Capítulo 39

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"Zoro"

Subo os degraus da escada de madeira, ergo minha cabeça e vejo Hatta, sentada com as pernas cruzadas, ela está olhando para o céu, para as estrelas, sorrindo, como se aquilo fosse o suficiente para ela.

Ando até ela, ela viro o rosto na minha direção, seu sorriso não é sincero, é como se estivesse escondendo uma tristeza dentro dela, uma que ela contou lá em baixo, uma que ela contou quando eu estava dormindo.

- Por que não quis ficar lá embaixo com a gente? - questiono.

Essa não era a pergunta que eu queria fazer, era outra, mais foi essa que saiu e pela primeira vez, seu sorriso some em um piscar de olhos, sento ao seu lado, seu cabelo está solto atrás dos ombros e me questiono se eles cresceram, já que bate na sua cintura, alguns cachos se formando na ponta, ela está olhando para o pomar.

- Porque... - ela faz uma pausa rapidamente. - Lembrar do meu irmão machuca. - ela completa. - Não queria que ninguém visse o quanto... - ela faz outra pausa, baixa a cabeça e funga, fecha os olhos e vira para mim, os abrindo, lágrimas estão escorrendo. - O quanto eu estou quebrada.

Ela volta a olhar para frente, nego com a cabeça ainda olhando para ela.

- Você não está quebrada. - digo, ficando mais ainda ao seu lado. - Você não tem culpa do seu irmão ter indo embora. - completo.

Ela nega com a cabeça.

- Não é só por isso que eu me sinto quebrada. - ela fala, com lágrimas escorrendo por suas bochechas.

Ela não fala mais, ela fica em silêncio.

- Você era apenas uma criança. - digo, sabendo muito bem a onde ela vai chegar.

Ela me olha sem entender, se perguntando como eu sabia daquilo.

- Você... - ela faz uma pausa. - Você ouviu minha história aquele dia? - me questiona.

Confirmo com a cabeça, seus lábios ficam entre abertos, solta uma risada seca.

- Me deve achar fraca! - diz, sem olhar para mim.

Nego com a cabeça.

- Ao contrário! - ela me olha, procurando a única verdade que eu estava dizendo. - Te acho a garota mais forte que eu já conheci. - digo.

Ela pisca, sorri de canto, vejo o brilho da diversão brilhar em seus olhos.

- Até mais forte que a Kuina? - pergunta.

Solto uma risada, sorrindo, olho para o pomar mais à frente.

- É! Mais forte que a Kuina. - confirmo sua pergunta.

O silêncio fica entre a gente, por segundos, ouço ela se aproximar mais ainda de mim, ela estica a perna e funga, coloca a cabeça no meu ombro e respira fundo.

- Estou tão cansada! - fala sonolenta. - Cansada de tentar ser a melhor, cansada de caçar uma pessoa que não quer ser encontrada. - sabia que ela estava falando do irmão e dos pais. - Estou cansada disso tudo. - ela provavelmente estava preste a dormir.

Som de passos subindo a escada de madeira fez ela tirar a cabeça do meu ombro e olhar na direção da escada.

'Se for o Sanji, agora eu mato!' penso.

Luffy surge logo em seguida, com o chapéu na cabeça, ele olha para nos dois, nos ignora e passa por nos, senta mais a frente, com as pernas dobradas, Hatta olha para as mãos, provavelmente esperando Luffy dizer algo, ela se ajoelha e engatinha até Luffy, volta a sentar e fica de pernas cruzadas, viro o rosto para Luffy.

- E aí, o que ela lhe disse? - questiona Hatta.

Luffy está olhando para o pomar, ele ergue e olha para as estrelas, por algum motivo, eu sabia que teria que esperar Luffy dizer alguma coisa, coloco a catana na frente e fico esperando ele responder, Hatta sabia o mesmo, sabia que teria que esperar Luffy tomar uma decisão do que faria, por isso, continuou olhando para as estrelas, olho para as suas costas, a faixa da ferida feita por Arlong estava visível, mais ela não estava reclamando de dor e se estivesse, não estava dizendo nada.

