Novos Anjos: Capítulo 7- Desespero

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O tempo simplesmente não se passava, eu me sentia a beira de um abismo, sempre olhando pra baixo no pavor de cair a qualquer momento, cada segundo a minha mente pensava mil coisas. Eu olhava para os lados, olhava para o professor, para meu caderno e tudo parecia um enorme quadro cheio de imagens borradas, sentia vontade de chorar, de gritar em angústia, de correr até o Arthur e pedir perdão, não, implorar, me arrastar no chão, me humilhar para ele se fosse necessário.

A campainha tocou, fim da primeira aula e troca de professor, eu meio paralisado dei uma olhadinha para o lado onde Arthur se encontrava e só consegui vê-lo de cabeça baixa sobre a sua mesa, eu não conseguia fazer ideia do que ele estaria pensando ou sentindo, juntei todas as minhas forças decidido a levantar meu traseiro medroso da cadeira e ir falar com ele, em vão, o próximo professor o de Geografias entrou na sala. Mas que diabos- pensei quase amaldiçoando– como um professor troca de sala tão rápido? Peguei meu livro de Geografia para tentar ao menos fingir acompanhar a aula, ou pior dizendo "as aulas" pois era dois tempos seguidos daquela disciplina. Ao menos teríamos o intervalo, seria um momento ideal para conversar com ele, depois uma aula de ciências, seguida pela aula de inglês deixado por último um tempo de educação física.

Mas naquele dia eu estava mesmo sem sorte, depois de dois tempos tortuosos de aula onde eu praticamente não acompanhei nada o intervalo tocou mas eu fui impedido de sair pelo professor.

- Paulo, venha até a minha mesa por favor- chamou em tom severo-. O que está havendo com você? Não pense que não notei, você passou a aula inteira perdido, olhando para as paredes, vendo o tempo passar e aposto que não fez o exercício que passei no decorrer da aula .

Fiquei vários segundos com cara de palerma sem saber como me justificar, deque jeito explicar o que eu estava sentindo naquele momento, que eu estava apaixonado pelo meu melhor amigo, e não sabia se era mútuo e que eu ainda por cima tinha estragado tudo.

- Olhe aqui Paulo- ele me disse num tom bem mais afetuoso- é algum problema na escola? Ou em casa? Podemos ir na direção, ninguém vai te dar bronca, se você estiver com problemas vão ajudar.

Comecei a ficar com os olhos marejados, era muita coisa para um dia só e eu tinha um probleminha muito sério com confrontos, eu não sabia receber bem quando alguém ficava bravo comigo ou levantava a voz, minha reação imediata era me recolher e começar a ter vontade de chorar.

- Também se não quiser falar nada neste momento tudo bem- passou a mão em minha cabeça carinhosamente – olha Paulo, eu já tive a idade de todos vocês e embora fossem tempos diferentes eu sei que nunca foi nem vai ser uma idade fácil. Você está agora no meio do caminho entre ainda ser criança e abraçar as responsabilidades de virar adulto.

- Desculpa professor- levantei a cabeça e ele pôde ver a lágrima de arrependimento que escorria no meu rosto. Juro que não atrapalho mais a aula.
- Tudo bem, tudo bem, não quero ver você nem ninguém chorando. Só me prometa que se estiver com qualquer problema sério vai pedir ajuda , combinado.
- Combinado, falei enxugando a lágrima.
- Então bate aqui- ele estendeu a mão –dei uma batidinha já mais tranquilo e com um leve sorriso. Agora vamos logo senão ninguém come seu lanche hoje, deu uma piscadinha.
- Obrigado prô, eu tenho que procurar o Arthur agora, preciso falar algo urgente.
- Acho que não vai precisar sair então, não é ele bem ali no fundo da sala? Bem, vou indo, até a próxima, tchau.

Que incrível, era mesmo o Arthur, ele nem havia saído da sala, estava de cabeça baixa em sua mesa, com os braços cobrindo totalmente seu rosto deixando-o como se fechado em um casulo. Passaram alguns segundos antes que eu criasse coragem, mas levantei e andei lentamente em sua direção.

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