Ficamos mais alguns minutos juntinhos no chão mesmo, como três filhotinhos satisfeitos depois de "brincar" muito, era como se o tempo estivesse congelado agora e todo aquele momento tão íntimo parecia durar milhares de anos. Resolvi me "atrever" a cortar nosso silêncio.
- Como estão se sentindo? Perguntei num sussurro.
- Estou me sentindo muito bem- disse Arthur sorrindo.
- Estou me sentindo tão leve- disse Flávio- parece que a gente se conectou de vez, como se fossemos íntimos e conhecidos a milhares de anos.
- Isso é tão fofo Flávio- respondi
- É meio engraçado, eu nunca tive amigos como estou tendo agora, sempre estudei na mesma escola e nunca consegui sequer ter vontade de me aproximar de alguém, desde aquele tempo.
- Que tempo? Perguntou Arthur curioso.
- A nossa escola nem sempre foi grande assim como é hoje, já foi bem pequenininha, sabe?
- Ah, claro, muitas escolas começam assim, que bom que cresceu tanto- eu disse.
- É, mas teve uma época que quase fechou de vez- disse Flávio meio nostálgico.
- Sério Flávio? Como foi isso? Indaguei.
- No começo era apenas meu pai e minha mãe, depois meus dois tios entraram também, mas mesmo assim as coisas não estavam dando muito certo, não sei de detalhes, eu era muito pequeno, mas aí ele chegou e tudo mudou...
- Ele quem? Perguntei curioso quase ao mesmo tempo que o Arthur.
- O Raul, e velhote meu padrasto- Flávio respondeu meio cínico.
- Desculpa dizer isso Flávio- Arthur levantou a cabeça- Mas.. você as vezes não é meio desrespeitoso com ele? Tipo...eu entendo que deve ser chato toda essa coisa de ele ter ficado no lugar que era do seu pai e tal, mas isso acontece toda hora, casais se divorciam e casam com outros. Tem algum motivo pra você lidar tão mal com isso tudo?
- Tem, claro que tem- ele disse quase num lamento- Eu sempre evitei esse assunto né? Não é que eu não confie ou não ache a nossa amizade grande o bastante pra isso é só que... é uma coisa que não diz respeito apenas a mim e... e... eu tenho muita vergonha disso- falou enquanto começava a chorar.
Flávio parou de falar, lágrimas escorriam de seus olhos que agora estavam perdidos olhando para cima e claramente tentando evitar contato com os nossos, era a primeira vez que eu via o Flávio chorar, ele sempre pareceu o mais forte de nós e agora lá estava tão vulnerável, tão triste e sentido por algo que fugia da nossa compreensão e entendimento.
- Olha Flávio- não precisa falar se não quiser, se não se sentir pronto, não pense que isso vai abalar a nossa amizade, ninguém nunca disse que amigos tem que contar absolutamente tudo uns para os outros para serem amigos de verdade, as vezes temos mesmo que guardar algumas coisas só pra gente, não vamos te julgar por isso, vamos respeitar.
- A sua maturidade fede- ele disse dando um sorrisinho de lado bem cínico.
- Sério? Eu disse- Fede a quê? A cocô de cachorro? Ou aquela lama saindo do esgoto lá da esquina? Rimos todos juntos.
- Já notaram que em situações tensas sempre aliviamos com uma piada super sem graça? Falou Arthur.
- Nós somos os "sem graça" disse Flávio enquanto enxugava as lágrimas e agora sorria junto conosco.
- O importante é que estamos juntos- falei.
- Sim, claro- disse Flávio- Eu só realmente não queria que vocês mudassem a visão que vocês tem de certas pessoas por causa da minha imaturidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Novos Anjos
RomanceA Amizade e o amor em um grupo de jovens garotos que vão crescer juntos e descobrir as dificuldades e os prazeres do amor.