Aos vinte e dois anos, a princesa herdeira Rebeca deu a luz ao seu primogênito, que batizou de Álvaro, e no ano seguinte deu à luz a sua segunda filha, Ágata, dois anos depois nasceu Ângelo e por fim, três anos depois nasceu a caçula, que por ter nascido com fiozinhos de cabelo ruivos tão clarinhos e tão logo após a morte da avó da princesa, ela não pode deixar se chama-la de Ana, ainda sem deixar de lado a tradição de batizar todos os filhos com a letra A.
Os irmãos não poderiam ser mais diferentes um do outro, tanto em aparência quanto em personalidade. E com exceção de Ágata e Ângelo que se davam bem, e de Álvaro e Ana que tinham uma relação cordial, todos se odiavam entre si.
Álvaro veio todo como a mãe em aparência, com cabelos escuros, pele morena e olhos castanhos. Era alto, forte, atraente e possuía uma bela barba. Em personalidade era todo como o pai, durão e agressivo, resolvia e criava problemas com os punhos. Agredia os outros muitas vezes apenas por diversão, e sua principal vítima das provocações violentas era seu irmão caçula, Ângelo, que o detestava por isso. Por tabela, Ágata também o detestava, pois defendia o irmão mais novo do mais velho como podia.
Ágata, por sua vez era o oposto de Álvaro, terrivelmente parecida com o pai, tinha a pele muito clara, o cabelo loiro e os olhos de um azul acinzentado em um rosto bruto, com o nariz proeminente e os lábios finos, secos e rachados, ela era baixa, mas tinha ombros largos e uma silhueta quadrada. E em personalidade tinha herdado o jeito sorrateiro da mãe, ainda que muito pior.
Quando tinha quatro anos, a pequena Ágata, sabe-se lá como conseguiu entrar no cômodo mais proibido do castelo, o quarto onde o príncipe adormecido Ravi repousava sem ser visto nem tocado por ninguém, nem mesmo pelo tempo. A menina brincou com ele como se fosse uma grande boneca de pano até que uma criada passou pelo corredor e ao ver a porta aberta e ouvir o barulho lá dentro ficou desesperada e não tendo coragem de entrar, correu para falar diretamente com Rebeca sobre o que estava acontecendo. Ágata recebeu a maior surra de sua vida naquele dia.
Depois de crescida a garota desenvolveu uma mania terrível e vergonhosa de roubar pequenos objetos que não precisava, fazendo a família real passar vexame, pois que coisa inacreditavelmente lamentável era uma princesa roubando de pobres feirantes e comerciantes locais. Ela também roubava da irmã caçula, Ana, que a detestava por isso.
Ângelo, o terceiro filho, era tímido e calado. Alto e bem magro, tinha um bigode castanho escuro, como o seu cabelo, que batia um pouco acima da altura dos ombros e normalmente tapava parte de seu rosto pálido. Debaixo de seus olhos azuis tinham olheiras, pois o príncipe sofria de insônia e muitas vezes passava noites em claro pintando, era obcecado em pintar grandes telas.
Sua obsessão era principalmente pelo nu masculino, e dizia-se na corte que o príncipe se transformava em outra pessoa em suas sessões com modelos vivos. Dentro de sua sala privada entravam os mais belos rapazes de todo o reino e de reinos estrangeiros, e os boatos eram que junto desses o príncipe se tornava alguém alegre, falante e bem humorado.
Ana, a caçula, lembrava muito a bisavó de quem tinha herdado o nome e a família mal conseguia disfarçar que ela era a favorita, ela por sua vez não hesitava em usar desse privilégio. Uma menina doce e correta, logo cedo se converteu ao epifratismo e não faltava um dia sequer na civita, que era como os epifratistas chamavam seus templos.
Mas apesar de ser um deleite para os pais e os avós, era desprezível com os irmãos. Ela até gostava de Álvaro mesmo que eles não tivessem muito em comum, mas não tolerava o comportamento errôneo de Ágata e desprezava o estilo de vida de Ângelo, as coisas profanas que ele fazia com seus modelos e as pinturas com tamanha obscenidade que ela não conseguia nem olhar.
As contendas entre os irmãos irritavam a família e a corte, mas houve uma semana específica que três eventos aconteceram um logo após e outro e acabaram sendo a gota d'água. Durante esses eventos os irmãos tinham vinte e três, vinte e dois, vinte e dezessete anos.
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Era dos Contos
FantasyEra dos Contos é uma releitura de contos clássicos dos irmãos Grimm e poemas épicos, todos passados em um universo de fantasia, mas aqui a história não acaba no felizes para sempre e nós acompanhamos os personagens durante todas as suas vidas, então...