Eu sabia que, por mais que Hatta e eu estivéssemos esperando Luffy dizer algo, percebi que ele não iria dizer, pego a catana e me movo para levantar.

- Ela era só uma criança. - Luffy diz, antes mesmo que eu me levantasse.

Paro e fico parado, coloco a catana na frente do meu corpo novamente, Luffy agora olha para o pomar, Hatta faz o mesmo, esperando o que Luffy vai dizer.

- Agora não é mais. - digo, quebrando aquele silêncio. - Ela fez uma escolha. - respiro.

- Tô cansado de ouvir sobre a Nami pelas outras pessoas. - Luffy diz, Hatta ainda estava em silêncio.

- Ela mandou você ir embora, Luffy. - digo.

Luffy vira o rosto para mim sobre o ombro.

- E você também. - ele diz.

Respiro fundo e concordo com ele.

- A verdade é que ela mandou todos nós embora. - a voz de Hatta sai como um sussurro.

Se eu não a conhecesse, diria que ela estava tímida por conversar com a gente, no entanto, agora, ela só deve estar cansada mesmo. Luffy olha para ela concordando com a cabeça, ela olha para ele e sorri, ela volta sua atenção para o pomar.

- Como sabe que ela não está mesmo com o bando do Arlong? - questiono, é Hatta quem nega com a cabeça e dá de ombros, de costas para mim.

- Não sabemos! - completa ela.

- Do mesmo jeito que eu sabia que você não ia me matar quando te tirei daquela cruz. - Luffy começa a explicar. - Do mesmo jeito que eu sabia que Hatta precisava sair daquele lugar, mesmo esperando alguém voltar. - ele olha para Hatta que olha para ele. - Do mesmo jeito que eu sabia sobre o Usopp e o Sanji. - ele completa.

Ele olha de relance para o pomar.

- É, não sei quase nada do cozinheiro. - digo.

Hatta solta uma risada rápida, no entanto, foi uma risada gostosa de se ouvir.

- Eu sei que a Nami é do bem. - Luffy completa, soando como se fosse importante. - E ela tem que saber disso.

Puxei o ar com força, apoiei o braço sobre o joelho da perna que agora estava dobrada, Hatta apoiou o cotovelo sobre o joelho e a cabeça na mão, se não tomasse cuidado, ela dormiria ali mesmo.

Dava para ouvir a conversa do Usopp com o Buggy, a risada da Nojiko com as trapalhadas e a voz do Sanji que tentava amenizar as coisas.

Se aqui em cima estava o maior silêncio, ali embaixo estava o oposto disso. Se era isso que Luffy procurava em suas aventuras, ele havia encontrado e por algum motivo, todos nos encontramos algo para continuar nessa viagem, cada um tinha seus sonhos, Luffy e Hatta me fizeram acreditar neles como nunca e Hatta, bem, me fazia lembrar de Kuina, por mais que Hatta fosse calma e tranquila, ela também era agressiva e guerreira, deixou de cuidar da própria ferida para salvar Luffy e a cuidar de mim, isso a quase matou, quase perdi alguém que eu gostava novamente.

Primeiro, Kuina e quase perdi Luffy e Hatta, posso não ter estado do lado de Kuina quando ela morreu, me culpo por não ter estado com ela e ter a ajudado, ela teria me batido se eu tivesse salvado ela, mas...

Olho para Hatta.

Nem morto, eu ia deixar Hatta sozinha, não mais. Hatta não pode saber, que por mais que lute, eu vou lutar cem vezes mais forte que ela e, se ela precisar...

Olho para a minha catana, olho para Hatta novamente.

Eu seria a catana de que ela precisa para vencer a todos e a tudo que ela for enfrentar.

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