XVI. Visita Surpresa

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- Certo, o que diabos você aprontou dessa vez? - Miguel se apressou em suas pernas curtas para alcançar Francesco assim que ele chegou na área externa dos fundos da casa.
- Acredite em mim - Francesco encostou a bicicleta do amigo na pilastra de madeira do telhado e entrou - é uma longa looonga história.
- Ótimo - ele alcançou o ombro de Francesco - pois tenho o dia todo livre e estou bem curioso pra saber o quão desesperado você estava para pensar em correr pros braços da minha irmã!
- Crianças! - De surpresa, Tia Luzia entrou na cozinha com uma bandeja vazia, os dois se recompuseram - Miguelzinho, há quanto tempo não lhe vejo! Como está?
- Muito bem, Tia Luzia! E a senhora? - Miguel sorriu meigo, como sempre.
- igualmente, querido - ela apertou-lhe a bochecha, Francesco riu baixinho.

Mais que depressa, o olhar de Tia Luzia caiu sobre Francesco e suas roupas e rosto totalmente emborralhados de terra. Ela franziu as sobrancelhas.

- Mas Chiquinho como conseguiu se sujar tanto?! - ela o girou pela camisa o observando, o tecido das costas conseguia estar ainda pior - andaram rolando colina a baixo, foi?
- É! - Rapidamente, Francesco se desvencilhou e sorriu largo - Mas só eu fui, o Miguel me observou de longe, ele não gosta tanto de adrenalina, não é?
- Aham - Ele apertou os olhos na direção do amigo.
- Vocês crianças - ela achou graça - só cuidado para não se machucarem!
- Pode deixar Tia - Francesco sorriu - Agora nós vamos subir, temos muito o que conversar. Até mais!

O Villamazzo apoiou suas mãos nos ombros de Miguel e o foi guiando pelo corredor.

- Diga à Dona Martina que mandei lembranças! - Tia Luzia gritou da cozinha,
- Direi! - Miguel gritou de volta e julgou Francesco com o olhar, ele o ignorou.

Quando passaram pelo arco que dividia o corredor do salão de jantar, Miguel se pôs ao lado de Francesco.

- Você andou rolando na grama por aí? Essa é a longa história?
- Óbvio que não, você me conhece! Seria normal demais para quem está em casa sem fazer nada há quase três meses.
- Ai ai ai, estou começando a achar que minha melhor teoria não é mais você ter jogado uma pedra na janela errada!
- Ah, meu amigo - Francesco riu enquanto eles passavam pela porta dupla entrando na sala de estar - você nem imagina de quem foi a janela dessa vez.
- Pode ir direto ao ponto? Se supostamente era para estar na minha casa, preciso estar a parte do álibi, quase fingi um desmaio para não ter que encarar as perguntas da sua irmã, e aquele Castilho? Deus! Está aprontando com eles né? O jeito que ele me olhou...

Miguel estremeceu só de lembrar, Francesco franziu as sobrancelhas gravando aquela informação.

- Quando chegarmos no meu quarto e as portas estiverem trancadas o suficiente, eu prometo que te conto.
- Pelo amor de Deus, você não matou ninguém né?
- Bem, não... - Frances parou de frente a porta que dava para o saguão e, com as mãos na maçaneta, virou-se para Miguel e sorriu como um gato - ...ainda!

Miguel arregalou os olhos com pavor e no meio de uma risadinha Francesco abriu as portas, mas assim que olhou para frente deu de cara com o último rosto o qual gostaria de ter visto. Seu sorriso sumiu.

- Olhe só se não é o jovem herdeiro dos Villamazzo!

Com um sorriso escondido pela barba densa e grisalha, Firmino fez questão de cumprimentar Francesco com um bom humor gigantesco. Ele e o Coronel estavam lado a lado no meio do saguão, pareciam ter acabado de descer as escadas.
Francesco encarou Firmino com uma insolência que só ele era capaz. Era tanta falsidade naquele sorriso amarelo de anos de fumo queimado que ele se esforçou para não demonstrar a raiva que já não conseguia mais deixar de sentir sempre que lembrava de Henrique. Mas, também por Henrique, ele sabia que não podia tratá-lo como realmente gostaria.

