia eu morei por mais dois anos em um orfanato antes de fugir. Três dias depois que eu havia fugido, uma pessoa me encontrou, mas não foi Andrea como eu havia dito...- tomo um pouco mais de coragem antes de continuar. -...foi seu pai.

Não preciso olhá-la para ver sua expressão de confusão. Sem esperar que ele me interrompa, continuo:

- Ele me encontrou e foi gentil ao me levar para comer. - mexo meus dedos nervosamente. - Nesse dia, ele me ofereceu um acordo...me pediu para virar melhor amiga de sua filha e cuidar dela, em troca ele me tiraria da rua, me daria casa, comida e educação...dinheiro. - falar isso agora em voz alta parece tão patético. Sei que não estou ao lado dela hoje por esse motivo, mas é vergonhoso explicar para ela o motivo que me fez aproximar. - Eu era só uma criança de quatro anos, nem entendia direito o que ele estava me pedindo, mas entendi o que ele estava oferecendo então...não vi motivos para não aceitar. Você tinha apenas um mês de vida e...

- Para. - ela diz friamente.

Olho pra ela pela primeira vez. Ver as lágrimas em seus olhos faz eu não conseguir mais segurar as minhas. Seus olhos me olham com tanta decepção que eu preciso desviar do tanto que me dói ter ela me olhando assim. 

- Aly, eu...

- Não fala nada. - sua voz falha, as lágrimas descem incessantes. Ela não parece com raiva como eu achei que ficaria, ela só está...triste. Isso parte meu coração. - Vai embora.

- Não! me escuta, por favor.

- Eu já escutei o suficiente. - ela sorri amargamente. - Todo seu amor e cuidado, tudo isso sempre foi comprado pelo meu pai.

Seu soluço me quebra, um sentimento ruim que só senti uma vez em toda minha vida...quando percebi que meus pais não iam voltar depois de me abandonar naquele beco.

- Eu achava que você sempre fez tudo isso porque me amava mas...sempre foi tudo uma mentira. Você não me ama, você teve a obrigação de me amar.

- Não!

- Vai embora, Emma, eu estou te dispensando do seu emprego. - ela funga, limpando as lágrimas. - Some da minha vida, e nunca mais ouse se aproximar de mim.

Suas palavras foram lançadas com raiva. A raiva que eu achei que veria desde o inicio, ela está se manifestando agora em suas expressões. Ela tenta se levantar mas seguro seu braço tentando abraçá-la.

- Aly...

- Me solta. - ela puxa seu braço bruscamente. - Não encosta em mim, eu não preciso mais dos seus toques comprados.

Soluço deixando que as lágrimas desçam desesperadas. Em meu peito mais parece que foi cravada uma faca, me sinto como se estivesse tentando respirar embaixo d'água, meu coração se afunda a cada uma de suas palavras. Alyssa nunca falou assim comigo, nem quando ficou anos brigada comigo.

No fundo, eu acho que ela está certa em me odiar, era por isso que eu não queria contar a verdade, porque eu sabia que ela me odiaria e eu concordaria com esse sentimento. Ela tem toda razão de se sentir assim, e eu devo aceitar tudo o que ela me pedir. No fim, acho que já tive tudo o que eu poderia ter, em vinte anos Alyssa me deu muito mais do que eu queria ou precisava. Me deu um motivo para continuar viva, me deu amor e me deu um motivo para amar. A única coisa que posso fazer agora para retribuir é dar a ela o que está me pedindo.

- Tudo bem, meu amor. - sorrio tristemente e enxugo minhas lágrimas. - Eu...céus, eu amo você, nunca se esqueça disso, por favor. Meu amor por você nunca foi comprado e...- soluço. -...eu espero que você possa me perdoar um dia.

Olhando-a uma ultima vez, gravo em minha memoria cada detalhe do seu rosto, eu só não queria ter gravado seus olhos vermelhos e seu olhar triste. Não era assim que eu queria que fosse quando nos separássemos.

Sem coragem para ir embora, forço meu corpo a passar por ela sabendo que essa é a ultima vez em que a verei.

Te Sigo BabyOnde histórias criam vida. Descubra agora