Hugo

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O dia em que a mãe de Hugo morreu o marcou para sempre. Agora restava apenas ele e seu irmão mais novo na família e os dois haviam recebido um presente inesperado. Ele se sentiu responsável por proteger o irmão caçula e manter as coisas em ordem, enquanto Bruno vivia o luto à sua própria maneira, que consistia em passar o tempo inteiro bebendo na companhia de amigos e amantes.

Os dois irmãos eram muito diferentes um do outro, enquanto Hugo era introspectivo e se preocupava com o futuro, Bruno gostava de viver o momento na companhia de outras pessoas, por conta disso eles tinham ideias muito distintas sobre o que fazer com todo o ouro deixado pela mãe. Hugo queria proteger e multiplicar as riquezas, pois ele cresceu ouvindo a história dos pais e agora temia chamar a atenção de abutres ou coisas piores, mas Bruno, que havia crescido com as mesmas histórias, não as temia e queria apenas viver fazendo o que bem entendesse.

A família deles era conhecida e admirada pela vizinhança, e sendo Josias e Raquel os melhores amigos de seus pais, os melhores amigos dos irmãos eram os filhos do casal, também dois homens, Teodoro era quase dez anos mais velho do que Hugo, que tinha trinta e cinco, e era mais próximo dele, já Léo, o mais novo, tinha trinta e seis. Teodoro tinha uma esposa chamada Matilde e uma filha de doze anos chamada Ana.

Hugo era conhecido por sua força e coragem, pois diversas vezes já tinha espantado invasores da vila e era um exímio caçador. Ele havia aprendido a caçar com o pai, que apesar de não poder caçar junto com ele por conta da cegueira, o ensinou tudo o que sabia. Certa vez Hugo caçou um leão branco raríssimo e passou a usar sua pele em certas ocasiões.

Já Bruno era conhecido por sua lábia, carisma e bom humor, mas o que ambos tinham em comum era a boa aparência que atraia a atenção das moças. Hugo dava pouca ou nenhuma atenção para essas moças, mas Bruno seduzia as jovens solteiras em toda oportunidade, e por vezes também as casadas.

A vila onde eles moravam se chamava Nosfrates, mesmo nome do rio em que ela era próxima. A pequena população de Nosfrates era bastante cooperativa e não tinha um líder definido, coisa que Hugo começou a pensar em mudar. A primeira atitude que Hugo teve com seu tesouro foi a de comprar cavalos e armas para mobilizar o seu povo e tomar outros terrenos.

Homens e mulheres em idade de lutar aprenderam a montar e a atirar com o arco ao mesmo tempo e chegada a hora eles saquearam a vila mais próxima, levando com eles aqueles que se renderam. Por diversas vezes repetiram o processo e se aprimoraram, até chegar num ponto em que eles já eram esperados e temidos, fazendo algumas vilas se renderem antes mesmo de qualquer luta.

A fama de Hugo aumentou e saiu da pequena vila de Nosfrates, rumores sobre uma descendência divina surgiram, histórias e lendas sobre ele eram espalhadas e assim ele conquistou seguidores fiéis e um exército intimidador.

Toda essa campanha o fez enriquecer ainda mais, mas também teve um custo. Do ouro herdado pela mãe já não havia quase nada, e o que havia sobrado ele mandou que derretesse e transformasse em uma coroa, se auto proclamando rei de Querates, a capital do reino de mesmo nome que ele estava começando a fundar.

Os povos vizinhos haviam sido conquistados por muitas vezes à força, mas Hugo não era de todo um bruto, ele assimilou ao seu recém criado reino todos os tipos de pessoas com todos os tipos de fé e não impôs que eles mudassem em nada seus costumes. Ele mandou que construíssem templos e locais de adoração representando as principais religiões daqueles que o seguiam, o que reforçou mais ainda a ideia de que ele era em parte deus.

Ele mandou que construísse seu castelo e também queria investir em altos e resistentes muros para proteger a cidade. A região em que eles estavam era próxima a grandes florestas e tinha madeira de sobra, mas as pedras para construir esse muro só haviam em locais bem mais distantes.

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