Sem saber ao certo quanto tempo ficariam fora, os quatro irmãos empacotaram grandes bolsas cheias de seus pertences, mas quem se destacou nas bagagens foi Ângelo, que fez questão de levar seu material de pintura: telas, tintas, pincéis, espátulas, verniz, o cavalete e tudo mais. O rapaz alto e magrelo andava todo desengonçado com tanta coisa.
- Em que ocasião você acha que vai usar isso tudo, panaca? - Álvaro perguntou aos risos vendo a cena.
- Eu quero capturar o momento quando chegarmos ao nosso destino - Ângelo respondeu com calma, não cedendo a provocação. - Que aliás, onde é?
- Vamos para a cidade de Evelin - o mais velho se limitou a dizer.
Álvaro foi o responsável por conduzir a viagem, ele se encontrou com a avó e recebeu o mapa, o cronograma e algumas ameaças. A rainha garantiu que saberia se eles não passassem nos locais indicados e deu a entender que tinha olhos em todos os lugares.
Todos usavam roupas simples de camponeses comuns e fariam o caminho numa carroça velha puxada por dois pangarés, por segurança, para não chamar atenção, mas também para o castigo deles.
A viagem foi lenta, pois os cavalos eram velhos e a carga pesada, e pareceu mais lenta ainda porque ninguém estava disposto a conversar no caminho e ninguém via propósito na empreitada. O único som emitido pela boca de qualquer um dos irmãos foi a tosse insistente de Ângelo, que ele tentava disfarçar colocando um lenço sobre a boca, mas que deu nos nervos mesmo assim.
Depois de um dia eles se instalaram em uma estalagem e comeram as comidas mais simples que já viram na vida. Pão dormido no café da manhã e sopa de cebola no almoço, e quando seguiram viagem, adicionada à tosse irritante de Ângelo, começaram as reclamações de Ana, que sem paciência ficava perguntando quando seria a próxima parada, quando eles iriam comer e quando eles iriam chegar.
Mais uma estalagem, mais pão dormido e outro dia de viagem, dessa vez além da tosse e as reclamações, começaram também as acusações sobre de quem era a culpa por aquela tortura. Discutindo entre si, Ágata culpou Álvaro, que a culpou de volta, Ângelo também culpou Álvaro e Ana culpou Ângelo, mas no decorrer da discussão todo mundo acabou culpando todo mundo, menos a si mesmo.
No terceiro dia de viagem as reclamações de Ana se estenderam aos outros irmãos, que insistiam em saber quando chegariam e enchiam Álvaro de perguntas cujas respostas ele não sabia, mas no quarto dia o grupo já estava tão exausto que assim como no começo, fizeram um silêncio que só era interrompido quando Ângelo tossia.
O plano da família real parecia estar tendo o efeito contrário ao desejado. Os irmãos que já se detestavam agora se suportavam menos ainda, e os que se davam bem estavam fartos da companhia um do outro.
O destino deles, Evelin, era a cidade onde a tataravó deles de mesmo nome havia nascido e que tinha sido rebatizada em sua homenagem quando Hugo se tornou rei. Certos detalhes sobre o passado de Evelin só foram descobertos após a sua morte, e seu local de nascimento era um deles. As primeiras lembranças de Evelin eram de seus dias na torre, mas conforme Hugo conquistava o seu reino ele ficou sabendo que naquela cidade existia uma lenda sobre um demônio ganancioso e sobre uma criança desaparecida depois da morte dos pais, então o rei concluiu que a criança se tratava de sua mãe e o demônio era o abutre.
Aquela era a capital da província e eles seriam recebidos no palácio do duque, que estava à espera. Finalmente poderiam deixar o disfarce de lado e serem príncipes e princesas, comer do melhor e dormir em camas confortáveis.
Porém eles não estavam lá para visitar o palácio e não tinham permissão para estender a visita, depois de descansados eles iriam conhecer a cidade e a mansão do falecido abutre, na esperança de aprender sobre a história da família.
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Era dos Contos
FantasyEra dos Contos é uma releitura de contos clássicos dos irmãos Grimm e poemas épicos, todos passados em um universo de fantasia, mas aqui a história não acaba no felizes para sempre e nós acompanhamos os personagens durante todas as suas vidas, então...