- Olhe só se não é o mais novo sócio do papai! - ele muniu-se de seu sorriso mais cortês.

O sarcasmo. Seu superpoder. Isto bastaria.

- O Senhor já conhece o José Miguel, meu melhor amigo? - Francesco puxou Miguel de trás de si, embora acanhado, o pobre garoto não teve escolha.
- B-boa tarde, Senhor - Miguel gaguejou e acenou - Coronel.

O Coronel Villamazzo fez uma mesura com a cabeça e sorriu.

- É um prazer, Miguel - Firmino e o garoto apertaram as mãos - eu e seu pai somos conhecidos de anos, Os Castelo e Jordão são uma família admirável, e corajosa! Não são todos que tem a coragem de incluir o nome da esposa no próprio negócio.

Firmino riu, grosseiro e com um resquício de tosse no final. O lábio de Francesco tremeu em seu sorriso forçado.

- Obrigado - Miguel respondeu quase em tom de pergunta.
- A família dele é muito respeitada aqui na cidade mesmo - Francesco tomou novamente as rédeas - Muito honrados, reputação impecável, parece até com vocês, Castilho!

Firmino e Francesco se encararam em igualdade. O italiano com aquele sorriso esperto de quem sabia demais, mas Firmino nem tremeu.

- Estamos numa reunião de muito poder hoje não é? - Ele brincou sem qualquer sinal de peso na consciência, Francesco quase se frustrou - Castilho, Castelo e Villamazzo. Não acontece todo dia.
- Estamos carregando o capital dessa cidade inteira em uma única conversa!

Francesco forjou uma risada e ficaram os dois lá, rindo um para o outro da forma mais superficial possível.

- Francesco, porque não vai para o seu quarto com o Miguel, hm? - O Coronel sugeriu começando a achar tudo meio estranho.
- Tem razão papai, tem razão - Francesco se recuperou da falsa risada - tenho uns quadrinhos novos pra mostrar ao Miguel, vamos?

Miguel concordou com a cabeça e lá foram os dois subindo os degraus de granito branco da escada.

A cada degrau, as vozes de Firmino e do Coronel iam diminuindo, e Francesco podia sentir os olhos de Miguel fervilhando em suas costas. Ele teria que inventar uma história muito boa para tudo isso, e teria que soar mil vezes mais convincente, pois esse é o preço a pagar quando se tem uma amizade de quase dez anos.

Assim que chegaram ao quarto e a porta foi fechada, Francesco se jogou em sua cama com os braços esticados para cima num suspiro pesado.

- Velho odioso... - ele resmungou baixo.

De olhos fechados, o italiano aguardou que seu amigo recomeçasse as perguntas depois de tudo que viu e ouviu. Mas, ao contrário do que imaginava, quando Francesco ergueu a cabeça do colchão e olhou para Miguel, o garoto estava parado na mesma posição, de braços cruzados o encarando com as sobrancelhas louras franzidas e os olhos azuis em risquinhos.

- Certo - Francesco se jogou de volta em sua cama - pode questionar minha moral, escutarei quietinho.
- Por Deus Francesco! Eu posso não te ver há semanas mas isso não quer dizer que deixei de te conhecer.

Miguel se sentou na beira da cama e deu um peteleco no joelho de Francesco, ele sorriu.

- Pelo menos eu acho que ainda conheço - ele sugeriu calmamente - Já vi você fugindo que nem cachorro ladrão de qualquer coisa relacionada à Vinícola milhares de vezes! Mas, você literalmente parou uma fuga pra conversar com o novo sócio do seu pai, e você não faria papel de herdeiro fútil atoa.

Emburrado, Francesco se sentou novamente e olhou para seus pés balançando no ar.

- Não vou com a cara dele - Confessou.
- Hm...

Francesco olhou para o amigo que continuava com a mesma cara de antes.

- É sério! - Francesco se levantou do colchão, indo até o baú de madeira na ponta de sua cama onde guardava seus gibis - Fui passear por aí, ver umas paisagens novas, rolar umas colinas, fui gastar tempo até eles irem embora! Você mesmo disse que eu não ligo pra Vinícola.

Francesco deu de ombros, Miguel inclinou a cabeça.

