Os Quatro Irmãos - Parte III

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A espelunca barata em que eles se hospedaram em seguida os fez sentir falta do pão dormido das outras. Lá eles nem sabiam identificar o que estavam comendo e havia muitas moscas e pernilongos, além de um terrível cheiro de mofo.

Na noite em que tiveram que acampar após um dia longo e exaustivo de viagem, eles não sabiam nem por onde começar. Nenhum dos príncipes ou princesas tinha experiência em tal atividade e também não estavam preparados para a ocasião com os itens necessários.

Ágata em sua culpa se fez proativa e improvisou a fogueira. Buscou madeira e acendeu o fogo ela mesma, e Álvaro foi caçar. Com a ajuda de seu arco mágico não foi difícil e ele conseguiu um faisão.

Eles e os cavalos comeram, e então começou o real desafio. Dormir no chão ao ar livre, vulneráveis a qualquer criatura noturna. Combinaram turnos para que sempre houvesse alguém acordado, mas na prática ninguém conseguiu pregar o olho por muito mais do que meia hora.

Quando amanheceu e foi decidido que era hora de ir, acordaram Ana, que era a única que estava dormindo e prepararam as coisas para partir. Ângelo estava apertado e insistiu para se aliviar em uma árvore antes de partir, e em sua timidez foi para bem longe.

Passaram-se uns minutos, e então Álvaro ouviu um barulho vindo da direção onde Ângelo estava, e em seguida as irmãs ouviram também. O mais velho já correu para pegar seu arco e as flechas e assim que se armou se deparou com Ângelo, ofegante e quase caindo de cansado, ele parecia tentar tirar fôlego para alertar os outros de algo quando foi interrompido pelo ataque de um bicho.

O javali avançou contra a perna de Ângelo com suas presas, e outras duas vezes nas costelas depois que ele caiu, mas se vendo cercado de outras pessoas bufou raivosamente se preparando para atacar mais um.

A vítima escolhida foi Ágata, o animal a olhou diretamente e ela tropeçou ao dar passos para trás e quando o Javali estava prestes a acertá-la ele foi atingido com uma flecha que atravessou suas têmporas. Ficou atordoado por alguns segundos e caiu em cima de Ágata, com sua saliva escorrendo por cima da moça.

- Ângelo! - Ana gritou enquanto corria em direção a ele. Tinha sido atingido em cheio e a perfuração na costela era grave, respirava com dificuldade. Álvaro tirou a camisa e pressionou o tecido contra o ferimento para aliviar o sangramento, não tardou para que a blusa branca se tornasse vermelha.

- Nós vamos te tirar daqui - disse para o caçula, que não conseguia responder, mas estava consciente.

Com a ajuda de Ágata, Álvaro colocou Ângelo na carroça e então foi conduzir o veículo. Ana ficou pressionando a blusa nos ferimentos do irmão enquanto Ágata segurava sua mão.

Eles buscavam por qualquer pessoa, literalmente qualquer um que pudesse ajudar. Nenhum deles sabia lidar com pressão e não conseguiam raciocinar, as moças tentavam falar com Ângelo para mantê-lo acordado e dizer que estava tudo bem, Álvaro apenas procurava por qualquer sinal de civilização.

Depois dos cinco minutos mais demorados de suas vidas, eles acharam uma estalagem pequena e que parecia vazia, mas não havia tempo para escolher. Álvaro desceu e correu para bater à porta.

Uma moça que devia ter mais ou menos quarenta anos atendeu, tinha um pano na cabeça cobrindo seu cabelo preto e era alta e corpulenta.

- Por favor, eu e meus irmãos precisamos de ajuda, meu irmão está ferido e não temos para onde ir - disse atropelando as palavras, a mulher a princípio ficou desconfiada e com medo de estar sendo enganada por ladrões, mas espichou o pescoço para fora e viu o desespero das moças na carroça, e apesar de não ter conseguido ver Ângelo, era possível identificar que elas estavam debruçadas sobre o corpo de alguém.

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