34° CAPÍTULO

647 85 25
                                    


Caserta - Itália

Hendrick Alencastro


Uma noite e dois dias.

É o tempo tedioso que estou dentro de uma cela minúscula que mal me cabe e cercado por grades de ferro. Por consequência funesta do meu lastimável propósito, consegui o que me propus, permiti ser pego pela polícia e fui arrastado por uma viatura como se fosse um condenado imprestável.

Sendo um estripador atroz e desumano, sem qualquer reconsideração pelas almas pestífera e odiável que mando de escada rolante rumo ao corredor da morte para ir diretamente de encontro ao mundo dos mortos, era de se esperar que realmente serei condenado a prisão perpétua e irei apodrentar em qualquer perniciosa e sobrelotada penitenciária da Itália.

Mas eu não ficaria aqui por muito tempo. Certamente sairei ainda hoje, e tudo isso não passa de um plano para ele vir até mim.

E eles não tem prova contra mim, a não ser o bilhete que eu mesmo deixei na cena de um crime com letra que não é minha. E a ligação anônima que eu mesmo fiz de um celular que enterrei na mata. O corpo não tem minhas digitais porque sou precavido e minha maleta com facas está escondida em um cofre.

Meu propósito era dar a entender que o assassino de uma das suas filhas estava perto, e que um suspeito, no caso eu, fui pego. De certo eu conseguiria sim a atenção do Gianluigi Rullo, principalmente por ter matado também seu consigliere.

Eu vou infernizá-lo, se eu não podia passar pela segurança da Camorra e invadir, eu iria devorar as beiradas, estremecer a base e queimar todos os seus negócios.

Eu não vou me cansar até atrair esse maldito.

Se necessário for usarei meus meios para destruir essa máfia de merda.

Eu prometi a ela, a minha coisinha ardilosa que ela conheceria seu bendito pai. Esse desgraçado não vai me impossibilitar de levar felicidade aos olhos esverdeados da minha mulher. Estou aqui por ela, eu luto por ela, pois se não fosse isso ocupando minha mente eu já teria matado os dois vermes imundos que fugiu e irá dar as caras no leilão nessa próxima semana.

Algo me acerta nos ombros e eu viro o pescoço, avistando um rapaz com vestes sujas e estraçalhadas na cela ao lado. Era só o que me faltava. Virar atração pra doido.

— Dois dias e você não mudou a posição, não comeu ou bebeu água e tampouco fechou os olhos. _O maluco rangendo os dentes por falta de droga nas veias, com as unhas podres como se tivesse cavado uma cova com as mãos, o rosto nebuloso em euforia, os lábios rachados de tanto mastigá-los, sorria como um cachorro louco, corigando pior que o capeta, ele começará a me perturbar e eu não estou com juízo perfeito, as engrenagens da minha cabeça não parava de trabalhar.

— Está com fome? _Pergunto na intenção de manter ele com essa imundície de boca tremelicante em silêncio.

Ele negou, mas o riso endoidado com os dentes amarelos me revelou o oposto.

— Estou. _Enfiou as mãos entre as grades, abrindo os dedos num ato desesperador pela comida. Ele parecia um zumbi.

Impulsiono meu corpo para frente e recolho a marmita do chão, me colocando de pé e vagando até a grade à direita.

— Coma. _O entreguei, observando a delegacia e tornando ao meu assento.

— Você é sonâmbulo?

— Não. _Respondo em tom incisivo não querendo diálogo nenhum com ele e com ninguém, inclinando o corpo para frente e descansando os antebraços em minhas pernas para me concentrar no chão.

O MaculadoWhere stories live. Discover now