MESMO DIA,
22h39 DA NOITE.
Tsukishima adentrou o espaço permeado pelo amargor da fumaça e pela melancolia da depressão. Emanando um aroma que denotava não apenas a fumaça que o envolvia, mas também o peso emocional que carregava, ele se precipitou na direção do banheiro, ávido por um refúgio onde pudesse mergulhar em um banho prolongado. Sob a torrente d'água, sua mente vagueou pelos meandros do tempo, relembrando os acontecimentos que moldaram sua existência até o momento presente.
Apesar da iminência de um jantar festivo, um verdadeiro banquete cheio das pessoas que tornavam para ele a vida ser o que ela é, pessoas que o faziam viver de verdade. Tsukishima não conseguia escapar à sensação de hipocrisia que o assolava. Era um grande hipócrita por ir a um encontro de pessoas tão cheias de vida, uma vez que está sentenciado à morte.
Naquele instante, Tsukishima sentiu uma ânsia profunda de submergir-se na banheira, deixando-se envolver pela água até que seus pulmões se enchessem e a consciência se esvaísse. Uma risada amarga escapou de seus lábios ao reconhecer a ironia de seus próprios pensamentos, enquanto seus olhos reviravam em desdém. Jamais se considerara uma alma melancólica, inclinada a atentar contra sua própria existência. No entanto, diante da perspectiva de uma doença, que aos poucos lhe roubava tudo o que mais prezava, a ideia de escolher seu próprio fim começava a parecer tentadora, uma forma de preservar sua dignidade diante do avanço do sofrimento.
Kei desligou o chuveiro, deixando a água escorrer pelo seu corpo enquanto envolvia a toalha em sua cintura. Ao encarar o espelho embaçado pelo vapor, ele limpou a condensação com a mão, revelando sua imagem refletida. No entanto, quando a neblina se dissipou, seu coração deu um salto alarmante, e um grito involuntário escapou de seus lábios. Virou-se bruscamente, quase esperando encontrar a presença inquietante que havia vislumbrado no reflexo. Mas não havia ninguém além dele mesmo naquele espaço confinado. Mesmo assim, a imagem persistente de Akiteru permanecia gravada em sua mente, uma aparição fantasmagórica que desafiava a lógica e a razão.
Com um tremor perturbador, Kei encarou novamente o espelho, lutando contra as lágrimas que ameaçavam transbordar. Pela primeira vez, a inabalável serenidade de Tsukishima vacilou, e a dor acumulada em seu peito irrompeu em soluços angustiados. Caído no chão frio do banheiro, ele se permitiu sucumbir à torrente de emoções, sentindo o peso da inevitabilidade de seu destino cruelmente selado. As mãos trêmulas deslizavam pelos fios dourados de seu cabelo, arrancando-os com uma violência que refletia a agonia interior que consumia sua alma, em meio a prantos de lágrimas.
Tsukishima encontrava-se imerso em um turbilhão de emoções, desejando ardentemente libertar-se da dor que o consumia. Sua mão tremia ao tocar o peito, onde o coração batia descompassado, ecoando a intensidade de seu sofrimento. Entre soluços e lágrimas, questionava-se o porquê daquela provação. Após empenhar-se em se tornar uma pessoa melhor, cultivando gentileza e prestatividade, via-se confrontado com o peso de eventos adversos. Por que, apesar de seus esforços, a vida insistia em testá-lo com tamanha crueldade? Por que ele, que tinha a responsabilidade de zelar por duas crianças, estava fadado a enfrentar tal fatalidade? Sentado no chão, mergulhado em sua angústia, as sombras das alucinações ganharam um novo significado à luz do diagnóstico recente, que, agora, provavelmente só tendiam a piorar.
— Tsukki? Você está aí dentro? Você está demorando, vamos acabar nos atrasando! — Kuroo bateu na porta do banheiro, assustando o loiro caído no chão.
— E-eu já vou sair, Tetsurou, um minuto — gaguejou e, se amaldiçoou por ter feito.
Kei se levantou do chão, as pernas ainda estavam bambas e a vontade de chorar não havia passado. Ele encheu a pia do banheiro, afogando o próprio rosto na água gelada algumas vezes, esfregando seus olhos para disfarçar o inchaço e vermelhidão causados pelo seu choro frenético. Ele enxugou a face com a toalha de rosto ao lado do espelho, se encarando uma última vez antes de sair do banheiro.
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𝐅𝐎𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑 & 𝐀𝐋𝐖𝐀𝐘𝐒 • KuroTsuki
FanfictionㅤQuando seu irmão mais velho, Akiteru, morre devido a uma doença crônica, Kei se vê sozinho e assume a responsabilidade de cuidar dos seus sobrinhos gêmeos quando o tribunal concede a guarda das crianças a ele, transformando-o de jogador de vôlei de...