37| Pequena Mentirosa

44 8 20
                                    




DAMON HILL

Não sinto os dedos das mãos. Deve ser porque simplesmente não consigo parar de socar o saco de areia. Desde que Olivia veio aqui e terminou o nosso namoro alegando que dormiu com Conrad Carter, estou há longas horas descontando toda a minha frustração, mágoa e raiva dentro da minha academia, me matando de treinar. Todo meu corpo transpirava. Me sinto exausto para caralho e não consigo fazer meu corpo desligar-se da minha mente para poder relaxar e aceitar que fui abandonado.

Não consigo parar de repassar nossa noite em Beverly Hills, transando como dois coelhos, nos amando e repetindo os "Eu te amo" e rindo para o vento pela felicidade que estava irradiando de nossos corpos. Conversamos tanto nessa noite que fomos dormir quase pela manhã, precisando retornar para a realidade. Se soubesse que tudo fosse desandar logo que a deixasse em casa, teria largado todos os meus compromissos e ficado ao seu lado.

Não acredito em nenhuma palavra que saiu de sua boca. Não acredito que ela transou com Conrad. Ela, sim, estava com ele, pois a forma como me confessou isso foi diferente. No entanto, todo o resto foi pura balela. Minha garota não consegue mentir sem olhar para o chão ou simplesmente mudar de assunto. Todavia, quando ela quer muito que acreditem em uma mentira ou omissão, ela olha dentro da sua íris apenas para tentar passar confiança. E sinto em meu âmago que ela não me ludibriou. Olivia está escondendo alguma merda muito fedida e não quer compartilhar com ninguém, nem mesmo comigo. Agora me pergunto o porquê de minha garota estar com Conrad Carter...

O que me magoa não foi nem o que ela inventou para o término — por ser mentira —, e sim por não ter confiado em mim, que jurei lealdade e estava com ela em diversas situações, abrindo meu coração e dizendo meus traumas e fraquezas, enquanto enxugava suas lágrimas e tentava de tudo fazê-la com que se sentisse melhor.

— O que você previu, amor? Por que não confiou em mim? — berro, chutando o saco de areia com tanta força que a corrente que o segura deslizou para trás, até o final do cabo de aço.

Me joguei no chão, precisando ir para casa e pelas minhas forças terem se esvaído. Iria descobrir o que minha garota estava passando. Ela não pode ter sumido à toa e me deixado desesperado em seu apartamento com Violet e Caterine. Nós três ficamos aflitos e nem conseguimos dormir. Nem mesmo acreditei quando a vi de pé na sala, com o rosto vermelho, inchado e sonolento. Ela saiu correndo antes mesmo de eu conseguir sibilar uma palavra ou alcançá-la.

A forma como ela me tratou no apartamento doeu. Doeu mais do que quando peguei Stella transando com um cara que chamava de amigo. Isso me faz refletir sobre o quanto a intensidade do meu relacionamento antigo e do meu atual — não mais — foram diferentes. Me apaixonei pela ruiva, porém foi tão conturbado que, ao terminarmos, não foi tão difícil esquecê-la. Honestamente, me senti aliviado. Agora, com a Olivia? Meu coração aperta só em pensar que não a terei em meus braços. Não até conseguir desvendar o enigma que é essa garota.

Sua teimosia me tira do eixo. A mania de segurar os problemas para si, não confiando em nada além das suas visões conturbadoras, me tira do sério. Quantas vezes terei que repetir que ela não está mais sozinha?

Deitado, dou um impulso com o tronco, os braços e pulo para me levantar, dando passadas direto para o banheiro. Não aguento mais receber ligações das minhas mães e de Nicole. Meus alunos também têm questionado o motivo de ter a academia fechada por dois dias, portanto a sexta e agora, o sábado. Precisei pensar, sendo assim, nada melhor do que no ambiente onde me sinto mais seguro, calmo e paciente. Luto e sou fascinado por artes marciais não só por ter seguido o meu pai, mas porque me acalma. Posso expressar através do treino tudo o que estou sentindo, principalmente a raiva. Minha academia é o meu porto seguro. Meu pai sempre chamou a academia de "A Caverna", e por isso troquei o nome antigo, que levava apenas o nosso sobrenome, pelo que ele sempre chamava.

A GAROTA QUE PREVÊ O FUTUROOnde histórias criam vida. Descubra agora