Rebeca - Parte II

59 11 136
                                    

Nas semanas seguintes houveram várias buscas e caçadas na região de Tordos, mas não se sabia de nenhuma história de sucesso em encontrar o covil do monstro e alguns tentavam o atrair com o barulho assim como aconteceu no baile, mas estes não sobreviviam.

Durante esse tempo, Rebeca não falou com a mãe mais do que o necessário, com um profundo ressentimento em ser oferecida como prêmio, até que decidiu ela mesma matar o monstro para conseguir sua própria mão. Se conseguisse, a rainha não teria mais direito de oferecê-la a mais ninguém, nunca mais.

Vestindo uma capa azul escura, com um machado escondido numa bainha em sua cintura e uma bolsa com guarnições, a princesa montou no cavalo mais rápido que a família possuía, um puro-sangue castanho chamado Major, e rumou em direção a Tordos.

Ela teve que fazer uma parada em uma estalagem no meio do caminho, onde ela e Major comeram e descansaram. Quando estava sentada à mesa sem tirar o capuz, ouviu os outros hóspedes murmurando que ela devia ser uma ladra, por ter um cavalo de raça em um lugar como aquele e tapar o próprio rosto. A comida, bem diferente da que ela comia no castelo, não lhe caiu bem e ela não conseguiu dormir tranquila, temendo que tentassem roubar Major.

No dia seguinte a viagem foi mais longa e sem paradas, sem contar que entraram em terras altas e montanhosas, com um terreno de subida difícil e acidentado. A princesa se apressou quando viu que estava prestes a anoitecer, e não muito depois que o sol se pôs ela ouviu vozes ao longe e ao se aproximar se deparou com um grupo de homens conversando em volta de uma fogueira.

- Tá perdida? - um dos homens perguntou. Era muito alto e musculoso, tinha um rosto rústico e desagradável, o nariz grande e torto que parecia já ter sido quebrado, olhos azuis acinzentados, uma barba loira falhada e o cabelo também loiro, muito claro, devia chegar na altura dos ombros quando solto, mas estava preso em um rabo de cavalo. Ele tinha cicatrizes nos braços e pernas, mas a maior começava na bochecha direita e descia pelo pescoço, não dando pra se ver até onde, pois as roupas cobriam.

- Não - ela respondeu em voz baixa, estava começando a ficar com medo.

- Por que não se junta a nós? Estamos preparando o jantar - ele sugeriu. Pendurado em gravetos havia uma coxa de porco assando na fogueira. - Estamos aqui para matar o monstro de Tordos - continuou quando Rebeca não respondeu.

Vendo que o homem provavelmente iria insistir para que ela ficasse, Rebeca desceu do cavalo e aceitou o convite. Viu que havia uma carroça a alguns metros da fogueira e um cavalo preso ao tronco de uma árvore ao lado dela. Prendeu Major no mesmo lugar e se sentou no único tronco vazio em volta da fogueira. Havia outro à sua frente com dois homens sentados.

Todos tinham a aparência desagradável e intimidadora, dos que estavam sentados em frente de Rebeca, um era um magrelo loiro que usava tapa-olho, e o outro um ruivo gordo e muito alto de cabelo trançado, ambos a encaravam sem parar, com um olhar predatório que a deixou desconfortável.

- Meu nome é Ülv, filho de Bjørn, e esses são Ivar, filho de Rollo e Olaf, filho de Gorm - o homem disse depois de se sentar ao lado dela, apontando para o loiro e para o ruivo, respectivamente. - Não ligue para eles, são estranhos, mas bons homens. Só que eles não falam lestiano, então não vão entender uma palavra do que você diz. - completou ao notar a desconfiança da garota. Ele tinha um forte sotaque, que Rebeca não sabia reconhecer de onde era. Os únicos estrangeiros com quem tinha tido contato eram os caisafianos, que falavam o rakhnidi e os valastões, que também falavam lestiano, e Ülv com certeza não era de Caisafi.

- De onde vocês são? - perguntou, curiosa.

- Viemos de Ranullr, foi uma longa viagem. - E tinha sido mesmo. A princesa já havia ouvido falar de Ranullr, uma terra gelada ao extremo sul do mundo onde não havia reis ou rainhas, apenas líderes de clãs que brigavam constantemente uns com os outros, e o clima era tão hostil quanto seus habitantes, pois lá havia constantes tempestades, tornados e nevascas. - E você? - perguntou de volta.

Era dos ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora