XIV. Plano

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Enquanto de um lado da família as relações pareciam andar de bom a melhor, o caçula dos Villamazzo já não podia dizer o mesmo.
Normalmente, Francesco passava por três fases quando era contrariado: A primeira era a raiva, a segunda mau humor e a terceira, depois de boas horas na segunda, era enfim a aceitação de que ele não teria o que queria. Já estava até preparado. Entretanto, o que ele não imaginava é que existia mais uma fase depois da terceira e que até então devia estar bloqueada: a culpa.

Culpa era um sentimento que Francesco não sentia com muita frequência, mas ele sabia que para chegar a tal ponto ele tinha motivos concretos. A única coisa que não entrava em sua cabeça e só o deixava ainda mais estressado, era que esse motivo se chamava Henrique Castilho.

O italiano passara o resto do dia pensando em Henrique. Pensando se foi realmente uma boa ideia invadir o quarto dele e remexer nas feridas profundas que ele carregava, pensando que se irritar e enfrentá-lo ao invés de tentar convencê-lo a aceitar sua ajuda era quase óbvio que daria errado. Como alguém que só conhece rispidez poderia aceitar a ajuda de alguém que também grita com ele? Todas essas questões encheram o cérebro de Francesco da hora do almoço até o momento em que se deitou para dormir.

Se alguma coisa acontecesse a Henrique, algo ainda mais grave que as agressões, ninguém ficaria sabendo ou daria falta além de Francesco. E ele sabia que se sentiria de alguma forma responsabilizado por saber e não ter feito nada. No fundo, debaixo daquela cara séria e toda a irredutividade, Henrique era apenas um garoto, ele precisava de ajuda...

Não precisava?

- Alou, Terra para Francesco?

Amália cutucou o ombro do irmão com a haste do garfo, Francesco deu um pequeno salto de seus pensamentos. Foi quando percebeu que todos na mesa o encaravam confusos.

- O quê? - ele questionou se endireitando na cadeira - perdi alguma coisa?
- Nós que te perguntamos - Vitória questionou – está completamente calado desde que se sentou a mesa.
- E com essa cara:

Marinês encenou sua melhor e mais exagerada cara de cão sem dono, Amália deu uma risadinha, mas Pilar não achou a menor graça.

- Que acontece, tesoro? Está com saudade dos seus amigos? Posso ligar para o Miguel vir brincar com você.

Marinês explodiu em risadas assim que a mãe terminou de dizer, Francesco revirou os olhos.

- O que foi? - Pilar perguntou verdadeiramente confusa.
- Crianças de dezesseis anos não brincam mais, Mama - Amália respondeu agarrando com as mãos uma coxa de galinha das grandes em seu prato.
- Por incrível que pareça... - Marjorie endossou baixo.
- Eu não sou mais tão criança assim! - Francesco frisou enfesado, Marinês ameaçou rir de novo.
- De fato - O Coronel interviu, Francesco sorriu grato - por isso acho que já deve começar a estudar os negócios da família.

Quase imediatamente o sorriso de Francesco se desfez e resmungando, ele encostou sua testa na beira da mesa decepcionado. Como se já não bastasse todo o estresse, sua família ainda estava toda empenhada em tirá-lo ainda mais do sério.

- É a idade - Sussurrou o Coronel encolhendo os ombros largos, todos deram um pequeno risinho.

A família continuou terminando de limpar seus pratos antes recheados do almoço, quando as portas do salão se abriram num barulho que rasgou o silêncio e deu passagem para o filho mais velho de Tio Sandro.

- Com licença Coronel - Guilherme cumprimentou educadamente - o Senhor tem visitas.

Antes mesmo de saber de quem se tratava, Marinês lançou um olhar empolgado para Vitória, que reprimiu um sorriso. Francesco levantou a cabeça parcialmente, olhando para o pai de canto.

- Diga que estou a caminho, obrigado Guilherme - ele respondeu.

Guilherme acenou com a cabeça e antes de sair, deu um tchauzinho breve para Amália, que sorriu e acenou de volta.

- Deve ser o Firmino - O Coronel limpou os cantos da boca com o guardanapo e se levantou da mesa - com licença a todos.
- Ora papai! Vai sozinho? - Marinês também se levantou num pulo elétrico - nosso dever como família também é fazer sala, não?
- Não? - Marjorie contrariou de imediato.
- Não?! - Francesco repetiu com ainda mais ênfase. Marinês rolou os olhos.

Aquela seria a primeira vez que Francesco ficaria cara a cara com os Castilho depois de saber da verdade, por Vicente até que tudo bem, mas seria difícil controlar suas expressões de desgosto com Firmino e César. Principalmente Firmino que agora era tãaao amigo de seu pai e era realmente bom em fingir ser bom.

- A Marinês está certa - Vitoria se levantou da mesa também, Francesco, Amália e Marjorie encararam-na surpresos - é educado fazer sala, não é mama?
- Claro! - Pilar assentiu acompanhando as filhas - além do mais, ontem a família estava incompleta, devemos recebê-los todos juntos.
- Digam por vocês!

Sem cerimônias, Francesco se levantou da mesa arrastando a cadeira e andando apressado para a saída dos fundos. Ele podia tentar lutar contra seus desgostos mas seria impossível superá-los sendo obrigado a ser gentil com um homem como Firmino.

- Onde pensa que vai Carlos Francesco?! - Pilar gritou para o filho que virou para ela novamente sem parar de andar.
- Ora essa - ele sorriu travesso - estou indo brincar na casa do Miguel!
- Ah! - Pilar exclamou com a audácia do filho - mas é uma peste, VOLTE AQUI FRANCESCO!

Mas ele fingiu que nem ouviu. É claro.


Depois de passar pela cozinha levando consigo alguns pedaços de um bolo de banana que sobrara do café da manhã numa bolsa lateral que ele gostava de carregar para cima e para baixo, Francesco calçou suas botas e de fato, resolveu ir até a casa dos Jordão.

Ainda que tivesse conseguido não ser visto pelos Castilho quando passou com seu cavalo pelos fundos da fazenda, Francesco viu de longe, junto a Vicente e César, Firmino e seu pai se cumprimentarem todo sorridentes, como velhos amigos influentes e respeitáveis, como os homens honrados que a cidade inteira invejava. O Coronel Villamazzo podia até fazer jus aos seus elogios, mas a língua de Francesco coçava quando pensava nos podres que os corredores do Casarão Castilho guardava - e no quanto uma única pessoa pagava por isso sozinho.
Sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha. De novo ele estava em sua cabeça.

Agoniado, Francesco sacudiu a cabeça na tentativa de afastar os pensamentos que estavam ali outra vez. Tentando afastar Henrique de sua cabeça outra vez

Visitar o Miguel até que não era uma má ideia. A última vez que se viram foi na festa de natal da família dele. Ainda que fossem melhores amigos de infância, Francesco não ia muito a casa de Miguel única e exclusivamente por conta de Lurdinha, a irmã mais nova de Miguel e um verdadeiro carrapato apaixonado desde que completou idade o suficiente pra perceber que garotos não são assim tão nojentos.
Ele já fugia dela o máximo que podia no colégio, nas férias então, se tivesse que falar com seu amigo preferia mandar cartas a ir vê-lo. Mas nem que por meia-hora Francesco precisava sair de perto das terras dos Castilho. Quem sabe não era isso que ele precisava para ultrapassar a fase da culpa e enfim chegar na aceitação? Com sorte, Lurdinha teria saído de férias, e com fé para bem beeem longe.

A Fazenda de pimentas Castelo e Jordão, embora relativamente perto, rendia alguns bons metros por uma estrada de terra larga e deserta, então antes de pegar o caminho Francesco decidiu levar Léo para beber água no lago. Ainda era cedo, daria até para pegar algumas goiabas para os Jordão e seguir a principal regra da família que Francesco aprendera ainda muito pequeno: um Villamazzo nunca chega de mãos vazias.

- Pronto, amigo.

