É segunda-feira, e estou caminhando em passos largos em direção à academia de boxe que Damon herdou de seu pai. Sinto-me exausta, mas preciso cumprir nosso acordo: treinar e abandonar os calmantes, mantendo meu organismo 100% limpo e o corpo em movimento.
Meu domingo foi terrivelmente difícil. O caminho para casa foi silencioso, e mesmo que Violet tenha feito vários planos e Damon tenha tentado trazer Leslie para me animar, minha mente continuava confusa. Sentia-me extremamente envergonhada pelo que meus convidados presenciaram. Nunca levamos ninguém para a casa de Neo Valley e, quando acontece, são interrogados como criminosos e ainda presenciam uma discussão como se fosse uma peça de teatro.
Uma grande discussão familiar. E foi o primeiro desentendimento iniciado por mim, a filha que sempre aceitou tudo calada, sem contestar uma vírgula. Apesar de tudo, perdoei minha mãe e, de certa forma, compreendia seus motivos. Ela também estava sofrendo, e só Deus sabe o que vivenciou durante tantos anos. Perder a irmã que considerava sua melhor amiga na infância deve ter sido extremamente doloroso.
Meu peito aperta só de imaginar Violet sofrendo com a minha morte. E nem posso pensar em Caterine, que me recebeu de braços abertos, assim como a minha irmã e seu humor sombrio. Eu as amava mais que tudo na vida e não aceitaria deixá-las sem antes lutar com todas as minhas forças. Às vezes me sinto cansada por tudo o que passo por conta das visões, mas estar sem os efeitos dos calmantes me fez enxergar tudo ao meu redor de um jeito diferente, com mais vida.
Iria descobrir o motivo de as mulheres da nossa família nascerem com essa maldição — ou dom. Iria investigar onde meus avós moravam e me aprofundar em tudo sobre minha linhagem. Quero saber mais sobre essa lenda envolvendo as visões. Não questionei mamãe por isso, por ela estar fragilizada e ser um péssimo momento. Mais do que nunca, estava disposta a controlar minhas visões e descobrir por que, entre tantas pessoas, eu fui a escolhida. Sei que Violet se sentiu aliviada por não ser a irmã mais velha, já que as visões surgem dessa forma.
Fui a sortuda da vez. Rio, mais por achar cômico do que engraçado.
Damon estava disposto a trazer Leslie, mas o convenci do contrário, e ele aceitou. Seria inviável deixá-lo que cuidasse de meu cão. Ele precisava de atenção e uma rotina, e não seria justo jogá-lo em uma família que teria que se moldar e acostumar com sua presença. Agora sinto falta da proteção do meu cachorro, porém sei que ele está em boas mãos. Meus pais jamais o maltratariam e sempre me mandam vídeos dele. Ele me protegia e sabia que eu era diferente dos demais.
No momento, estou caminhando alegremente só em saber que verei Damon, poderei beijá-lo e ver seu corpo suado enquanto me ensina e treina comigo. Demos apenas um beijo casto ao nos despedirmos na noite anterior. Ele me dispensou de uma forma carinhosa, alegando que eu precisava descansar mais do que ninguém, e acatei sem hesitar. Desmaiei assim que cheguei ao dormitório.
Visualizo a fachada da academia, que não está vazia. Ouço perfeitamente os gritos e rugidos vindos de dentro do enorme espaço, sem esquecer de dizer das motos, carros e bicicletas estacionados no lugar organizado e separado para isso. Ao adentrar a academia, retiro os chinelos e piso no tatame. Há um grupo de pessoas em volta do ringue, enquanto dois rapazes fortes lutam dentro dele, no canvas. A voz de Damon ressoa com alguns comandos firmes, andando de um lado para o outro, inquieto, às vezes demonstrando um golpe para os lutadores.
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A GAROTA QUE PREVÊ O FUTURO
RomanceOlivia Bennet possuía algo incomum, totalmente diferente de todas as pessoas que conhecia à sua volta. Não havia médico, padre, pastor ou curandeiro que conseguisse explicar sua condição. Fora tratada por medicamentos e diversos exames neurais para...