- Então a longa história é que você não gosta do novo sócio do seu pai?
- Exatamente meu caro amigo! - Francesco piscou - você deve ter ouvido por aí, chuva, destruição do vinhedo, almoços, mistérios, tempestades em copos d'água, me diga se não é uma longa história?
- Bem, sim! Mas e a tal da possível morte?
- Minha mãe! - Francesco deu de ombros - Dona Pilar vai me dar uma bronca daquelas quando souber que já estou em casa, ou morre eu ou ela de nervoso.

Francesco deu uma risadinha e continuou mexendo no velho baú. Miguel apertou os lábios.

Miguel era uma pessoa extremamente bondosa. Do trio formado por ele, Francesco e Nando, era de longe o mais certinho, o cérebro do grupo, mas isso definitivamente não significava que ele era bobo. Por alguns breves segundos ele até se convenceu de que era isso mesmo, mas havia alguma coisa diferente no rosto de Francesco que não o deixava se conformar completamente.

Enquanto ele tirava as pilhas de gibis do Batman de dentro de seu velho baú de madeira, o olhar dele parecia um tanto perdido, fora de órbita.

- Sabe quando foi a última vez que te vi com essa cara de cachorro sem dono - Miguel começou o mais franco que pôde - Na sexta série. Quando você se meteu numa briga com aqueles garotos do científico para defender o Nando quando a mãe dele foi embora pro exterior, quase foi suspenso e ainda levou um soco no olho!

Francesco ergueu a cabeça e os dois se encararam. A preocupação saltando dos olhos de Miguel.

- Você só encrenca com alguém quando tem um motivo bem grande, você ignora a Vinícola mas não ignorou o Firmino! E você nunca liga pro que sua família vai dizer tanto que naquele dia fez questão de ir pra sua casa no fim de semana exibir suas marcas de guerra! Você nunca vai pra casa no fim de semana!!!
- Ai não exagera! - Francesco se levantou de supetão - eu... e-eu já te falei! o santo não bate e eu não posso arrumar confusão por causa dos negócios da minha família! Eu... - ele suspirou - eu posso estar evoluindo, isso não é algo bom?
- Ah Francesco! - Miguel também se levantou e cruzou os braços - te conheço desde que éramos crianças!

Francesco sentiu seus ombros ficarem tensos e prendeu a respiração. Dava pra ver que Miguel não desistiria até saber o que estava acontecendo, e sabendo como ele era ansioso, todo tipo de tragédia podia estar passando por sua cabeça. Francesco nunca, em todos aqueles anos, escondeu algo de seu melhor amigo, era até natural ele ficar preocupado com o quê ele poderia esconder a ponto de não contar nem pra ele!

Os dois se tornaram amigos após Francesco acidentalmente atear fogo numa cortina do altar da igreja quando tinham dez anos e Miguel acobertá-lo na mentira de que as velas caíram sozinhas. A amizade deles se construiu em cima de um segredo que permanecia até aqueles dias, se não confiasse nele, em quem confiaria?

E afinal, quem ele queria enganar? Estava maluco pra contar pra alguém!

- Tá - ele soltou o ar de seus pulmões e passou a mão pelo rosto - você tem razão, eu não fugi de casa atoa hoje.

Miguel puxou Francesco de leve pelo ombro e os dois se sentaram na beira da cama, ele se atentou ao que o amigo diria.

- O que aconteceu pra você sair de casa? Descobriu um golpe? Te ameaçaram?
- Não! - Francesco frisou calmamente na tentativa de acalmar Miguel e seus pensamentos sempre desesperados - Eu não menti quando disse que ia até sua casa, estava prestes a pegar o caminho de sempre, só que não cheguei a realmente ir porquê..

"Desculpa Henrique" - ele pediu mentalmente e suspirou uma última vez reunindo coragem.

- ...você acreditaria se eu lhe dissesse que Firmino Castilho tem um filho fora do casamento?

As palavras deslizaram pela boca de Francesco com facilidade e quando elas chegaram aos ouvidos de Miguel foi como se o garoto não tivesse entendido no início, porém pouco a pouco seu rosto foi reagindo, as sobrancelhas se ergueram, os olhos azuis se abriram cada vez mais e então seu queixo caiu.

- O quêeee???????? - sua voz saiu num fio soprado e completamente descrente.

Como se virassem a chave da fala em Francesco, ele praticamente derramou a história toda para Miguel. Do primeiro encontro na estufa ao encontro repentino no lago ele contou tudo! Não entrou em muitos detalhes sobre as afrontas que levou de Henrique e talvez tenha exagerado um pouco quanto a reação dele ao seu triunfo de descobrir seu nome em menos de 24 horas, mas Miguel não estava nem aí para Francesco e suas hipérboles.
Ele ouviu tudo quase sem piscar, chocado e terrivelmente entretido com tudo que ouvia. Fora que ficou aliviado de saber que Francesco não estava tão encrencado assim - pelo menos não tanto quanto achou que ele estaria com tanto mistério.

- ... aí eu não sei se foi uma luz divina, telepatia, ou forças além desse plano mas me deu um estalo e eu resolvi voltar pra casa, e quando eu te vi conversando com a Vitória... - Francesco deu um sorriso nervoso - o desespero fez meu corpo agir sozinho e quando vi eu já estava te arrastando pra dentro de casa.

Francesco recuperou o fôlego se sentindo mais leve que uma pluma. Miguel o encarava ainda muito chocado.

- E você descobriu tudo isso em quanto tempo mesmo?
- Quatro dias - Ele exibiu um sorrisão orgulhoso.
- Por favor me lembre de nunca mais te deixar sentir tédio!

Francesco riu e acenou com a cabeça, Miguel se jogou de costas na cama e riu também.

- Tem noção de que a cidade está em polvorosa por essa sociedade? Tem gente que já está falando da Festa da Uva e aposto que as sementes ainda nem foram plantadas! Essa cidade lambe as botas dos Castilho há décadas! Imagine o estrago que uma informação dessas não faria se caísse na boca do povo?

Francesco se deitou também, os dois se olharam.

- Agora você entende o porquê de toda a cerimônia?
- Completamente... desculpe pela insistência, inclusive - Miguel fez um biquinho e baixou o olhar - Fiquei preocupado.
- Está tudo bem - Francesco deu uma cotoveladinha no ombro de Miguel - eu também ainda te conheço. Acha que esqueci daquele dia que resolvemos escapar do internato pra ir a uma festa de rua e você tremia tanto de nervoso que batia os dentes?
- Huh, nem me lembre disso! - os dois riram - Eu não sei até hoje porque aceitei ir junto com vocês! Fora que essa festa foi o maior fiasco...
- Foi um fiasco pra você que não conheceu nenhuma garota.
- Como se você também não tivesse mofado no banco da praça junto comigo esperando o Sizenando desgrudar daquela garota cigana.

Miguel lhe mostrou a língua, Francesco fez cara de ofendido, mas logo os dois estavam rindo novamente. Em dado momento, Francesco suspirou e sorriu olhando para o teto, o olhar novamente perdido.

- Às vezes eu me coloco no lugar do Henrique, sabe? - Francesco disse pensativo - ele vive dentro daquela mansão há 17 anos! Nunca deve ter saído nem daqui dos arredores, ele não tem amigos, não vai ao colégio, não conhece ninguém além dos irmãos e empregados. Isso não é terrivelmente solitário?
- Talvez seja esse o seu papel na vida dele - Miguel responde - é arriscadíssimo, claro! Mas, sinceramente, acho que não há ninguém mais indicado pra lhe apresentar o mundo que você.
- Será?

Miguel olhou para Francesco e, embora ele estivesse com aquele mesmo olhar a quilômetros de distância, desta vez Miguel pescou algo que ele não havia percebido da primeira vez. Uma espécie de sinergia. Um sentimento tão particular que poucas pessoas conseguiriam reparar, mas ele sabia. Ele sabia bem.

Os olhos de cobalto vivo de Francesco brilhavam, a pupila estava dilatada, a pele coberta de sardas irradiava um rubor discreto mas significante e havia um sorrisinho que não abandonava seus lábios.