Francesco desceu de seu cavalo assim que chegaram no desnível para a margem do lago e conduziu Léo pelas rédeas até a beira da água.
Como sempre, ali estava bastante quieto. O sol das duas cintilava nas águas calmas, as piabas produziam pequenas bolhas na superfície e as árvores chacoalhavam com a brisa leve e fresca decorando as bordas do lago com as folhas caídas. Era um dia perfeito de verão, e tinha sido uma ótima ideia descer até ali antes de ir. Aquele cenário era capaz de acalmar as mentes mais perturbadas.

De olhos fechados e com a brisa nos cabelos, Francesco encheu o peito de ar fresco por alguns segundos, mas quando estava prestes a soltá-lo lentamente um barulho na relva do outro lado do lago o fez abrir os olhos em alerta.

Então Francesco viu algo com tanto ar de piada ou alucinação que lhe fez custar acreditar. Poderia ser uma onça, um jagunço matador, até uma das lendas que a Tia Luzia contava.
Mas quando o sol encontrou os olhos verdes de Henrique Castilho recém chegado do outro lado do lago, ele até parecia uma coisa de outro mundo mesmo, uma criatura mágica, uma fada, uma miragem reflexo da constância com a qual ele não saía da cabeça de Francesco desde que se viram ontem pela manhã. Antes que ele pudesse se questionar se havia ainda mais uma fase até o processo de aceitação e sendo ela a loucura, Henrique apertou forte o pequeno caderno que carregava e respirou pela boca.

Ele estava surpreso. Tanto quanto Francesco. Aquela conversa seria inevitável.



Exatamente na curva que separava os dois lados do lago, há alguns pés da água, Francesco e Henrique sentaram-se iguais. Pernas recolhidas e joelhos lado a lado. Os sapatos marrons brilhantes de tão limpos de Henrique se perdiam em meio ao cobertor de dentes de leão, Francesco sentiu uma leve inveja, pois aqueles mesmos dentes de leão ao invés de embelezarem suas botas acinzentadas de poeira como faziam com Henrique, estavam começando a lhe dar alergia nos tornozelos.
Quase prendendo a respiração para não atrapalhar o silêncio que os envolvia, Francesco observava Henrique de canto de olho. Ele estava imóvel, sereno, quase estático, olhando para a paisagem como se estivesse vendo um lago pela primeira vez na vida. Francesco não se surpreenderia se fosse mesmo.

- Então - A voz de Henrique soou límpida no silêncio das margens do lago, Francesco quase se assustou. Não podia dizer que estava esperando que fosse ele a dar a primeira palavra - estava indo atrás de mim de novo?
- Há! - Francesco riu desacreditado, há que custo aquela primeira palavra hm? - você se acha o último biscoito do vidro, né?
- Estava?
- Não!

Francesco frisou o fuzilando com os olhos, Henrique continuava olhando para o lago como se não desse a mínima. Num misto de raiva e indignação, o italiano soltou o ar dos pulmões e estirou as pernas na grama, levantando uma pequena nuvem de pétalas de dente de leão. E, como se a situação estivesse plenamente normal, puxou sua bolsa e tirou de lá de dentro um pedaço do bolo que trouxera, começou a comê-lo com mordidas no mínimo furiosas.

Henrique o olhou de canto e se esforçou para reprimir um risinho completamente acidental.

- O que foi? - Francesco falou de boca cheia - vai regular minha comida também?
- Eu não disse nada! - Henrique encolheu os ombros.
- Hunf - Francesco resmungou e voltou a comer.

O Castilho continuava com um sorriso raro no rosto, Francesco até tentou manter a compostura mas, num suspiro relaxado, acabou rindo baixinho.
Sem olhá-lo diretamente, Francesco tirou outro pedaço de bolo de sua bolsa e entregou a Henrique.

- Toma - ele ofereceu - se formos ficar em silêncio que seja por um motivo.
- Obrigado - Deixando seu caderno de capa marrom envelhecido escorregar sobre a barriga, Henrique pega a fatia e a segura com as duas mãos acima dos joelhos. Ele aceitara até fácil.

Em sincronia, os dois deram uma mordida e continuaram contemplando o sol brilhando nas águas.

- Se cansou da estufa? - Francesco começou, tentando manter a calma desta vez - ou finalmente resolveu fugir da sua torre, Rapunzel?
- Rapunzel... - Henrique negou com a cabeça.
- E o seu pai é a bruxa velha.
- Justo - Henrique riu de forma um pouco mais significante, Francesco sorriu mais.

