Aquilo não era uma simples floresta, Ollie sabia disso.
Era por isso que ele estava correndo? Nem ele era capaz de dizer. Mas sentia algo que havia esquecido a sensação já fazia anos: o seu coração acelerado, a respiração ofegante e o suor respingando em sua pele. A adrenalina bombeava por todo o seu corpo como se fosse explodir a qualquer momento. Estava vivo, pela primeira vez, e isso era terrível.
Suas pernas estavam completamente destruídas, como se ele estivesse correndo já fazia uma eternidade. Não conseguia sentir suas presas avantajadas, estava completamente indefeso de o que quer que esteja o perseguindo. Naquele momento, começou a refletir sobre o que estava fazendo, não havia motivos para ele estar correndo daquele jeito.
E, dessa forma, se desconcentrou em sua caminhada e tropeçou pelo chão. Saiu arrastado pela grama e pela terra, sentindo os dejetos pinicarem sua pele. Então, recuperando-se da queda, virou com o corpo para cima, sentindo a dor mortal lhe afetar e pesar em suas costas, como uma pilha de pedras.
Virou-se de barriga para cima e encontrou o motivo dele estar correndo. Olhou, paralizado no chão, conforme a criatura que encontrou no túnel se aproximando. Com seus olhos de lâmpada, pernas esguias e um manto capaz de devorá-lo em sua escuridão. O seu desespero voltou, engatinhava para trás da maneira que podia, mas estava sem saída, precisava fazer alguma coisa.
Acordou com um grito aterrorizante, assustando todos os presentes no quarto da enfermaria. Diana quase pulou da cadeira que estava sentada. Já havia virado a noite acordada, esperando alguma resposta do irmão, mas ele estava em sono profundo. Agora, que havia decidido apoiar a cabeça em sua mão e descansar um pouco, o desgraçado finalmente mostrou que estava vivo. Ou melhor, morto-vivo.
Oliver notou o que havia feito, identificando o lugar que estava, e sorriu amarelado. Minerva, sentada na maca ao lado, apenas revirou os olhos, esfregando a têmpora esquerda. Marisa, apoiada de costas à porta da enfermaria, soltou uma risada baixa com aquela cena. O lugar estava escuro, com somente uma fresta da janela aberta, para evitar queimaduras na pele de Ollie.
— O que aconteceu? - Diana foi a primeira a perguntar, inclinando o corpo para frente.
— Eu só tive um sonho estranho, nada demais. - Respondeu, passando a língua pelos dentes, suas presas estavam de volta.
— Se fosse somente um pesadelo, você não acordaria gritando. - Minerva contra-argumentou. Diana balançou a cabeça, concordando.
— Considerando que algo havia o possuído nessa madrugada, esperava uma reação pior. - Marisa falou, afastando-se da porta e se sentando na maca em que Oliver estava. Diana e Minerva se entreolharam rapidamente, até voltarem para o que estavam fazendo.
Diana havia respirado fundo antes de dizer sua próxima pergunta, até qualquer diálogo do recinto ser interrompido pela porta sendo aberta com força, fazendo seu barulho ecoar pelo cômodo. Naquele momento, Minerva perguntou-se sobre a capacidade de um membro da Ordem de Crowley adentrar em algum lugar normalmente. Iria escrever para Yuliana mais tarde sobre isso.
Alphonse Vallancourt foi o indivíduo que havia acabado de entrar, ofegante e com a determinação flamejando em seu olhar. Kostya, atrás do homem, se encolheu e traçou um caminho oposto, fingindo não estar envolvido com aquilo. Alphie disparou em direção a Oliver, fazendo Diana se perguntar se não era para o recém-chegado estar internado junto com seu irmão naquela enfermaria.
— O que você viu? - Alphie indagou, diretamente para Ollie. O vampiro olhava para ele com certa confusão, além de se sentir um tanto intimidado pela proximidade que o homem estava dele.
— Como assim?
— A criatura. - Esbravejou. — Como ela era?
— Alphie, o que você pensa que está fazendo? - Diana questionou, apesar da voz sonolenta, ainda conseguia impor respeito. Mas, Alphie pareceu ignorar.
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Hermético
HorrorEm 1929, a crise na bolsa de valores não foi um agravante somente para os Estados Unidos. Ainda se recuperando dos estragos causados pela Grande Guerra, a Inglaterra se vê ainda mais afundada dentro de suas fábricas e empregos cansativos, em busca d...