Sangue começou a escorrer pela narina esquerda de Heraclio. Apenas sentiu um rastro quente escorrendo ao estacionar o carro. Então, levou uma mão até o rosto, com o dedo indicador e médio limpando o espesso e rubro líquido. Inicialmente, assustou-se, até começar a entender o que estava acontecendo.
— Está tudo bem? - Freddie, no banco ao lado, perguntou. Heraclio continuava a encarar seus dedos.
— Nada que precise se preocupar. - Respondeu, seco.
— Isso é por causa do clima! - Monica inclinou-se para frente, colocando os braços um em cada banco da frente. — Principalmente pelo clima seco do outono!
— Mas como ele vai ser afetado pelo clima dentro do carro? - Ariel perguntou, recebendo um olhar de Monica sobre seu ombro.
— Isso não exclui o fato de que o clima está seco!
Ariel deu de ombros, curvando os lábios para baixo, ponderando com o que Cornell havia dito. Heraclio encarava as duas, com certa repreensão, algo que foi notável por ambos. Com isso, Monica voltou a se sentar no banco de trás, basicamente saltando para fora nos segundos após. Ariel, como não era idiota, seguiu Monica no mesmo instante.
Heraclio suspirou fundo, voltando a encarar o horizonte. Apenas saiu desse abismo mental quando notou a mão de Fernando balançando em sua frente, lhe oferecendo um pano branco e limpo. Com um sorriso mínimo nos lábios, aceitou-o, colocando contra o nariz para parar o sangramento.
— Não se preocupe, senhor Nariz Sensível. - Freddie brincou, fazendo o irmão revirar os olhos, mas ainda se divertindo com isso. — Você tem isso desde os cinco anos, não vai morrer agora aos quarenta!
— Mas ainda tenho chances de morrer.
— Não por causa disso. - Freddie ajeitou a mala em seu colo e abriu a porta ao seu lado. — Seria um daqueles casos que você morreria com isso, mas não por causa disso.
E saiu do veículo, carregando a mala cheia de fósforos. Heraclio o seguiu, ainda com o pano em seu nariz. O manicômio sempre estava com a mesma atmosfera, a mesma brisa sutil porém fria, tudo parecia estar sempre completamente cinza.
Mas, antes que pudesse se entediar com a paisagem, o garoto Lennart saiu de um canto dos arredores do lugar, correndo o mais rápido que conseguia para alcançar o grupo recém-chegado. Atrás de si, estava a cadela beagle, latindo compulsoriamente. Monica, imediatamente, pegou o animal atrás do garoto, pensando que o problema seria esse.
Então, o garoto começou a gesticular freneticamente alguma coisa, puxando Monica pelo braço. Ariel segurou nos ombros do mais novo, notando o quão agitado e desesperado que ele estava. Indicou para que ele se acalmasse, mas estava sendo uma tentativa falha.
— Afastem-se, por favor. - Freddie pediu, com a voz calma apesar de preocupado. Abaixou-se, ficando na altura de Lenin. ''O que aconteceu?''
''O Michael sumiu. Já fazem dias que eu não vejo ele.'' Ele disse, com a sua respiração ficando cada vez mais acelerada. ''E eu achei algo na floresta.''
''Onde?''
E o mais novo voltou a correr, na direção ao qual havia vindo. Heraclio, no mesmo instante, sentiu sangue sair da sua outra narina. Apertou o nariz contra o pano em suas mãos, precisando respirar pela a boca durante aquela corrida.
Lenin, certamente, era o que melhor sabia o que estava acontecendo e para onde estava indo. Desviava das árvores com extrema facilidade, seja pelo seu corpo pequeno e esguio se dar bem com ambientes como aquele, ou pelo fato de já conhecer a floresta como se fosse uma velha amiga. Não respeitava caminhos pré-estipulados, pulando pela ladeira até o rio como se soubesse exatamente onde cair.
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Hermético
HorrorEm 1929, a crise na bolsa de valores não foi um agravante somente para os Estados Unidos. Ainda se recuperando dos estragos causados pela Grande Guerra, a Inglaterra se vê ainda mais afundada dentro de suas fábricas e empregos cansativos, em busca d...