- Chegamos. - meu pai disse enquanto freava e estacionava o carro em frente a casa grande e bonita de Zoe. - Durma direito e se precisar de alguma coisa, mande mensagem. - ele continuou a falar enquanto levava uma de suas mãos ao botão preto que ficava no painel do carro, destravando as portas assim que o apertou.
- Tudo bem, papai. Vou ficar bem. - eu disse enquanto me aproximava e deixava um beijinho em sua bochecha.
Levei minha mão a maçaneta do carro, pronta pra sair do mesmo, mas meu pai me interrompeu.
- A, já ia me esquecendo. Amanhã quando quiser ir embora, me ligue, ouviu? Não se esqueça. - meu pai pediu num tom preocupado.
Ele já havia me indagado o caminho todo. Suas perguntas eram como "Colocou tudo na mochila?" ou " Que horas vai acabar?", o que me fazia rir.
Sem falar na pergunta que ele fez mais de cinco vezes durante todo o caminho.
"Vai ter muito homem?"
Me fazendo responder mais de cinco vezes, que não, não teria muito homem.
Mesmo meu pai sabendo que sou lésbica e que também namoro, ele ficava preocupado.
Sorri enquanto negava com a cabeça. Tudo isso só porque eu iria passar uma noite na casa de Zoe.
Falando na minha melhor amiga, hoje seria a comemoração de seu aniversário.
Por isso Zozoe resolveu fazer uma festa do pijama na sua casa.
É, eu sei. Ideia muito simples pra vir de Zoe.
A ideia veio de seus pais.Por Zoe, ela faria uma festa enorme com música alta, drogas e bebidas, como faz todo ano.
Mas acontece que seus pais cansaram de ouvir reclamações dos vizinhos por conta da música alta até tarde da noite, de ter utensílios domésticos quebrados por adolescentes bêbados e de gente transando em todo canto da casa.
Não os julgo. Deve ser uma merda todo ano ver isso.
Zoe tentou durante muito tempo os convencer, mas não deu certo.
E depois de muita insistência que não funcionou, Zoe desistiu e finalmente aceitou a festa do pijama que seus pais a sugeriam.
Ela chamou algumas amigas pra vir dormir na sua casa, incluindo Billie, minha namorada. O que eu amei muito.
Estava morrendo de saudade de todas elas e uma baguncinha não cairia nada mal.
- Tudo bem, prometo te ligar, hm? - eu disse enquanto olhava pro meu pai. - Agora pode ir jantar com a Márcia em paz, vou ficar bem. - eu disse pra ele enquanto colocava minha mochila nas costas e pegava o presente de Zoe que estava no banco de trás do carro.
Márcia é a mulher que meu pai estava saindo esses dias. Gosto dela, ela faz meu pai bem.
E ver ele assim me deixa tão feliz.
Meu pai é a única família que eu tenho e é a pessoa mais importante pra mim.
Sabe, depois da morte da minha mãe, minha vida perdeu todo o sentindo.
E se eu estou aqui hoje em dia, é por causa dele. Meu pai me salvou.
E com o tempo passando, vida mudando, parece que ele se esqueceu da viver.
Ele cuida de todo mundo que pode, mas nunca dele mesmo. E com isso, a vida amorosa do meu pai literalmente não existia.
Falo isso pro que eu sabia de tudo.
Sabia que ele não se relacionava com nenhuma mulher desde que minha mãe faleceu. E vai fazer cinco anos do ocorrido.
Não se relacionou com ninguém até conhecer Márcia. Ela entrou em sua vida já vai fazer um tempo, e eu percebo quando isso o faz bem.