41° CAPÍTULO

612 94 40
                                    


Eloise Alencastro

Desorientada e com a cabeça girando, abro os olhos e os aperto fugindo da luz do recinto, logo uma mistura de confusão e tentativa de entender onde estou me invade. Observando tudo em volta, vejo o óbvio, estou em um hospital, o odor insuportável de medicamentos e a claridade do ambiente é inconfundível.

Vagueio a visão no quarto, o cômodo é espaçoso e exala luxo, a decoração é moderna e a mobília em volta confortável. As paredes têm cores suaves e obras de arte que remete a relaxamento. E a cama que estou é espaçosa, com lençóis macios e um travesseiro reconfortante. Olhando para as cortinas, que podem ser controladas eletronicamente, a televisão de tela plana, entendo que estou em um quarto privativo e bem equipado, com banheiro privado e aparelhos de alta tecnologia para me monitorar.

Obra do Hendrick. Deve ter me trazido para o melhor hospital do país.

Minha boca está seca e sinto meus lábios ressecados rachando ao gemer pelo incômodo do formigamento transfundindo pela minha espinha e expandindo por todo o meu corpo, provavelmente consequência de algum medicamento que me injetaram nas veias.

No meu corpo prostrado na cama, a sensação ruim chega a ser desconcertante e ao ter flashes do que se sucedeu naquele maldito banheiro, eu sinto tudo de agonizante me abraçando novamente, me corroendo por dentro e rasgando minha alma, lembrar é como reviver o acontecido mais uma vez, ver ali o olhar do Hendrick profundamente taciturno, tomado pelo sofrimento, me anunciando a nossa perda escorrendo pelas minhas pernas e dói. Merda como dói.

Tudo que vem a minha mente é só sangue e mais sangue. Dor e mais dor. E mais nada.

Inferno de aniversário maldito.

Inferno de vida.

Meu ventre era tão podre que não seria capaz de segurar um feto?

— Água. _Peço fraca, chiando muito baixo, molhando o travesseiro pelas lágrimas que rolam e arrastando a mão direita para minha barriga, espremendo entre os dedos o lençol que estou coberta. Mãos grandes e ásperas alcançaram a minha e com os olhos minando lágrimas, virei o rosto.

O Hendrick, usando uma blusa gola alta preta e um sobretudo na mesma cor por cima, varria meu rosto sem expressão nenhuma, totalmente impassível.

— Eu estou aqui.

— Me perdoa. Por favor... me perdoa. _Seguro sua mão e ele a puxa de uma vez, eu engoli em seco, fechando em punho a mão em lacuna pelo desprezo e sem o calor da sua, vendo-o virar-se para o lado e trazer água.

— Beba devagar. _Alinhou o canudo aos meus lábios, ajudando-me a se hidratar.

A porta do quarto do hospital abriu, atraindo meus olhos e a senhora que o Hendrick contratou para ser minha cozinheira entrou, usando jaleco e ao seu lado um médico.

— Como você está? _O doutor perguntou.

— Fraca e sinto dor. Dor por dentro. _Respondo a verdade, lamuriando. O Hendrick, em silêncio, caminhou até a vidraça. Eu não conseguia segurar as lágrimas que desenrolaram. Seu comportamento distante demonstrava o que aconteceu. Eu perdi o bebê. Perdi nosso bebezinho. — Já que estou vazia. Não tem por que eu ficar aqui nesse lugar. _Impulsiono meus ombros, jogando o lençol para o lado e tentei sair da cama, mas ao sentar-se, gritei de dor e me encolhi igual um animal ferido, quebrado, destruído. — POR QUE DÓI? _Berrei pavorosa, com medo de se mexer e trincando os dentes, num frio horripilante fantasioso.

A enfermeira se prontificou a me acolher, segurando em meus ombros, deitando-me com paciência e me cobrindo com o lençol.

O que merda está acontecendo?

O MaculadoWhere stories live. Discover now