Capítulo 44 : Desencontro

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Sienna Cameron 

Meus olhos se abriram e eu arquejei, assustada, puxando o ar para dentro dos pulmões com desespero. Agarrei os lençois da cama, olhando ao redor aflita, notando que estava em um quarto de hospital.

As paredes brancas, o cheiro de álcool e o bip incessante da máquina de batimentos cardíacos criavam um ambiente frio e impessoal. Havia um sofá para acompanhantes, vazio, exceto por um buquê de rosas vermelhas deixado ali. Respirei fundo, tentando me lembrar de como vim parar aqui. E então, as lembranças começaram a surgir lentamente. A festa de aniversário da cidade, Adam e então... Jason. O gosto amargo das lembranças me preencheu e a vontade de chorar me atingiu como uma onda violenta. Mas antes que as lágrimas alojadas em meus olhos transbordassem, a porta do quarto se abriu e um homem alto, de jaleco e cabelos tão bem arrumados quanto os de Jason, entrou segurando uma prancheta.

Com uma expressão séria, movimentos calculados e uma voz monótona, ele se aproximou de mim, me examinando enquanto fazia perguntas das quais eu não era capaz de responder, pois a única coisa que sairia da minha garganta se eu cogitasse abrir a boca seria um soluço sofrido que faria um belo, mas triste, conjunto com as lágrimas que estavam à beira de cair.

Então, deixei que ele continuasse a falar e falar, enquanto tudo que eu escutava era um eco distante da sua voz. Quando ele finalmente se afastou, anotando algo na prancheta, usei todas as minhas forças para fazer a única pergunta que realmente importava.

— Meu bebê está bem?

— Agora sim. Mas quando a senhora deu entrada no hospital, não.

— O que quer dizer? — Minhas palavras saíram baixas, num sussurro trêmulo.

Ele respirou fundo, colocando a prancheta embaixo do braço.

O olhar dele era quase como se ele soubesse exatamente o porquê de eu ter dado entrada naquele hospital. Ele sabia, não foi apenas uma queda da escada, apesar de ser isso que estava escrito no prontuário. Aquela não era a minha primeira ida ao hospital causada por Jason é apesar do olhar dele mostrar que ele sabia exatamente o que havia acontecido, também mostrava outra coisa. Medo. Ele não arriscaria perder o emprego ou ser perseguido. Então, era muito mais fácil ser conivente.

— A senhora quase perdeu seu filho. — Ele disse por fim. E aquela frase soou como um punho de ferro acertando meu estômago com toda a força que poderia existir.

Meu filho quase morreu.

Eu quase perdi o meu bebê.

O nosso bebê, meu e de Adam.

As lágrimas finalmente se libertaram, deslizando pelo meu rosto e traçando um caminho tortuoso. Sem dizer mais nada, o médico se virou e foi embora, me deixando a sós com os meus demônios. Sem conseguir me conter, desabei sobre aquela cama, soluçando e deixando que mais algumas dezenas de lágrimas descessem. Apesar das pessoas dizerem que chorar nos faz bem, eu não me senti nada além de completamente despedaçada.

Assim se passaram segundos, minutos e horas. Até que uma enfermeira voltou ao quarto, dizendo que eu já poderia ir para casa, pois o médico havia me dado alta. Então, me levantei, vesti o mesmo vestido que estava usando na noite anterior e peguei um táxi, não para casa, mas para onde meu coração se sentia em casa. Poucos minutos depois, eu estava no táxi.

— O senhor sabe que dia é hoje? — perguntei, sem desviar os olhos da paisagem, quando notei que nem sequer sabia quantos dias tinha passado no hospital.

— Quinta-feira, dia 10 de outubro — respondeu o senhor de bigode, me olhando pelo retrovisor.

Dois dias. Eu havia passado dois dias no hospital. O carro parou e eu desci, encarando a fachada inconfundível da grande casa da família Grey.

Sentimentos Proibidos : Sendo reescrito Onde histórias criam vida. Descubra agora