Novos Anjos Capítulo 32: Anjo

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Acho que eu já disse antes, a história que vou contar agora é muito dura e difícil para mim, mas acho que é o único jeito de alcançara cabeça dura do Flávio, se me permitem caros amigos leitores vou contá-la em 1ª pessoa, essas são as minhas lembranças.

Imagino que uma das coisas que muitas pessoas tentam forçar a memória é para tentar identificar a partir de que ponto da vida se tem alguma lembrança, as tais primeiras lembranças da vida, existem casos bem raros de pessoas que dizem que lembram até de fatos que ocorreram quando ainda eram bebês de alguns meses ou até mesmo antes disso, já li na internet uma pessoa que diz que lembrava claramente do dia em que nasceu, do hospital e tudo mais, mas eu sinceramente acho que esse caso específico deva ser uma grande lorota, enfim, vai saber né?

Nunca conheci meu pai, mas sei que interagimos pessoalmente em algum momento de nossas vidas, lógico e minha lembrança mais antiga é justamente de um homem me carregando nos ombros, eu devia ter uns 3anos eu acho, foi mais ou menos a época quando meu pai morreu, sei como era seu rosto por fotos mas eu realmente não lembro de quase nada em relação a ele.

Pelo que sei minha família por parte de mãe vem do interior do país, eram pessoas bem simples e meu avô era um desses, apesar de tudo ele sempre foi muito persistente e batalhador, acho que trabalhou de tudo um pouco na vida e conseguiu crescer consideravelmente, eu pessoalmente nunca quis saber de valores, nunca dei importância para isso, mas sei que o meu avô tem muito, muito dinheiro.

Também não tenho grandes lembranças de minha mãe, ela morreu quando eu tinha 5 anos, mas lembro claramente de seus olhos azuis que nem os meus e dos seus cabelos dourados que se destacavam na multidão, sua pele clara era um contraste a maioria das pessoas do Brasil e talvez por isso ela tenha chamado tanto a atenção de meu pai. Também lembro que ela era muito carinhosa e zelosa comigo, mesmo com o pouco que nos tínhamos para viver ela sempre lutou para não me ver triste.

Apesar de tudo o que ela tinha de carinhosa tinha também de teimosa, e só entendi anos depois por qual motivo meu avô tinha tanto dinheiro enquanto nós moramos numa casa pobre em outra cidade longe de toda a família.

A verdade era que o meu avô e minha mãe haviam cortado relações há muito tempo, se durante a juventude eles já tinham suas diferenças a relação desandou de vez quando ela resolveu ir embora de casa com meu pai. Ah sim, esqueci de dizer, meu pai era Europeu, mais precisamente de um país chamado Noruega, tá explicado de onde vem toda essa coisa de cabelos loiros.

Meu pai era um oficial da Marinha da Noruega, quer dizer...nem sei se chamam de marinha por lá mas enfim, esses detalhes não importam no momento o resumo da história é que um dia quando seu navio estava passando pelo Brasil ele conheceu minha mãe e eles se apaixonaram, bem coisa de filme mesmo. Desde o começo ele nunca se deu bem com o meu avô, que não sei como tratou de descobrir os podres do meu pai, não que ele fosse um criminoso ou coisa do tipo, mas meu pai tinha um defeito terrível para meu avô aceitar, ele era tremendamente mulherengo e pelo que diziam ele tratava de arrumar alguma namoradinha em cada porto que seu navio atracava e depois deixava a garota a ver navios, tá eu sei, foi uma piada horrorosa mas me perdoem por favor.

Pelo que minha tia me contou meu pai largou a Marinha e cortou os laços com sua família na Europa só para provar a todos que realmente amava minha mãe e não queria apenas uma aventura, mas meu avô era muito cabeça dura naquela época, juntando isso com o temperamento orgulhoso e teimoso que minha mãe herdou dele foi a receita certa para que se afastassem, meu avô chegou a dizer que ela havia morrido para ele quando ela grávida foi embora de vez com meu pai para outra cidade.

Pelo que sei passamos por muitas dificuldades, meu pai teve muitos problemas em aprender português e o fato de ter abandonado as forças armadas da Noruega só piorava a situação, ele na verdade estava vivendo clandestinamente no país, apesar de tudo não sei como conseguiram registrar meu nome com o sobrenome dele, Paulo Eduardo Karlsen, sim sei que já devem ter percebido, eu não tenho até hoje sobrenome da família do lado do meu avô, ele sempre diz que quando eu for mais velho e entender melhor as coisas vou decidir se quero mudar meu nome mas eu sinceramente ainda pouco penso nisso, então talvez ainda não tenha chegado o momento.

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