Capítulo 15 - Amor e Perdão

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Miranda queria gritar, queria ter um chilique e moer tudo o que encontrasse pela frente, queria se esvair em lágrimas como qualquer ser humano imbuído em dor, uma humanidade que seria-lhe negada naquele momento em que não estava sozinha, dentro do carro com seu motorista a caminho da escola de suas bobbseys, lembrando-se da promessa de que as levaria para o teatro e descumprir o combinado com suas filhas não era um opção.

Miranda estava tão acostumada a usar suas máscaras e entrar no modo "Coração de Gelo" e por que naquele momento parecia ser tão dificil? A minha Andy tem outro? Outro! Não consigo aceitar! - dizia-se sibilando, sem se importar se Roy iria ouvir ou não. Ela não podia fazer isso comigo, com a gente. Não sem me dar a chance de dizer tudo o que sinto por ela e de tanto pensar no que tinha visto só percebeu que havia chegado na Dalton, quando Caroline bateu no vidro de seu carro e ela imediatamente abriu, agarrando suas filhas com força, num desespero de aplacar a sua dor.

CAROLINE - Está tudo bem mamãe? - Questinou a mais observadora e sensível das duas.

MIRANDA - Sim meu amor. E então, animadas para irmos ao teatro?

CASSIDY - Com certeza, até que enfim vamos assistir o musical do Harry Potter e espero que a Cara tenha separado as minhas roupas, como pedi, quero chegar vestida a carater.

CAROLINE - A Cara é incrível, minha cara. Ela nunca falha com a gente. - disse rindo de suas constatações e tamanha empolgação das gêmeas, tirou de cima de Miranda os olhos atentos de suas meninas e ela se esforçou o quanto pode para dar o máximo de atenção para elas sem fazer ideia de que tudo poderia ficar pior.

Tão logo chegou em casa, encaminhou Caroline e Cassidy para o banho, em seguida fazendo a reserva do restaurante onde iriam jantar até que finalmente pode entrar debaixo do chuveiro e deixar que as lágrimas copiosas escorressem junto com aquela água de jatos tão fortes. Não podia ser tarde demais, quando ainda amava tanto aquela garota petulante e atrevida e se recusava a passar por essa existência sem viver aquele amor que só fazia crescer dentro dela.

Miranda se posicionou diante do espelho, seu refúgio silencioso e impassível, e começou a desenhar uma máscara meticulosamente planejada. Com gestos precisos, como se estivesse esculpindo uma estátua de si mesma, ela aplicou uma camada de base no rosto, apagando qualquer vestígio de emoção. Os pincéis eram suas ferramentas de guerra, as sombras e os delineadores, suas armaduras.

Cada traço de maquiagem era uma tentativa desesperada de esconder a dor que queimava em seu peito. Ela se esforçava para não pensar na cena que presenciara horas antes: Andrea, a pessoa que ela mais amava, envolvida nos braços de outro homem. A imagem estava gravada em sua mente como uma tatuagem indesejada, e Miranda sabia que, por mais maquiagem que aplicasse, jamais conseguiria apagar aquela lembrança. Ela era consciente de que aquela tentativa era bastante frágil, porém não era justo preocupar suas bobbseys naquela noite e assim que jantassem, estaria de volta e poderia então pensar sobre o que fazer para se aproximar de Andrea e sua filhinha mais nova.

Os olhos de Miranda, uma vez vibrantes e mordaz, agora pareciam janelas para uma tempestade contida. Ela contornou os olhos com delineador preto, tentando capturar a força e a firmeza que sentia faltar dentro de si. Em seguida, aplicou rímel nas pestanas, como se isso pudesse esconder a vulnerabilidade que ameaçava transbordar a qualquer momento.

Passou o batom vermelho, aquele que sempre usava para ocasiões importantes, na esperança de que a cor vibrante devolvesse algum sinal de vida aos seus lábios pálidos. Mas, mesmo assim, a dor continuava presente, uma sombra persistente por trás da máscara cuidadosamente construída.

Miranda respirou fundo, encarando seu reflexo com determinação. Ela sabia que precisava manter as aparências, que não podia deixar que ninguém visse o turbilhão de emoções que a consumia por dentro, algo tão íntimo que dizia respeito somente a ela, e afinal, seu mundo exigia perfeição, e qualquer falha podia ser fatal. Então, com um último retoque de pó, ela finalizou sua transformação, escondendo a verdade sob camadas de artifício.

