Adam GreyA noite estava fria, e o vento soprava suavemente, trazendo consigo o cheiro de maresia que vinha do mar.
Eu precisava falar com ela, nem que fosse só mais uma vez. O jeito como ela olhava... eu tinha certeza que Sienna sentia o mesmo por mim. Mas talvez ela estivesse com medo dos julgamentos. Mas nós podíamos passar por isso. Eu me lembrava de cada detalhe nosso. O jeito como Sienna sorria, mesmo que timidamente, quando nossos olhares se cruzavam. Havia uma conexão ali, algo que eu não podia ignorar.
Escuto passos rápidos atrás de mim e rapidamente me viro, pronto para falar com Sienna. Mas quando me ergo, me deparo com olhos azuis que não são os dela. São mais escuros e cheios de fúria, como pedras de gelo sendo lançadas na minha direção.
Abro a boca, pronto para falar, mas sou atingido em cheio com um soco no rosto. Cambaleio para o lado, atordoado, e sinto o gosto metálico inundar meu paladar. Cuspo o sangue na areia, sentindo a raiva fervilhar dentro de mim.
— Esqueça que minha mulher existe! — ele grita, sua voz carregada de ódio.
Me ergo, secando o sangue que escorre dos meus lábios com o pulso. Meus olhos encontram os dele e um sorriso irônico se forma no meu rosto.
— Sua mulher? — digo, com um tom de desprezo. — Ela é mais minha do que já foi sua por todos esses anos.
Os olhos dele se arregalam com um brilho enlouquecido, as narinas inflando de fúria. Jeson avança na minha direção, tentando me acertar mais uma vez, mas eu sou mais rápido. Me esquivo e o seguro, dando uma joelhada em seu estômago. Não uma, mas duas vezes. Ele cai na areia, ofegante e derrotado.
— Deve ser mesmo uma droga saber que a mulher com que você é casado geme enlouquecida um nome que não é o seu. — Digo ofegante, observando Jeson se levantar com uma expressão assassina. — Me diga, Jeson, já passou pela sua cabeça que quando vocês dois fazem sexo, não foi você quem a fez chegar lá, mas sim eu. — Sorrio maleficamente. — Aposto que ela esteve com os olhos fechados o tempo todo. Aposto que estava pensando em mim. — Digo venenoso.
Então Jeson mais uma vez avança sobre mim, me derrubando na areia. Tento me esquivar, mas o desgraçado ergue o punho e acerta mais um soco no meu rosto. A dor explode, irradiando pelo meu crânio.
— Você não passa de um brinquedinho dela. Útil, mas descartável. — Ele rosnou, com o rosto colado ao meu, seus olhos brilhando de ódio.
— Não era isso que parecia. — Sorrio, sentindo todo o meu rosto doer, o gosto metálico de sangue na boca.
— Então me diga, por que ela não está com você? — Ele sorri como um maldito psicopata, seus dentes à mostra. — Eu dei a chance dela ir, garoto, mas ficou. Ela escolheu a mim e não a você. Não seja patético. — Cuspiu as palavras que me atingiram em cheio, como facadas.
Saber que Sienna teve a escolha e mesmo assim escolheu foi como uma faca sendo cravada no meu peito. E nada, nada me machucou tanto como aquelas palavras. Nem os socos de Jeson, nem o comportamento do meu pai, e nem mesmo a morte da minha mãe.
Me soltei furioso, rolando para ficar por cima dele e então comecei a desferir golpes e mais golpes no seu rosto, como se estivesse descontando todas as minhas frustrações nele. Minha mão latejava e o rosto de Jeson começava a ficar grotesco com sangue por toda parte. E então, quando já não tinha mais forças e sentia meu braço dormente pela quantidade de socos, eu cambaleio para o lado, ofegante, o peito subindo e descendo rapidamente.
— Você pode ter tido o corpo dela, mas sou eu que tenho seu coração na palma das minhas mãos. — Ele murmurou ainda caído no chão, com um sorriso torto. Suas palavras ecoaram na minha cabeça como um baque, deixando-me atordoado.
"Tudo bem, querida. Ele tem o seu coração e eu tenho todo o seu desejo para mim" — Essas haviam sido minhas palavras há muito tempo, ditas com uma confiança que agora me parecia ridícula.
