Capítulo 29

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POV'Emma

- O que houve entre você e Alyssa? - Clara pergunta entrando na cozinha.

Dou de ombros como uma resposta de que não sei e continuo bebendo minha água. Ela me olha como se não tivesse gostado da minha resposta e sai, voltando segundos depois puxando uma Alyssa pelo braço.

- O que está acontecendo entre vocês duas?

Seu tom é serio. Ela olha para nós duas esperando uma resposta. Encaro Alyssa, mas desvio quando ela me olha de volta.

- Não vão dizer nada?

Continuamos quietas.

- Certo, então. Quando vocês brigaram quando eram mais novas, eu nunca me intrometi e deixei que vocês se resolvessem, mesmo levando anos tendo que aturar todas as brigas de vocês duas. Dessa vez, eu não vou admitir. - sua cara é de muito brava. Olho novamente para Alyssa e ela me olha cabisbaixa. - Eu quero que vocês duas subam agora para o quarto, e só saiam de lá quando tiverem feito as pazes.

Ela aponta para a direção da escada, ainda com sua expressão séria. Clara é um amor de pessoa, muito gentil, tão delicada quanto Alyssa...mas quando fica brava, apenas alguém corajoso para a confrontar. Nem Travis se atreve.

De cabeça baixa, eu e Alyssa passamos por ela, uma atrás da outra com passos lentos, igual como quando éramos crianças e ela nos dava broncas como agora.

Subimos caladas e quietas, Clara nos segue até a porta do quarto de Alyssa.

- Só saiam daí quando não estiverem mais com essa cara de cachorro abandonado. Não quero mais ver vocês duas assim na minha frente, já suportei por cinco dias esse clima de morte. Andem!

Entramos no quarto e ela fecha a porta, nos deixando sozinhas.

De início ficamos paradas em pé. Alyssa perto de sua cama e eu ainda perto da porta. Fico de braços cruzados esperando que ela diga algo mas nada acontece, então eu também não digo. Não que eu tenha algo para dizer.

Quando cansei de ficar em pé, sentei-me no chão e cruzei minhas pernas como índio. Passei a fazer círculos no chão com a ponta do dedo imaginando formas geométricas. Alyssa se deitou em sua cama e eu, depois de duas horas sentada, comecei a pensar no quanto ela é macia, com certeza sua bunda não deve está doendo como a minha.

Mais uma hora se passou e eu tive que deitar no chão porque não suportava mais ficar sentada. Alyssa ainda não disse nada, me pergunto se ela dormiu porque já faz bastante tempo que ela nem se mexe.

Observo o teto do seu quarto. Tem várias estrelas coladas nele, ao longo dos minutos começaram a acender já que está anoitecendo e a falta de claridade faz com que elas brilhem. Seu quarto ainda é bem fofo e infantil. Ela não mudou nada nele. Sua cama ainda tem várias almofadas azuis que é a cor tema do seu quarto. Azul celeste. Combina com ela, ela sempre amou essa cor.

- Você sente falta dos seus pais? - sua voz ecoa me pegando de surpresa.

Por que ela perguntou sobre isso tão repentinamente? Ela nunca perguntou sobre isso antes.

- Não. - respondo.

Ela se move para me olhar. Em sua expressão há um misto de dúvidas.

- Por que?

- Eles não foram bons para mim. - sou sincera.

- Você não deveria os perdoar já que eles morreram?

Ela apoia o queixo em sua mão e pende a cabeça pro lado, seu cabelo cai um pouco em seu rosto. Completamente linda.

- Na verdade eles não morreram. - não sei o que me fez contar a verdade. Talvez seja o feitiço da sua beleza que ela acabou de lançar. - Mas mesmo se tivessem, não os perdoaria.

Ela me olha com ainda mais estranheza.

- Achei que os seus pais tivessem morrido em um acidente e por isso você veio morar com sua tia.

- Mas não foi isso. - desvio meus olhos. - Eles me abandonaram. O pior de tudo, é que eu tinha apenas dois anos. - rio amargamente. - Me abandonaram em um beco como se fosse um rato, não se deram o trabalho nem de olhar para trás. Lembro como se fosse ontem, tudo ainda está muito vívido em minhas lembranças. Aquela noite...foi a pior noite da minha vida.

Sem perceber que ela se aproximou, sinto sua mão quente entrar em contato com meu rosto, limpando uma lágrima que também não percebia que havia escorrido.

Me sento e limpo meus olhos para que as lágrimas não desçam. Ela continua sentada a minha frente, sem se afastar.

- O que aconteceu depois? - sua voz trêmula me faz perceber seu olhos vermelhos.

- No outro dia eu saí andando porque estava com fome e uma moça me encontrou. Ela perguntou se eu estava perdida e me levou até a polícia, mas foi em vão porque nunca encontraram os meus pais. Eles me abandonaram lá e desapareceram do mapa. Depois de alguns dias eu fui enviada para um orfanato, pensei que finalmente ia me sentir acolhida mas foi só mais um lugar onde fui maltratada.

Suas mãos tocam as minhas, sua cabeça está baixa mas eu sei que ela está chorando. A história triste é minha mas é ela quem chora.

- Quando eu não suportei mais ficar lá, eu fugi. Eles não gostavam de mim, diziam que eu era muito à frente da minha idade e o meu jeito de pensar não era bom porque eu deveria ser ingênua como as outras crianças. Por isso eles me puniam sempre que eu fazia algo que apenas uma criança mais velha poderia fazer. Quando eu finalmente fugi, morei na rua por três dias antes do T... - paro de contar, de um jeito bem sútil mudo o que eu iria dizer. - ...Antes da tia Andrea me encontrar.

Passo a mão por suas bochechas, limpando suas lágrimas. Lembrar de tudo isso fez minhas próprias lágrimas voltarem a descer.

- Imagino o quão horrível deve ter sido. - ela funga.

- Eu me senti muito sozinha. A sensação de abandono é algo que...fez eu me sentir descartável. Nem meus próprios pais me quiseram, por que outra pessoa iria querer? - dou de ombro.

- Mas quando a tia Andrea te adotou você voltou a se sentir melhor...né?

Nego com a cabeça.

- O único momento em que realmente me senti melhor...foi quando te conheci. - fito seus olhos.

Suas mãos em nenhum momento deixou de acariciar as minhas. Já faz tempo desde a última vez em que tivemos qualquer tipo de contato.

- Quando sinto seu toque assim...me faz lembrar o porquê de um minuto ao seu lado ser capaz de apagar os primeiros quatro anos sombrios da minha vida.

Te Sigo, BabyOnde histórias criam vida. Descubra agora