Príncipe Hugo - Parte IV

5 1 10
                                    


No dia seguinte, Hugo, enfurecido com o que havia lido na carta, a mostrou para o seu primo, que fitou o pedaço de papel em silêncio por minutos depois de terminar de ler seu conteúdo.

- Diga alguma coisa. - Hugo tirou Bruno de seu devaneio.

- O que faremos? - Bruno perguntou. Estava desorientado, seu estado de negação havia acabado de ser interrompido bruscamente com a confirmação da realidade que ele se recusava a olhar. Seus pais estavam mortos, e seus corpos existiam em algum lugar.

- Eu irei até a Valástia pessoalmente confrontar o rei e exigir que os restos de nossos pais retornem para casa para terem um enterro digno - Bruno sentiu a determinação de seu primo mais velho passando para ele e assentiu com a cabeça.

- Irei contigo.

A viagem para a Valástia por terra era longa e difícil. Passavam por terrenos acidentados e as estradas eram perigosas. A rota comercial entre os reinos já não era a mesma fazia muitos anos e isso culminou numa falta de manutenção entre o caminho que os ligava.

- Primo - disse Bruno quando ele e Hugo já estavam no outro reino, apenas a algumas horas do destino final, depois de viajar por semanas. Hugo aproximou sua montaria do mais novo para ouví-lo. - Evitei perguntar isso, mas qual a natureza da sua relação com Dolores?

- Ora, somos apenas amigos - o príncipe respondeu como se não houvesse por que duvidar.

- Eu duvido.

- Nós nos vimos somente duas vezes, nas quais em só uma sequer conversamos. E estávamos em um cemitério.

- Pouco importa. Na carta ela disse que tem afeição por ti e arriscou o próprio pescoço para lhe escrever. É algo que uma mulher apaixonada faria.

- Não sei que sentimentos a rainha tem por mim, mas esta viagem é pela honra de nossos pais, não desvie do nosso objetivo - Hugo cortou o assunto e eles seguiram em silêncio absoluto até chegarem.

No castelo do rei Carlo, Hugo se apresentou aos guardas como o príncipe de Querates e disse que trazia consigo um presente, o pássaro feito de ouro que já havia sido de Bruno. Era um costume valastão que uma visita trouxesse um presente ao anfitrião, e as normas de hospitalidade no reino eram seguidas à risca, sendo considerado rude recusar o visitante neste caso.

Quando a entrada dos dois foi permitida, ambos foram escoltados até o salão pelos guardas.

- Hugo, tem certeza do que está fazendo? - Bruno sussurrou para o primo baixo o suficiente para os guardas não ouvirem.

- Do que está falando? É claro que sim - Hugo teve que se esforçar para manter o tom de voz baixo.

- Pense - começou Bruno enquanto diminuía os passos, Hugo não fez o mesmo. - Como vai dizer que sabia da informação? - Foi então que o príncipe hesitou e começou a andar mais devagar.

- Não precisamos dizer como sabemos - falou num tom incerto, como se tentasse também se convencer.

- Não, mas eles irão investigar, e podem descobrir a verdade. O que fariam com Dolores? - os dois pararam de andar. - Hugo. O sofrimento dos nossos pais já teve fim e o nosso é inevitável, mas o dela é desnecessário e podemos impedir. - Os dois ficaram parados frente a frente, Hugo sem saber como rebater o argumento de Bruno e Bruno preocupado com o que Hugo faria em seguida.

- Vossa Majestade, o rei Carlo da Valástia os aguarda - o guarda quebrou silêncio enquanto abria a porta do salão.

O rei estava sentado na cabeceira da mesa e os príncipes o cumprimentaram com uma reverência. O homem que um dia já havia possuído cachos loiros e volumosos, agora, com quase oitenta anos, era careca, mas tinha uma barba pomposa e se vestia tão ricamente quanto deveria alguém de sua classe. Ele estava um tanto debilitado pela idade, sofria de gota e de varizes e tinha marcas de antigas doenças pelo rosto. O nariz e os ouvidos eram peludos e seus olhos cinzentos eram sérios, mas forçou um sorriso nos lábios ao ver as visitas.

Era dos ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora