Capítulo Doze

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Seis dias haviam se passado desde que Yunah conversou com Eun-ji sobre o incidente e como as coisas seriam dali em diante, até o retorno da mais velha.

Em suma, Eun-ji havia quebrado uma parte delicada da perna, que exigiria tempo de repouso e uma extensa recuperação na fisioterapia devido ao longo período que precisaria ficar parada.

Era a chance de Yunah se provar realmente boa. E faria isso, para garantir uma vaga no hospital no futuro e, de quebra, poder começar a sentir orgulho de si.
Obviamente, não hesitou em aceitar e prometeu aproveitar cada dia como se fosse seu último ali dentro, nem que para isso tivesse que dormir todos os dias no hospital.

Ela sairia de lá com a sensação de dever cumprido.

Nesses dias, aproveitou para mais uma vez, revisar os relatórios de todos seus pacientes, principalmente, do paciente Min.

Desde a última consulta, ficara intrigada com as falas do rapaz.
Apesar de não ter falado muito, o pouco que disse era de muito significado em seu caso.
O fato de ter falado sobre seu afastamento para que não machucasse os outros, definitivamente, não se encaixava em qualquer padrão de psicopatia. Se colocasse as falas em seu diagnóstico de transtorno, também intrigava o fato de ter sido apenas em um caso isolado a crise.
De alguma forma, nada do que foi dito se encaixava no que havia julgado até ali e começava a entender o porquê de Eun-ji pensar que ele não era o culpado.

Os fatos estavam em suas fichas, o crime havia sido cometido, ele mesmo assumia e os próprios advogados da família haviam confirmado. Mas alguma coisa não se encaixava.
Naquele dia, teriam mais uma consulta e ela tentaria explorar mais um pouco do tema, já que ele havia se mostrado mais aberto na última vez que falaram.

Em contrapartida, o paciente se sentia estranhamente nostálgico durante a semana.
Se abrir com a doutora não era sua intenção, saiu involuntariamente, assim como quase todas as suas ações quando se tratava dela.
Yoongi sabia que era bizarro o tanto que a médica lhe afetava e, a princípio, julgou apenas ser por conta da diversão em vê-la irritada e sentir que ainda era capaz de interagir com pessoas de fora da clínica.

Mas naquela semana, mesmo não falando com ela e a vendo apenas de longe por poucas vezes andando pelo hospital, não conseguia tirá-la da cabeça.
O tempo todo voltava em sua mente a informação de que aquela seria a última semana dela por ali e, saber disso, continuava causando um desconforto estranho em seu peito.
Sentia a sensação de solidão que sentiu no início, só de imaginar a rotina voltando ao normal e isso lhe deixava completamente confuso.

Não havia passado um mês completo perto da médica, nem ao menos trocado tantas conversas com ela, para se sentir daquela forma. Também não queria dar ouvidos a sua carência ou medo de ser como o senhor-de-boina-virgem-aos-70, então tentava apenas ignorar. Mas não conseguia evitar a sensação crescente de urgência em vê-la.

Dessa forma, se levantou imediatamente - mesmo já tendo notado que ainda faltavam pelo menos 15 minutos para a consulta - e se dirigiu a sala que, ironicamente, fez mais vezes o caminho do que planejava.

Ao chegar, notou a porta fechada e ia bater, porém escutou conversas do lado de dentro e resolveu aguardar, apoiando a sola do pé esquerdo na parede atrás de si.
Pouco minutos depois, viu a porta se abrir e o responsável pelo RH do hospital sair com inúmeros papéis na mãos enquanto agradecia Yunah.

"Ela está indo." uma sensação de frio ruim invadiu seu estômago. "Agora é real".

Yunah, que até então falava com seu colega de trabalho, notou a presença do paciente, estranhando vê-lo por ali naquele horário, e apenas esperou estarem sozinhos para olhar no relógio em seu braço e repetir as mesmas palavras de uma das suas primeiras consultas:

- Dez minutos mais cedo? Ansioso, Min Yoongi?

O moreno riu soprado, ainda encostado na parede, sabendo exatamente o motivo de tal frase.

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