Eu havia dito isso antes de me dar conta de que seu coração valia muito mais do que qualquer outra coisa que ela viesse a me oferecer. Eu havia dito isso antes de descobrir o que era amor e agora as palavras retornavam à minha cabeça como uma maldição, ecoando dolorosamente. Me levantei atordoado, cambaleando, e me virei de costas para Jeson, fitando o mar.
Meu coração batia forte contra meus ouvidos e o som do mar soava distante e abafado, se confundindo com o som repetitivo das minhas palavras ditas no passado. Cada batida era um lembrete cruel do meu erro.
Doía, não o meu corpo, mas profundamente em minhas vísceras e entranhas. Doía na alma, uma dor que parecia consumir tudo dentro de mim.
— Jeson!
A voz de Sienna me fez virar para trás bem a tempo de ver Jeson apontando um revólver na minha direção. O pânico tomou conta de mim.
Com os olhos cobertos de medo e horror, Sienna correu até Jeson usando apenas uma camisola, o tecido fino balançando ao vento, e se pôs de frente para ele e de costas para mim, como um escudo humano.
— Jeson, pelo amor de Deus, eu imploro. — Disse colando seu corpo ao de Jeson, sua voz tremendo de desespero.
Mas ele sequer se mexeu; seus olhos furiosos continuaram presos em mim, como se eu fosse a única coisa que importasse. E então engatilhou a arma, pronto para disparar. O clique do gatilho soou como um trovão nos meus ouvidos.
Prendi a respiração, fechando as mãos em punhos. Meu coração batia com tanta força que meu peito doía. A adrenalina corria pelas minhas veias como se fosse meu próprio sangue, cada batida um lembrete da minha vulnerabilidade.
— Eu vou matá-lo, querida, e então só restará o seu túmulo entre nós. — A voz de Jeson era fria, implacável.
— Jeson, meu amor, me escuta. — Sienna tocou seu rosto com dedos trêmulos e a voz embargada, lágrimas escorrendo pelo rosto. — Se você matá-lo, tudo estará perdido. Você irá para a cadeia. Caleb e eu perderemos tudo o que você conquistou. Talvez até eu vá para a cadeia por estar aqui, Caleb crescerá sozinho.
Sienna listava os motivos como se eu não fosse nada. E a cada frase, meu coração parecia quebrar mais e mais, e eu temia que, antes do fim daquela noite, não sobrasse mais nada que pudesse ser quebrado ou destruído por ela.
— E pior. — ela continuou com a voz trêmula, quase um sussurro. — Nós dois podemos não nos ver nunca mais, Jeson...
E como se tivesse pegado no seu ponto fraco, os olhos de Jeson finalmente deixaram os meus, indo até os dela. A raiva em seu olhar começou a vacilar.
— Tenho dinheiro e influência, tenho contatos. Nada acontecerá conosco, querida. — Ele tentou soar confiante, mas havia uma hesitação em sua voz.
— Você quer mesmo arriscar tudo por causa dele? — Ela acariciou seu rosto ternamente, seus dedos traçando linhas suaves. — Nós dois erramos, Jeson. Mas nosso amor é maior que isso. Podemos deixar todas as memórias ruins para trás e recomeçar. Podemos voltar a ser o que já fomos um dia. — A expressão dele mudou, a raiva sendo aplacada, e ele olhou para ela como se tudo que existisse no mundo fosse ela. Como se seu mundo fosse ela. — Mas para isso, você precisa abaixar a arma, querido.
Então, sem nem mesmo olhar para mim, Jeson abaixou o braço erguido com o revólver, mas continuou segurando a arma firmemente na mão como se não estivesse cem por cento seguro da sua escolha.
E então Sienna o puxou para um abraço apertado, soluçando contra seu peito como se estivesse aliviada. E ele retribuiu, envolvendo seu corpo com os braços, seus olhos fechados como se estivesse tentando absorver toda a calma que ela oferecia.
E ali, olhando aquela cena, eu desejei que aquela bala tivesse me atingido. A morte, com toda certeza, teria sido menos dolorosa do que ver aquela cena.
Continua..
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Sentimentos Proibidos : Sendo reescrito
RomanceSienna Cameron vive uma vida de aparências, lutando diariamente para manter a fachada de perfeição enquanto enfrenta um casamento abusivo e a responsabilidade de criar seu filho. A pressão é constante, e a esperança parece uma ilusão distante. Mas...