- Gosta bastante dele não é? - Miguel perguntou casualmente.
- Está com ciúmes, Miguelito?
- Claro que não, sei que sou o único no seu coração.
- Ainda bem que você sabe - Francesco apertou as bochechas coradas de Miguel que reclamou, eles riram - bem, nós nos desentendemos bastante, somos muito diferentes! Todas as vezes que nos encontramos discutimos, e ele não me ajuda sendo tão "grande dono da razão" daquele jeito.
- Ah! - Miguel arfou - não me diga que finalmente encontramos alguém que não cede aos teus encantos?
- Pois é, dá pra acreditar?! - Francesco rebateu numa indignação genuína - pelo visto é difícil pra ele reconhecer que eu estou sempre certo.
- Ah, claro claro, com certeza - Miguel riu e revirou os olhos. Frances sendo Frances.
- O Henrique é tudo isso: esnobe, metido, chato, genioso, orgulhoso, ranzinza! Mas...
- Mas..???? - o amigo entoou curioso.
- Ele também é gentil quando quer ser. É um pintor talentoso, é sensível, tem um sarcasmo peculiar e uma força que eu não sei de onde tira porque olhando de fora ele parece tão... frágil! É vergonhoso ter de admitir assim em voz alta, mas talvez eu não o odeie tanto quanto imaginei.

Miguel teve de se segurar para não ter uma reação exagerada, mas não poupou um sorriso afetuoso, e um tanto melancólico. Ali, em seus pensamentos, ele se perguntou se Francesco já sabia.

- O amor e o ódio caminham lado a lado sabia?

Miguel se sentou e Francesco o acompanhou.

- Isso quer dizer que um dia sua irmã vai me odiar e eu vou poder voltar a comer a torta de limão da sua mãe? - ele se empolgou com o vislumbre da liberdade de sair do radar de Lurdinha.
- Ah eu não contaria com isso tão cedo - Miguel gargalhou, Francesco choramingou - ela ainda é perdidamente apaixonada por você, nem o noivado está adiantando!
- Então Maria de Lurdes Castelo Jordão vai mesmo se casar?! - Francesco mal acreditava em suas palavras, Miguel acenou com a cabeça.
- Estão querendo realizar a cerimônia na primavera do ano que vem. Ela está fazendo de tudo pra adiar embora o papai esteja desesperado pra casá-la.
- Eu não vou perder essa festa por nada! - Francesco bateu palmas, Miguel negou com a cabeça - e quem é o felizardo, hm?

O sorriso de Miguel murchou de repente e ele se esforçou para não deixar seu abatimento tão aparente.

- Você não vai nem acreditar...
- Diz logo! Diz logo!
- Valério Candêias.
- O FILHO DO BANQUEIRO?! Aquele altão que diziam que tinha um quarto só pra ele no internato?
- Ele mesmo - Miguel melodiou sem entusiamo - papai não está pra brincadeira não, Frances, escolheu logo um dos homens mais ricos da cidade, e pra piorar o Valério é filho único, quando o pai dele morrer vai ficar milionário! E pelo andar da carruagem a Lurdinha também...
- Cruzes - Francesco estremeceu – mas olhe pelo lado bom, pelo menos o Valério é só cinco vezes mais alto que ela, não cinco vezes mais velho.
- É, tem razão - Miguel deu de ombros - ele não é um mau partido no fim de tudo sabe? Ele trata minha irmã muito bem, bem até demais! Traz presentes, faz elogios... acho até que está apaixonado.
- E a Lurdinha?
- Só tem olhos pra você - Miguel sorriu afiado
- Meu Deus, eu não fazia ideia da intensidade dos meus poderes de sedução...

Francesco fez uma pose passando os dedos pelos cabelos e apoiando uma mão sobre o peito de forma dramática. Miguel riu e sussurrou um "ai ai" ao fim.

- A Lurdinha está lá, digerindo a situação. Ela odeia ser tratada como um objeto de troca e eu não a julgo, mas já chegou a dizer que aguentaria um casamento sem amor se fosse pra continuar no conforto com o qual está acostumada - Miguel suspirou - é uma fútil, assim como os meus pais.

Francesco apoiou sua mão no ombro de Miguel em conforto.

- Às vezes é assustador como as pessoas são movidas a dinheiro - ele desabafou - estão dispostas a tudo, até a trair os próprios sentimentos!
- Miguel você é um romântico, sabia? Sua irmã vai ficar bem, eu sei que você queria muuuito que eu entrasse pra sua família e tudo mais mas sabe como é, eu tenho um espírito livre...

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