Os dois voltaram a um curto silêncio, mas quem o quebrou desta vez foi Henrique.

- Eu queria ver onde era o lago que você disse, fiquei curioso.
- Devo me sentir lisonjeado por te inspirar a sair do seu esconderijo?
- Você tem sido responsável por tantas coisas... - Henrique murmurou quase que para si mesmo, perdido em seus pensamentos. Ele achou que Francesco não tivesse ouvido, mas ouviu.
- Eu não pretendia mais te perturbar, se é o que quer ouvir - Francesco começou a remexer os dentes de leão a sua volta com a ponta da bota - eu entendi bem que os seus problemas não são da minha conta, não consigo mais olhar para a cara velha do seu pai mas, não vou mais interferir. Pode ficar tranquilo.

Henrique olhou para Francesco sentindo o peso das palavras. Ele apertou os lábios e suspirou.

- Sabe que não falei por mal.
- Na verdade, não sei não. Você me detesta desde a primeira vez que nos vimos.
- Eu não...

Henrique levantou a voz de repente prestes a falar algo que ele provavelmente se arrependeria, Francesco o olhou surpreso.

- Não me detesta?! - um sorriso irônico foi surgindo no rosto do italiano, a piada vindo pronta.
- Ora você... você também não pode dizer que gosta de mim! - Henrique sacudiu os ombros.
- Então se nos detestamos porque estamos aqui sentados juntos na beira do lago comendo bolo e levando essa discussão adiante?

Os dois se encararam em pé de igualdade, tentando realmente entender porque não seguiram seu caminho já que um não queria mais contato com o outro e até ontem aquilo já estava decidido.

Henrique ensaiava dizer alguma coisa quando de súbito, um barulho saiu de dentro do matagal vindo do lado dos Castilho.
Completamente assombrado, Henrique agarrou seu caderno e deu um salto de seu lugar.

- O que foi isso? - ele tremulou e se pôs de pé olhando fixamente na direção do barulho.

Francesco se levantou também mas antes que pudesse temer o que poderia estar vindo em suas direções, o barulho se revelou: era uma paca relativamente pequena. Ela saltou de dentro das árvores e na mesma velocidade que apareceu, sumiu correndo, seguindo seu caminho.

Aliviado por não ter sido pego por quem quer que fosse, os ombros de Henrique desmoronaram abandonando parte da tensão e ele resfolegou de olhos fechados.

Normalmente Francesco iria rir e esse seria mais um motivo para ralhar com Henrique, mas vendo como ele ficara afetado com a mínima chance de ser visto, ele só sentiu ainda mais que a melhor coisa a fazer era realmente parar de insistir.

- Eu... bom eu já vou indo.

Henrique se virou quase imediatamente assim que Francesco deu os primeiros passos de volta para seu cavalo.

- Eu ainda tenho que ir a um lugar e pretendo voltar antes do pôr do sol - Francesco endireitou sua sela e apoiou o pé no estribo, já estava pegando impulso para subir quando a voz de Henrique o impediu.

- Eu não detesto você - Ele disse rápido, conseguindo com ta atenção de Francesco.

Francesco apoiou o pé no chão novamente e olhou para Henrique como se tivesse ouvido errado - as palavras e principalmente e altura que foram ditas. Henrique encheu o peito de ar e cerrou os punhos preparando a si mesmo para o que diria.

- Desde que a minha... desde que a Vivian morreu muitas coisas mudaram pra mim, eu parei de sentar à mesa com os meus irmãos, tenho saído cada vez menos do quarto e segundo o Vicente passei de três palavras faladas por dia para uma com sorte, eu até mesmo parei de pintar! Eu já estava achando que aquele luto, aquela dor iria durar pra sempre mas... você apareceu - ele olhou para suas mãos, os dedos apertando firme o caderno - e, sabe eu não sei, parece que alguma coisa mudou.

Francesco estava estarrecido observando o Castilho quase sem piscar embora Henrique não conseguisse olhá-lo de volta nem por meio segundo.

