Capítulo 6

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Abel ergueu as sobrancelhas, mesmo que sua expressão facial fosse completamente neutra durante todo o relato de Anita. Não que menosprezasse sua história ou não a achasse triste o suficiente para comovê-lo, apenas ouve relatos similares todos os dias. Mas, deveria admitir, achava uma atitude nobre da mulher decidir acabar com aquilo nela, e não estendê-lo para o futuro de sua filha e possivelmente netas, bisnetas e enfim.

    Alexander e Gwendolyn já estavam entediados daquela história, especialmente Alex. Ele apenas decidiu ir para a base naquele dia para ajudar sua esposa, Maude, não para se envolver em traumas familiares com desculpas religiosas. Não necessariamente religiosas, eram desculpas sobrenaturais, ao qual ele achava igualmente patético.

    Juntamente com Calidora, Gwen estava um pouco mais investida que o irmão, apenas queria ir logo para o que estava dentro daquela caixa. Não conseguia ler com suas mãos o que estava lá dentro, era um completo enigma. Clark era o único naquela mesa com um olhar menos curioso e mais compreensivo, tendo sentado-se em uma cadeira próxima a Anita e conseguindo sentir sua melancolia à distância.

    — Nós não iremos a lugar algum se continuarmos com isso. - O Hill disse, direto e ligeiramente grosso, beirando à uma ordem. — Abra.

    — Ei, não fale com minha mãe desse jeito! Quem você pensa que é? - Callie se exaltou, pulando para cima da cadeira e se levantando em cima do assento, fazendo punhos com as mãos.

    — Ótima escolha de palavras, senhor sabichudo. - Sussurrou Gwen, com um sorriso de canto.

    — Eu menti, garota? - Alexander gritou para a garota, incrédulo.

    — Callie, sente-se, agora. - Anita ordenou, sendo prontamente obedecida pela filha.

    Calidora sentou na cadeira, propriamente, mas extremamente emburrada, com os braços cruzados e semblante fechado. Ela iria acabar com aquele inglês mesquinho se lhe deixassem. Anita, então, olhou para Alexander, com um olhar severo, ao qual o Hill estendeu as mãos em dúvida.

    — Repito minha pergunta para você: menti? - Insistiu, com o mesmo tom de antes.

    — Não, mas poderia deixar de ser tão... - Fingiu estar pensando na palavra ao qual iria completar sua frase. — insuportável.

    Alexander levantou uma sobrancelha, com o semblante completamente neutro. Iria prosseguir com sua argumentação, se não percebesse em sua visão periférica a sua irmã, com os braços cruzados e apoiados na mesa, segurando-se para não se explodir em gargalhadas. Deu um fraco chute na perna dela, apenas como repreensão, ao qual não funcionou e Gwen precisou se segurar ainda mais.

    A caixa ao centro da mesa voltou aos braços de Anita. Delicadamente, desatou os nós ao redor da caixa de sapatos, entre as várias cordas ao seu redor e os laços não muito fortes, como se fossem para ser desatados, independente de quem fosse o abrir. Então, a caixa estava sem cordas ao seu redor, e com isso, ela retirou a tampa do objeto.

    Ajeitou as luvas em suas mãos, agradecendo por ter se lembrado de vesti-las. Retirou da caixa, somente, um colar por sua corrente. Era banhado em ouro, que parecia completamente verídico, até mesmo os olhos acostumados de Dina Lithgow iriam concordar com eles. O seu pingente, com um retrato de ouro, era uma jóia rubi, extremamente brilhante.

    Todos na mesa pareciam ter seus olhos imediatamente vidrados no reflexo rubro do pingente, como se fosse uma brasa de fogo em meio à noite. Gwen não conseguia explicar, mas conseguia sentir as mãos formigarem desde o momento que o objeto saiu da caixa, era uma sensação agonizante. Então, Anita colocou a caixa e barbante para baixo, ao lado do pé da mesa, enquanto colocava o acessório novamente ao centro da mesa. Alexander deu uma risada nasal, sarcástica.

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