O casamento de Vitória e Vicente aconteceu no fim daquele mesmo mês.
Como desejavam, foi uma cerimônia pequena e familiar, organizada na Fazenda dos Castilho e abençoada pelo Padre da cidade. Tia Luzia e Nininha se encarregaram do jantar, Francesco se ofereceu como degustador oficial de canapés, a decoração e os trajes ficaram sob a responsabilidade de Pilar, Amália e Marjorie - que foi quem impediu a mãe de fazer Vitória usar o mesmo vestido com o qual havia se casado. Ela disse à irmã que o livramento das mangas bufantes foi seu presente de casamento, e particularmente, foi um presentão.
Toda a família estava lá naquele domingo, 25 de junho. Tia Vicenza com seu novo marido rendendo uma nova fofoca, Henrique em um terno cinza azulado acidentalmente da mesma cor que o de Francesco, Firmino aproveitando o vinho gratuito, César não muito animado, e até mesmo Marinês estava lá, o que foi uma verdadeira surpresa para todos.
O que era para ter sido uma briguinha besta que se resolveria com alguns dias até que ambas esfriassem a cabeça, acabou se estendendo por semanas infindáveis de silêncio. Vitória ainda tentou conversar com a irmã por duas vezes: Uma no primeiro dia em que Marinês decidiu tomar café no quarto, e outra na semana anterior ao casamento, ambas foram tentativas falhas.
Pior do que brigar aos berros era lidar com o silêncio de Marinês, e se ela não estava disposta a conversar não havia mais o que ser feito.
Ninguém soube com exatidão o porquê de sua ida ao casamento. Francesco tinha a teoria de que ela fora por pura provocação, Amália achava que a mãe a havia obrigado, já Nininha achava que ela tinha ido ver César, mesmo que de longe, pois nem com ele ela fez as pazes - embora os buquês de rosas vermelhas ainda estivessem sendo entregues na Fazenda Villamazzo semana sim, semana não. Fato é que, por qualquer que fosse o motivo, Vitória ficou feliz em ver a irmã ali, foi como uma faísca de esperança de que um dia elas poderiam se resolver, pois era só isso que faltava para que a felicidade dela estivesse completa.
A festa durou a tarde toda e boa parte da noite, com direito a chuva de arroz, vinho, churrasco, valsa, música, e claro, uma grande comoção para saber quem iria pegar o buquê. Premeditado ou não, a convite - e quase uma imposição - dos noivos, Amália e Guilherme foram os padrinhos e, como se já não bastasse a alcunha, foi Amália quem pegou o ramo de rosas amarelas e margaridas ao fim da cerimônia, e assim que ele caiu em suas mãos seu olhar encontrou o de Guilherme imediatamente. Todos viram, mas ela insistiu em negar - como nega até hoje. Sem dúvidas, foi uma cerimônia inesquecível e uma chave de virada para muitas pessoas...
Com a quantia do dote cedido pelo Coronel, Vitória e Vicente compraram uma das propriedades dos Jordão há pouco menos de 20km da Fazenda Villamazzo. Como se fosse obra do destino, a Fazenda era exatamente igual Vicente prometera: Uma casa branca de varanda enorme cheia de janelas, rodeada de amendoeiras e construída no alto de uma colina verdinha onde os primeiros raios solares do dia entravam aquecendo e iluminando tudo. De forma justa, a batizaram Fazenda Alvorada, e mudaram-se para lá logo após o casório.
Viver ali era fácil. Vitória nunca esteve tão feliz e Vicente não parecia diferente, parecia até que ele a amava muito mais agora que eram uma família. Ambos estavam ansiosos para o que viriam a conquistar dali para frente, juntos, dividindo o sobrenome e construindo a própria felicidade do jeito deles. Oficialmente, Villamazzo e Castilho seriam um só.
Da noite para o dia, a felicidade parecia mesmo o único caminho existente na vida de Vitória Villamazzo.
- Vitória?
Num leve susto, Vitória abriu os olhos e se deparou com Vicente de pé ao lado da poltrona onde ela aparentemente cochilara.
- Estava dormindo? Desculpe, acabei de chegar de lá de fora, eu não fazia ideia...
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HERDEIROS
RomanceDetentores da maior vinícola do interior de Santa Catarina, a família Villamazzo nunca soube o que é ter problemas. Imigrantes italianos, todos os cinco filhos do Coronel Carlos Villamazzo toda vida foram criados a pão de ló, e esta era a única vida...