Novos Anjos Capítulo 33: Recomeço

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Chegou aquele momento difícil, parecia que tudo a minha volta se movia em câmera lenta, vi Arthur e Paulo saindo pela porta do meu quarto enquanto o Raul chegava poucos segundos depois e sentava ao lado de minha mãe, naquele momento senti minha vida inteira passando em minha cabeça, as dores, as decepções, as mentiras e enganações, como eu pude ser um filho tão ruim? Todo o efeito daquilo que o Paulo havia me dito passou e senti um turbilhão de emoções muito ruins tomando conta de mim, os ralos pelos que eu tinha já nos braços e pernas pareciam arrepiados enquanto uma imensa sensação de frio tomava conta de meu corpo, foi então que eu lembrei... eu tinha que ser forte, tinha que ter coragem para recomeçar minha vida, para tentar mudar a pessoa que eu era, eu só não sabia ainda como eu faria tal coisa.

-Como você está se sentindo agora meu amor? Minha mãe fez um carinho em meu rosto.

-N- não s- sei... gaguejei baixinho- eu me senti melhor depois de conversar com os meninos, mas agora...

-Agora? Indagou minha mãe me pedindo para completar a frase.

-A- agora... todo aquele sentimento ruim voltou, toda aquela vergonha que eu senti antes apareceu de novo, não sei como vou conseguir encarar vocês nos olhos de novo- comecei a chorar.


-Levanta a cabeça Flávio- disse Raul- sei que é difícil mas só assim você vai conseguir começar a superar.

-Eu sempre tive ciúmes de você, sempre me portei como a mais mimada das crianças com você, e mesmo assim aí está você me estendendo a mão, eu tenho tanta vergonha disso.

-Flávio, todo mundo comete erros, começar a admitir é o primeiro passo para superá-los, um dia você vai ser adulto e vai entender também a importância de ser tolerante.

-Querido, não estamos aqui pra brigar com você nem nada do tipo- minha mãe tomou a palavra- Queremos o melhor para você, tentar entender tudo isso que se passou.

-Mãe... mãe... eu quero ser uma pessoa melhor, eu juro que quero. Quero ser que nem o Paulo e o Arthur, eles salvaram a minha vida, não quero mais ser aquele Flávio de antes.

-Eu sei meu amor, eu vejo o quanto você está arrependido por tudo o que você fez, se esse sentimento não fosse tão forte e tão verdadeiro você não teria subido no alto do prédio, mas é claro que esse tipo de decisão não é a mais correta.

-Eu sei- falei enxugando as lágrimas. Depois de ouvir tudo o que o Paulo me contou eu finalmente entendi.

-Deve ter sido uma ótima conversa, cada dia que se passa esses dois meninos mais me surpreendem- ela disse carinhosamente.

-O Paulo perdeu a mãe dele muito cedo, viveu na rua passando fome e catando lixo, mas mesmo assim ele foi forte e conseguiu superar e chegar até onde ele está hoje... mãe, eu quero ser forte que nem ele mas... não sei se consigo.

-Consegue sim, claro que consegue- ela disse.

-E nós estamos aqui para te ajudar a chegar nisso- Raul completou apertando minha mão.

-Vocês conseguem mesmo me perdoar? Perguntei.

-Querido, nós somos pais, claro que vamos perdoar, vamos sempre estar com você, sempre.

-Obrigado- falei baixinho enquanto passei a chorar copiosamente nos braços de minha mãe, e assim ficamos por vários minutos.

-Me perdoa... me perdoa por não ter sido um bom filho para você mãe, me perdoa por te fazer chorar...

-Shhhh, tudo bem meu amor, tudo vai passar...não precisa dizer mais nada... apenas coloque pra fora tudo o que você estiver sentindo, vamos recomeçar.

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