25° CAPÍTULO

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Hendrick Alencastro

Ao despertar veio o incômodo da claridade do dia. Com uma sensação de que uma carreta passou por cima do meu corpo, sento-me na cama e pouso meus antebraços sobre as pernas, massageando as pontas dos meus dedos em minhas têmporas para apaziguar o desconforto latente ainda presente em regiões específicas da minha cabeça.

— Maldição! _Praguejo, espremendo os olhos e inconsciente do quanto dormi por essa noite. Também não faz tanto sentido já que meu corpo não parece tão descansado assim. O que sinto não é dor que pode ser curada com analgésicos, é um sofrimento latejante mental.

O ranger da porta atraí minha atenção e a Eloise entra no nosso quarto com uma bandeja nas mãos, fechando a porta com o pé e caminhando até mim.

Não me esforço muito para lembrar do que houve ou como voltamos para casa, vê-la receosa, passos medonhos, e aproximando é a resposta para o dia pestilento que fui acarretado e dei um passo adentro do inferno, era de se esperar que com tantos estímulos negativos atormentando minha cabeça essa porra haveria de ocorrer, eu simplesmente tive um desmaio após ter um vislumbre de como o meu anjo caiu, se perverteu e degradou na maldade exacerbada e infame que deteriora, deturpa e apodrece a alma. É inacreditável que meu outro eu tenha se atrevido a tanto com a minha mulher. Com a nossa mulher.

Minha ira é por essa razão. Ele podia matar, aniquilar e estripar quem quisesse, eu não me importava com seus meios sanguinários que usaria para obter seus ideais, desde que não envolvesse a Eloise nessa ceifa, no entanto, era impossível controlá-lo, para ele é insignificante, descartável e irrelevante qualquer bilhete que eu deixe para ele, nenhuma ordem ou exigência minha seria ouvida, ele faz o que quer, quando quer e na hora que quer, e agora é nítido. Ele é uma fera bestial desprezível, e ter a Eloise com ele o torna mais forte.

— Você precisa se alimentar. _Avisou com temor e a voz soou muito baixa. Pela visão periférica enxerguei suas mãos depositando a bandeja na cama e seus pés usando uma pantufa ridícula girar e vir até mim.

Ergo a cabeça, passando o olhar pelo seu rosto que ganha rubor de vida, mas também de arreceio. Apesar de eu a ver hesitante, ela parece desconfiada, seu olhar semicerrado lentamente tenta captar além do que eu pudesse transmitir, é visível que procurava reconhecer qual infeliz sobressaiu em meu corpo por essa manhã acalorada, em que o vento quente da vidraça aberta dá movimentos as cortinas finas.

A Eloise, intencionada esperava diferenciar quem eu era numa luta insaciável entre o bom e o ruim, entre mim e o diabo. Nesse instante, agradeço por ser eu. Tê-la comigo significa menos pecado sobre seus ombros. Porque agora era é real, eles vão matar juntos. Eloise tem motivos, ela quer saber de onde veio. E ele tem motivos. Ele quer encontrar a nossa mãe. Mãe que o miserável estuprador deve estar a mantendo em cárcere.

Só Deus e esse crápula sabem do paradeiro dela. O Hendrick tem o dever de matar esse maldito.

— Sou eu, ursinha. _Respondo sua dúvida presente em seu olhar esverdeado, e elevando meus ombros, aproveito que minha mulher está perto e fecho uma mão em seu pulso, a puxando para ficar na minha frente e eu poder tocá-la, confortá-la, aos suspiros por finalmente firmar minha cabeça em sua barriga, respirando a essência floral que vem do tecido da sua camisola branca.

Suas mãos mornas suavemente cobrem minhas orelhas.

— Como você está?

— Quebrado.

Ela riu, beijando meus cabelos.

— Eca! Cheirinho de hospital. _Fez o gracejo, sorrindo e me cativando por ouvir esse som alegre logo pela manhã, uma melodia que encanta como o cantarolar dos pássaros, acalmando todos os meus demônios internos. — Em poucos minutos você deve tomar seus remédios. _Alertou preocupada, penteando meus cabelos com os dedos, cuidando-me.

O MaculadoWhere stories live. Discover now