Levantou-se do banquinho, ajustou a postura e ensaiou um sorriso no espelho. Um sorriso que não alcançava seus olhos, mas que era convincente o suficiente para quem não conhecia a profundidade de sua dor. Estava pronta para enfrentar o mundo, ainda que por dentro estivesse despedaçada.

Com um suspiro resignado, Miranda deu as costas ao espelho e saiu do quarto, deixando para trás o reflexo de uma mulher forte e inabalável. Naquele momento, ela prometeu a si mesma que não permitiria que Cassidy e Caroline vissem a extensão de sua mágoa. E, enquanto agora olhava para seu closet, analisando o que usaria para a ocasião tão familiar, sua maquiagem se tornava seu escudo, sua proteção contra um mundo que não tinha piedade de corações partidos.

Ao soltar o ar em suspenso em seus pulmões, ela escolheu um conjunto de alfaiataria vermelho e camista em tom nude e um par de Monk, vermelho e preto da Gucci, pois estava com os pés cansados demais para usar salto em uma ocasião tão informal. Na verdade Miranda estava exausta de toda aquela situação não resolvida e seu coração foi atravessado com a mais afiada das adagas ao se deparar com Andrea saindo do teatro, ao lado de Chloe, Summer e Tom, numa cena que julgou ser muito familiar, cada um segurando a mão de uma das crianças e ele com a mão em seu ombro e tão logo o olhar de ambas se cruzaram, Andrea sem perceber abraçou Tom com força na cintura, sentindo suas pernas fraquejarem, prestes a cair o que não passou despercebido por ele.

Para Miranda, a visão de Andrea, inserida em um quadro familiar tão perfeito, trouxe à tona uma onda avassaladora de emoções,e o encontro desses olhares, causou em Andrea a sensação de que aqueles poucos segundos, por um momento que pareceu uma eternidade e que tudo ao redor delas desapareceu. O choque e a dor se refletiam nos olhos de Andrea, como se cada memória, cada sentimento reprimido, estivesse ali, à flor da pele. Ela ficou imóvel, paralisada, enquanto um turbilhão de emoções a consumia. Era como se o mundo tivesse parado, e só restasse aquela troca silenciosa de olhares.

Priestly sentiu um nó se formar em sua garganta. A presença de Sachs, tão perto e tão distante ao mesmo tempo, era uma ferida aberta que sangrava incessantemente, fazendo com que sua raiva, seu ódio, sua gelidez viessem à tona, trazendo de volta sua figura tão glacial, fazendo uma pressão absurda entre os dentes, construindo em volta de si novas camadas para esconder a fragilidade que ameaçava romper sua fachada cuidadosamente construída. Sabia que suas filhas a observavam, e precisava ser forte por elas, mesmo que por dentro estivesse em pedaços.

Andrea, por outro lado, estava lutando contra a maré de emoções que a invadia. Ver Miranda ali, com suas filhas, era um lembrete doloroso do amor que ela nunca conseguira esquecer. Os olhos de Miranda, sempre tão imponentes, agora pareciam refletir a mesma tristeza que Andrea sentia.

Tom, percebendo a tensão no ar, olhou de Andrea para Miranda, confuso. Ele apertou o ombro de Andrea com uma expressão interrogativa, mas ela apenas balançou a cabeça levemente, sem conseguir articular palavras. Havia tanto não dito, tanto escondido sob camadas de silêncio, e olhar para aquelas duas mulheres trouxe a confirmação de que havia muito amor, mas que esse sentimento tão nobre, para ser exercido precisava igualmente da decisão das duas e de perdão.

Sentiu a mão de Chloe apertar a sua, trazendo-a de volta ao presente, mas o impacto do encontro permaneceu gravado em seu coração. Logo a pequena soltou-se da mãe e correu ao encontro das ruivas Priestly, de quem sentia muita saudade, arrastando Summer consigo e num clima muito amistoso as quatro crianças se abraçaram, enquanto três adultos se olhavam sem saber o que fazer.

A TERCEIRA PRIESTLYOnde histórias criam vida. Descubra agora