- Eu não sei se depois de agora nos veremos novamente, então antes que eu nunca mis te veja quero que saiba que, por mais que eu odeie admitir, se ontem fiz o meu primeiro esboço em meses e fiquei satisfeito com o que vi - Henrique suspirou profundamente -- a culpa é toda e completamente sua.

Aquilo sim era uma surpresa. Depois de toda a discussão que tiveram, Francesco realmente achou que Henrique não o queria ver em sua frente tão cedo nem se ele estivesse pintado de ouro! Ele se perguntava como foi de Villamazzo enxerido e inconsequente para aquele que trouxe Henrique de volta para si.
Ele pensava em questionar se era normal o Castilho ficar mudando assim de humor ou opiniões com frequência, quando uma conclusão passou por sua cabeça e ele esqueceu de tudo que tinha para fazer, esqueceu dos Jordão, da bruxa velha, do perigo. Tudo!

Ele ter aberto o coração assim do nada só porque sua inspiração voltou, isso só queria dizer uma coisa...

- Espera - Francesco soltou a sela num sobressalto - Acho que eu já entendi o que quer dizer.

Henrique ergueu os olhos do chão, curioso.

- Na verdade eu não...
- Não, não! Nem precisa se justificar, na verdade, é a realização de um grande sonho meu!

Francesco sorriu largamente e ficou repentinamente entusiasmado, Henrique começou a ficar confuso.

- Sonho?!
- Eu sempre quis ser a musa de alguém! - Francesco exclamou todo emocionado.

O queixo de Henrique caiu. Como não imaginou que algo assim aconteceria?

- Santo Deus...
- Não precisa ficar com vergonha, Castilho, você me ter como uma musa... ou muso, se é que esse termo existe... é completamente compreensível! Eu sou lindo, engraçado, simpático, charmoso, italiano... - Francesco enfatizou contando nos dedos seus milhares de predicativos.
- Humilde também - Henrique acrescentou com ironia.
- Você acha?! - Francesco sorriu orgulhoso.
- Não.
- Invejoso!

Francesco lhe mostrou a língua, Henrique revirou os olhos e riu, talvez de descrença diante de tanta bobagem, ou de como Francesco conseguia ser cada vez mais inacreditável quanto mais ele o conhecia.

- Beeem, se então eu sou sua musa - Francesco levou as mãos para trás das costas e começou a caminhar na direção de Henrique, que observava a cena com as sobrancelhas arqueadas - você provavelmente já me desenhou nesse seu caderninho aí... deixa eu ver!

O italiano tentou pegar o caderno com um movimento surpresa, mas Henrique foi mais rápido dando um passo para trás e levantando o caderno o mais alto que conseguia.

- Não! - Henrique frisou, Francesco ficou na ponta dos pés tentando alcança-lo. Henrique era irritantemente bons centímetros mais alto que ele.
- Então você me desenhou mesmo?!
- Ah... não - Henrique respondeu sem um pingo de firmeza.
- Não acredito! - Francesco arregalou os olhos - eu preciso ver como a minha imagem ficaria numa amostra de arte, me dá!

Francesco avançou novamente, desta vez Henrique deu um passo para o lado e o italiano acabou despencando de joelhos no chão sem um pingo de graça.

- Ai! - Francesco choramingou se encolhendo no chão de cabeça baixa.
- Francesco!

Assustado, Henrique agachou até o garoto tentando ver algum mínimo sinal de sangue ou machucado mais grave.

- Você está b... - Henrique mal apoiou sua mão nas costas de Francesco quando ele ergue o rosto com tudo, menos uma cara de dor
- Bu! - ele exclama e arranca o caderno das mãos de Henrique.

Mal dando tempo para Henrique sequer reagir, Francesco se levanta rapidamente e sai correndo sem olhar para trás - mas adoraria ter visto a cara dele.

Francesco se adiantou correndo o mais rápido que podia entre as árvores do lado dos Castilho, quando chegou no campo aberto do outro lado sendo recebido pelo sol forte do pino da tarde, ele abriu o caderno.

- Vejamos - ele umedeceu a ponta do dedo indicador e começou a passar as páginas com pressa - Onde está o rostinho que mamãe beijou?

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