O Maculado

1° CAPÍTULO

|Presente|
Eloise Alencastro

O medo é considerado uma das sete sensações universais que atemoriza, intimida e amedronta o ser humano. Eu venho provando disso já tem um tempo, mas hoje está mais fascinante de senti-lo, é intrigante, gostoso, bom de experimentar. Essa busca minha incessante por experiências que me exponham a sensações desagradáveis, que me levam ao meu limite é o gás que meu corpo precisa para continuar sentindo alguma coisa. Fiquei meia complexada com esse terror saboroso alimentando meu estômago quando o desgraçado do meu maridinho cruzou o meu caminho.

Como se já não bastasse sofrer abusos da minha família perfeita para a sociedade e disfuncional para quem está dentro. Ainda tinha que lidar com essa porra de casamento que o meu pai me obrigou.

Estou sobre o domínio do perverso do meu marido sórdido e doido de pedra, e daqueles dois homens tem uma semana desde a porra do meu sequestro. No galpão, os dois comparsas assumindo o controle da situação a qual eu estava submetida, pois era claro agora, o Hendrick iria até as últimas consequências para matar algo dentro dele e consequentemente me aterrorizar também para que eu o odiasse mais do que eu já o odeio quando ele resolvesse finalmente dar as "caras", não sei que fetiche é esse o dele, talvez por nunca ter me tocado durante esses dois anos que estamos casados. Mas ele estava obstinado, ele iria ficar admirando o que era dele e ele não podia ter, ele iria ver tudo o que me provocavam, iria se martirizar e jamais se mostrar está presente, ele sempre foi meio suicida, na porra da cabeça dele ele nunca seria descoberto e estava lá o tempo todo se torturando ao assistir o meu pavor fingido. Seus merdinhas até então não me fizeram nada além de me assediar o tempo todo. Parece que iniciaram pelo terror psicológico, os dois perturbava-me incansavelmente narrando os absurdos que iriam fazer comigo.

Eu não tenho privacidade nenhuma. Tomo banho e me alimento sob o olhar daquele que estiver me vigiando. Por alguma razão desconhecida fui trazida para um apartamento grande, espaçoso e requintado, numa estética alinhada à funcionalidade, com a integração de ambientes. Por meio de uma cuidadosa análise dos espaços, sei que os imóveis são projetados de forma inteligente, onde essa integração cria uma sensação de amplitude e fluidez. Por saber que nessa merda deve ter câmeras por toda parte para que meu maridinho não perca um passo meu, eu observei tudo quando fingia tatear as paredes, me aproveitando dos tapetes para esbarrar propositalmente, olhando fixamente e demorando mais do que o permitido a piscar. Eu não iria entregar meu jogo. Ele nunca saberá que voltei a enxergar faz muito tempo.

A pior parte é essa, os olhos cansam e ficam ressecados, na mansão eu usava colírio o tempo todo quando ninguém estava por perto, era prudente lubrificar minhas pupilas, o lacrimejamento e o desconforto era horrível. Mas era um preço que eu estava disposta a pagar e na hora de dormir eu aproveitava o escuro para piscar muitas vezes e descansava os olhos, meu receio era que o líquido interno dos meus olhos passasse a não drenar pela secura, num possível desenvolvimento da catarata onde deixaria minha visão opaca e infelizmente poderia ocorrer a obstrução do trabeculado. Ai sim eu ficaria cega de vez.

Preciso ser prudente.

Eu e o miserável do meu marido estamos com o jogo empatado. Ele não vai ganhar.

No momento certo eu vou conseguir fugir daqui. Fugir da minha família que tão pouco deve está se importando com o meu sumiço, e fugir da porra do Hendrick Alencastro.

Triste de quem pensar que sou a mocinha indefesa.

Nós dois somos péssimos e era de se esperar que um tentaria matar o outro em algum momento. Não nos suportamos.

Agora por exemplo, estou trancada em um quarto e sozinha, o que é um milagre. As janelas tem grades de ferro e algum sistema de alarme a laser, há uma cama de casal com um colchão muito confortável certamente para quando iniciarem a porra dos estupros enquanto meu maridinho vai assistir batendo punheta. Na esquerda tem uma cômoda de madeira em verniz brilhante, ainda não fui vasculha-la, estou fingindo visualizar o quarto inteiro com o tato das mãos.