Capítulo 23

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Atílio ouviu o barulho de algo atingindo sua janela. Um som pequeno, irrelevante, mas que foi o suficiente para acordá-lo. Lembrou-se das inúmeras vezes que os pequenos Fernando e Heraclio brincavam e sempre acabavam destruindo algo, a memória já era capaz de irritar mais ainda Atílio, que já não conseguia mais dormir.

Resmungou algum palavrão em espanhol, ao qual nem mesmo ele conseguia decifrar pelo seu cansaço no momento. Tateou por debaixo dos seus travesseiros, empunhando a arma que guardava para aquele tipo de situação. Sinceramente, já não temia qualquer consequência de suas ações já faziam anos, no máximo poderia morrer em tranquilidade na prisão, sem precisar ouvir as vozes dos filhos ou se importar com qualquer assunto da Ordem de Crowley, já havia dito que não gostaria de ouvir aquela baboseiras em sua casa, mas a sua prole simplesmente insistia que aquilo existia.

Verificou as balas no tambor de sua pistola, ainda estava cheia, finalmente poderia utilizá-la. Tossiu forte logo em seguida, reclamando logo depois e levantando-se em direção a porta do quarto, marchando. A arma em posse de sua mão direita como se fosse um soldado em campo de batalha, mas no caso, estava lutando com um inimigo invisível.

Abriu a porta do quarto com toda a sua força, não havia nada além da escuridão. Seus passos afundavam na madeira, emitindo um som por todo o corredor, ninguém se opunha, ninguém o via. Resmungou algum outro palavrão antes de descer as escadas correndo, imediatamente indo em direção a porta. Demorou para encaixar a chave na fechadura, mas assim que a abriu, praticamente empurrou para longe, indo para fora de casa e apontando sua arma para quem quer que estivesse o atormentando em sua noite de sono.

A noite encarou Atílio, nada o atormentava mais do que o próprio silêncio da floresta. Averiguou o suficiente para a sua preguiça no momento, ninguém parecia estar aos arredores, somente as árvores pareciam escutar seus passos e pensamentos, nem mesmo os animais tinham coragem de aparecer por ali. Bufou em raiva com aquilo tudo, ao menos era algo que deveria estar preocupado, mas conseguiu tirar todo o seu sono.

Voltou marchando de volta para casa, fechando a porta e ecoando o barulho estrondoso por toda a casa, mesmo que seja somente um sussurro para a noite. Foi em direção a cozinha, tossindo forte enquanto tentava se lembrar do objetivo que tinha. Abriu os armários da cozinha, atrás das xícaras de chá e um bule. Soltou um suspiro cansado enquanto enchia o bule com água e o colocava no fogo.

Preferia infinitamente mais uma boa xícara de café do que o gosto aguado do chá. Mas, em Murbrook, não conseguia achar o mínimo de produtos decentes, somente mais bolsas e bolsas de chá que parecem ter o mesmo gosto. Entretanto, antes que pudesse entrar mais fundo nesse tópico inútil, novamente ouviu o barulho inicial. Estava mais perto, como se fosse atrás de si.

Apossou-se novamente de sua arma, virando-se de imediato para trás. Em passos lentos, saiu da cozinha, alerta a todo instante. Por isso, conseguiu ver perfeitamente uma sombra subindo em sua escada. Apontou a arma para a sombra, mas ninguém estava lá. Seja no andar de cima ou no andar de baixo, nada.

A chaleira emitiu um sinal de fumaça, borbulhando para fora e fazendo Atílio se estressar novamente. Correu novamente para a cozinha, tirando o objeto do fogo, apagando-o e despejando na xícara ao lado. Deixou sua arma sobre a bancada, colocando as folhas no líquido quente e olhando impaciente para a água.

Então, ao pé de seu ouvido, escutou o mesmo barulho que o assombrava. Levou um susto, olhando para o lado e não encontrando quem seria o responsável. Antes que pudesse reclamar de algo, ouviu o barulho de passos, casualmente rangendo no chão acima de sua cabeça. Um burburinho também surgiu, acima de si, como se não estivesse sozinho. Sua espinha simplesmente congelou no momento.

Engoliu a água quente de sua xícara e saiu correndo para onde estava acontecendo aquilo tudo. A arma ainda estava na bancada da cozinha. Ele estava completamente indefeso para quem quer que seja.

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