Capítulo 15

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GABRIEL POV’S

Tudo naquela balada estava saturado, a única coisa que tinha de bom era a música e ter encontrado algumas pessoas do meu dia a dia lá. Quando estava prestes a ir embora, uma mulher loura me parou e me beijou à força, sem nenhuma explicação. Eu cuidadosamente me afastei dela e olhei ao redor. Vi uma movimentação estranha vindo do balcão de drinks e me lembrei que Victória havia me dito que iria para lá.

– Com licença! – falei várias vezes passando pelas pessoas que estavam próximas ao local

A cena foi um tanto estranha, Victória estava sentada no chão olhando ao redor, como se estivesse desconectada do mundo. Seu cabelo estava bagunçado e a sua roupa estava amassada. O homem à minha frente tentava levantá-la, mas meu braço e perna não respondia, eles estavam moles.

– Meu amor! Levanta! – disse o homem que tentava mais uma vez puxar a menina – levanta logo!

– Com licença. Você conhece essa menina? – perguntei ao chegar próximo ao ouvido do homem

– Claro! Ela é minha namorada – eu ri pelo nariz e ele me olhou sem entender – quem você pensa que é pra rir assim? Ela é minha namorada, quem cuida dela sou eu

– Eu sou o primo dela. Sei que ela não tem namorado. Vaza! Antes que eu chame o segurança para te tirar daqui e te levar para a delegacia – falei ainda próximo ao seu ouvido. Ele parecia nervoso, então se levantou e foi embora – alguém me ajuda a colocar ela na minha costa? – algumas pessoas me ajudaram e consegui colocá-la em minha costa, como uma mochila

Andei até o estacionamento do local com ela em minha costa, no começo foi difícil, mas depois de me acostumar com um peso a mais, fui tranquilamente. O homem que tomava conta dos carros, olhou um pouco assustado para mim, devido a menina estar desacordada atrás de mim.

– Ela não parece estar bêbada. Mais um ‘boa noite, Cinderela’? – ele falou baixo como se estivesse falando para si mesmo – aqui está a chave do carro, senhor

– Obrigado – peguei a chave e sorri para ele – você pode me ajudar a colocar ela no carro?

– Sim, senhor

Ele me acompanhou até próximo ao carro que não estava muito longe de onde ele ficava e me ajudou a colocá-la lá. Agradeci ao homem, coloquei o cinto nela e entrei no carro. Dessa vez os papéis se inverteram, eu é quem cuidava dela depois de sair de uma balada. Liguei para Nara para saber o que poderia fazer em uma situação dessas e por incrível que pareça, ela atendeu rápido.

Gabriel, não posso falar muito. Tô procurando a Victória, ela sumiu – ela gritou e quase fiquei surdo

– Ela está aqui comigo. Eu estou aqui no estacionamento – vi que o barulho do som, no celular, estava diminuindo

Eu estou indo para aí. Me espera – ela desligou e coloquei o celular perto da marcha do carro

Tinha uma ideia que Victória era inocente, mas não tão inocente quanto foi hoje. Não sabia ao certo o que tinha acontecido entre ela e o cara, mas pelo cenário, com toda certeza, ele havia colocado alguma substância dentro do copo dela, não sei se poderia ficar neste estado tão rápido com apenas dois copos de drink.

Avistei Nara vindo correndo em direção ao carro. Seu cabelo bagunçado, maquiagem borrada e roupa desbotada me dava a impressão que a noite só estava começando. Buzinei e ela correu em direção ao carro. Baixei o vidro antes mesmo de ela se aproximar do carro

– O que foi que aconteceu com a Victória, pelo amor de Deus? – ela tinha o olhar preocupado para a amiga – eu deixei ela por cinco minutos longe de mim

– Ela fica bêbada rápido? – ela negou e ficou me olhando – então aquele babaca colocou 'boa noite, Cinderela' no drink dela – falei com um pouco de raiva e suspirei

– Aí, meu Deus! Que ódio, ela está sempre certa com os pressentimentos dela – Nara colocou uma de suas mãos em sua testa – eu nunca escuto essa parte e sempre acho que é mentira

– Você vai continuar aqui?

– Não, não tem mais clima para ficar aqui

– Para onde você vai? Eu te deixo lá – ela entrou na parte de trás do carro e olhou para mim – o que foi, Nara?

– Eu tô me sentindo culpada – ela olhou para baixo e ficou olhando sua bolsa –  enfim, me deixa no hotel e, se possível, pode levar a Victória para a sua casa? Não vai ter ninguém para cuidar dela. Kaique e eu vamos viajar para o Uruguai, ela só tem nós dois aqui no Rio

– Sem problema. Lá em casa tem a Nieda que pode ficar com ela. Caso ela acorde e eu não esteja – dei partida no carro e saí de lá

O caminho todo foi em silêncio. Algumas vezes me assustava com algum barulho que Victória fazia como se tentasse falar. Deixei Nara no hotel e ela me pediu para que cuidasse da amiga dela e, assim, iria fazer. Durante o caminho para minha casa, ela abriu os olhos diversas vezes, mas sempre voltava a fechá-lo.

– Victória, chegamos – falei balançando seu ombro – Victória?

– Oi? – ela disse com uma voz arrastada – o que você está fazendo aqui? – ela olhou ao redor e passou o dedo no olho

– Victória, quer ajuda para descer do carro? – falei após abri a porta do carona – vem cá – tirei o cinto e carreguei ela tipo noiva

– Você é o Gabriel Barbosa? O Gabigol? – ela pegou em meu rosto e virou para ela – meu Deus! É você mesmo! – ela colocou sua mão em sua boca – não acredito. Obrigada por você existir! – entrei em casa com um pouco de dificuldade já que ela se mexia muito

Ela ficou falando sem parar até chegarmos no quarto e eu a coloquei sentada em cima da cama. Ela ficava me olhando sem cada passo que eu dava. Victória estava completamente diferente do habitual

– Gabriel, senta aqui, rápido – ela me pediu e fiz, seu olhar percorreu por todo meu rosto – desculpa ter sido tão fria com você – ela dependente se deitou na cama – eu só quero me dar bem no meu emprego e ser boa para o meu primo que precisa muito de mim. Eu não tenho muito tempo para mim, então não posso pensar em acabar com tudo. Como diversas vezes já pensei. A minha vida tá um completo cinza. Agora que estou vendo algumas cores, mas nada de muito ‘uau’

– Victória, do que você está falando? – olhei para ela que estava de olho fechado

– Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci… – ela começou a cantar o que me arrancou um sorriso

Coloquei um lençol sob ela e a ajeitei na cama. Seu rosto estava com o seu cabelo na frente, então tirei o mesmo e fiquei olhando para o seu rosto. Meu coração, nem se fale, começou a acelerar, assim como na cozinha de sua casa. Eu não poderia me dar o luxo de me apaixonar por alguém, eu não merecia isso.

– Gabriel, por favor, fica aqui – ela segurou meu braço e abriu os olhos – não me deixa sozinha, por favor

Ela fechou os olhos novamente e eu fui para a sala, já que era apenas um quarto que estava pronto nessa casa

Detalhes | Imagine Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora