Ravi - Parte II

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Mesmo depois de semanas, tanto os nobres quanto o povo não paravam de falar sobre o solstício de verão e sobre a falta de posicionamento do rei quanto a questão levantada pela bruxa da discórdia.

Já tinham se passado muitos anos com o rei evitando o assunto da sua sucessão, mas agora era impossível fugir por muito mais tempo, ainda mais com os parentes de ambas as esposas do rei tendo cargos importantes no reino.

Bruno não comentava sobre o assunto e se recusou a contar para qualquer pessoa, inclusive Ana, sua esposa e confidente, o que a bruxa havia dito em seu ouvido, pois ele se recusava a enlouquecer com presságios e profecias como tinha feito seu irmão.

Ravi não suportou a atenção e voltou para Caisafi, mas lá, sua mãe que tanto tinha insistido para que ele não saísse, agora o queria em Querates reivindicando o seu direito ao trono. Ele passou somente alguns dias ao lado dela.

- Cobre de seu pai, imponha respeito e exija que ele encontre com você a sós na sala do trono para discutir a questão. Ele irá te ouvir - foi a última coisa que Navina disse ao filho antes de ele regressar, e ele seguiu à risca tudo que foi aconselhado.

E funcionou, por mais que o rei ignorasse a todos, ele estava disposto a tratar diretamente com seus filhos. Já no segundo dia em que Ravi estava na cidade ele foi acordado com o comunicado de que o rei estava à sua espera para uma reunião particular.

Ao chegar lá, Ravi se deparou com o pai caído ao lado do trono e correu ao seu encontro gritando por ajuda, então notou que ele segurava uma agulha em uma mão e um pedaço de papel na outra.

"Com essa agulha bordei o shaaham que estava lhe devendo e neste bilhete deixo meus votos para você: Descanse em paz, Vossa Majestade.", era a mensagem escrita no papel, que não necessitava de assinatura para se saber a autoria.

Não houve tempo para que Ravi absorvesse o que estava acontecendo, pois logo o seu tio abriu apressadamente a porta e o chamou.

- Foi você? - o menino perguntou - Foi você que pôs a agulha envenenada no trono de meu pai? - apenas naquele momento, ao dizer em voz alta, que as lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.

- Eu apenas fiz o que sua mãe mandou. Ela fez por você.

- Mentira! Ela fez por ela, por vingança - Ravi disse avançando contra o tio e tentando socá-lo, mas Samir, muito maior do que ele, o agarrou pelo punho, em seguida torcendo o braço dele e o dominando.

- Ela vingou a todos nós. Agora vamos, não temos tempo pra chorar - Samir disse enquanto escoltava Ravi como um prisioneiro.

Lá fora havia um tumulto, gritos e correria. Os supostos serviçais que acompanharam Ravi na viagem de volta eram na verdade soldados disfarçados com armas escondidas, que mesmo que em menor número, renderam de surpresa a cidade.

Ana foi avisada do que estava acontecendo e sem tempo para chorar a morte do esposo, correu para encontrar os filhos e apenas ao vê-los que uma fina lágrima escorreu de seu olho, pois os dois eram tão parecidos com o pai. Delfino era idêntico a Bruno na sua idade e sempre causava sentimentos de nostalgia em Ana de quando ela era uma criança com uma paixão inocente pelo seu futuro marido, já Virgínia era uma versão feminina dos dois com as cores da mãe, a pele e os olhos eram claros e o cabelo ruivo.

A rainha sabia como andar pelo castelo sem ser notada e conhecia todos os corredores e passagens secretas, pois havia aprendido a sair às escondidas com Bruno em seus tempos de amante, por isso ela conseguiu chegar aos estábulos em segurança e selar dois cavalos, um para ela e um para Delfino e Virgínia, em seguida saiu por uma passagem coberta que o paranóico rei Hugo havia mandado construir caso houvesse um motim e ele precisasse fugir.

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