04| Cervidae

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Escutem no final: Stolen Dance - Milky Chance

Sentada em uma das poltronas da casa de Eliot, vagava meus olhos em cada canto daquela sala minuciosamente

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Sentada em uma das poltronas da casa de Eliot, vagava meus olhos em cada canto daquela sala minuciosamente. Tudo parecia interessante, até mesmo um enfeite na parede, sendo um cervidae empalhado. Poderia chutar e dizer que fora um animal morto em uma caça, mas não havia nenhum outro vestígio além da cabeça de cervo pendurada na parede bem à minha frente. Normalmente, quando existia esse tipo de "esporte" na família, todas as paredes eram repletas de diversas espécies de animais. Pelo menos é o que eu acredito e vi em filmes. De todo modo, agradeço que tenha somente um. Não é uma prática que aprovo.

Os olhos do cervo pareciam ainda vívidos, como se estivessem me observando fervorosamente. E, por estar totalmente vidrada nele, como se fosse a coisa mais legal a se fazer naquele instante, apenas o observava de volta.

Estar focada no cervo morto e decapitado fez com que todos os ruídos ao meu redor cessassem. Ainda que a dor de cabeça estivesse presente — mesmo que mínima, só para me lembrar de sua existência —, não havia mais clarões me assombrando. Cate e Violet desistiram de chamar por mim e foram atrás dos outros. Havia aproximadamente doze pessoas naquela casa, contando comigo. Não sabia exatamente dizer o horário, mas pela sensação e pelos diversos ocorridos naquela noite de quarta-feira, deveria ter passado da meia-noite. Estalo o pescoço e dou uma última olhada no cervo.

Era real, ou falso? Considero um gosto esquisito para decoração de qualquer maneira. Certeza de que eu levaria um susto toda a noite se me deparasse com isso.

Me levanto, agora decidida a me enturmar. Eu não iria conseguir fugir da presença do irmão de Nicole para sempre, muito menos sair como a introvertida que distribui socos em homens — mesmo que tenha sido merecido. Ele também respeitou o meu espaço, e no caminho cedeu seu carro para uma carona, não abrindo a boca em momento algum. Também estava me sentindo envergonhada por ele ter me visto em transe e fugido sem ao menos dizer algo. Fora toda a confusão com o ex-namorado de Violet. Conseguia até prever — sem precisar das visões — os murmurinhos que me rondariam pelo campus na manhã seguinte. Respiro fundo e foco nas vozes e risadas que vinham da parte externa da casa. Caminho até a cozinha, seguindo o som da conversa animada que estavam partilhando, dando direto na área dos fundos. Todavia, queria beber alguma coisa antes de fingir que quero socializar. Nada que contenha etanol, obviamente.

Eliot disse que poderia me sentir em casa, e faria exatamente isso; abriria os armários e a geladeira à procura de algo que fosse agradável ao meu paladar. Na enorme geladeira de duas portas, notei apenas uma garrafa de leite e uma bebida láctea de nozes, entre outras vasilhas cobertas por papel insulfilme. Fiz uma careta por não me interessar em nada, indo agora para a parte dos armários. Uma caixa entre as de cereais e diversas papinhas de neném me chamou atenção. Eliot tem uma irmã? Ficaria na dúvida, por não ter ninguém de sua família em casa.

Um chá preto, mas nenhum outro sabor. Nunca bebi em toda a minha vida, mas poderia ser apetitoso. E também fora o que meu médico receitou no lugar dos calmantes. Não fazia ideia para o que servia, mas também não quis ler as instruções e os ingredientes no rótulo. Beberia chá e ponto. Retiro do armário e vou à procura de uma chaleira, visualizando uma sobre a pia. Verifico se precisa lavar, não tendo necessidade. Seu interior está limpo. Encho com um pouco de água da torneira e ligo o fogo no botão automático do fogão. Recolho uma xícara pendurada próximo à pia e a deixo sobre o balcão, me sentando no mármore branco em seguida. Não iria esperar que a água fervesse estando em pé.

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