Capítulo 06 : Sra. Cameron

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Adam Grey

Há momentos na vida em que tudo que queremos é retornar àquele instante bom e feliz eternizado em nossas lembranças, para escaparmos da confusão caótica e sufocante que o presente se tornou. Sinto essa vontade agora, diante dos grandes e imponentes portões de ferro da Blue School. Mas, diferente da maioria, quando tento recorrer a essas lembranças, não encontro nada. Nada além das lembranças que corroem minha alma dia e noite, como uma ferrugem que, uma vez iniciada, só para quando destrói tudo por completo.

Respiro fundo, sentindo a falta de ar causada pelo nervosismo e aquele cheiro maldito de mar que se infiltra no meu sistema. Não queria estar aqui. Mas aqui estou, condenado a passar os próximos meses preso a esta ilha, preso ao meu pai, preso naquela maldita casa que me faz ter pesadelos que não passam de lembranças.

Talvez eu tenha alguma lembrança boa, uma que me faria suportar um pouco mais essa realidade miserável. Mas tenho certeza de que, se ela existir, está soterrada nos escombros das centenas de memórias de choro, às vezes meu, na maioria das vezes da minha mãe. Gritos, sangue, vidro se estilhaçando no chão, mais gritos, xingamentos, mas nada se compara à dor que arde e lateja no mais íntimo do meu espírito.

— Está atrasado, rapaz. — A voz rouca e arranhada chega aos meus ouvidos, fazendo-me abrir os olhos que nem percebi ter fechado, num sobressalto. De frente para um senhorzinho de cabelos grisalhos e uma barriga grande sufocada pela camisa de botões. — Adam Grey? — pergunta, ajustando os óculos no rosto. Franzi as sobrancelhas.

— Sim, como o senhor sabia?

— Ora, garoto, sou o porteiro deste lugar há muito tempo, reconheço cada um dos rostos. — Suas mãos vão até o molho de chaves preso à sua calça. — Estou velho, mas ainda tenho uma ótima memória.

Sorrio de canto, vendo-o murmurar sem parar sobre as coisas que se lembra, como conhece todos e que desconfia que nunca terá Alzheimer.

Ele destranca o portão e então passo pela entrada, sentindo meus ombros cada vez mais pesados. Ele passa por mim e vai até a guarita, sentando-se na cadeira.

— Preciso de ajuda para achar minha sala. Pode me dar uma mãozinha?

— Siga reto e, ao atravessar o pátio, entre nas portas duplas de cor azul com o símbolo da escola. Do lado de dentro, haverá alguém lhe esperando; a diretora sempre encarrega um dos alunos mais carismáticos para instruir e apresentar a escola aos novatos. — Aceno com a cabeça e ajeito a mochila no ombro antes de começar a caminhar.

Atravesso o pátio e subo os quatro degraus, parando em frente às portas duplas com o símbolo da escola, que nada mais é do que um desenho de uma grande letra "B" com o desenho de uma onda ao fundo. Respiro fundo e empurro as portas.

Mal tenho tempo de registrar qualquer coisa no ambiente antes de sentir um corpo colidir com o meu e braços cercando meu pescoço. O cheiro doce inunda meu olfato, e então sei exatamente quem é. Mas o toque, ainda que de alguém familiar, me faz estremecer e querer me afastar o mais rápido possível, como se milhares de pequenos e quase imperceptíveis insetos percorressem minha pele freneticamente.

Me afasto, tirando seus braços de meu corpo, sendo o mais gentil possível. Mas no momento em que meus olhos encontram os de Erika, ela vê minha urgência em me ver livre de seu toque. Então recolhe os braços e os prende atrás do corpo.

Sentimentos Proibidos : Sendo reescrito Onde histórias criam vida. Descubra agora