𝐅𝐎𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑 & 𝐀𝐋𝐖𝐀𝐘𝐒 • KuroTsuki

Solo Sagrado.

MESMO DIA.
16h50.

   Se Tsukishima tivesse que escolher um dos muitos dias que viveu ao longo dos seus vinte e seis anos de existência, nos quais a química do seu cérebro sofreu alterações, inúmeras memórias inundaram a sua mente, um filme emocionante se desenrolava em sua cabeça, recontando os melhores momentos de toda sua vida. Contudo, se fosse dada a oportunidade de selecionar apenas um dia de forma seletiva e sem dúvidas, ele escolheria o dia de hoje, o segundo de setembro de dois mil e vinte e três.

Já fazia sete horas que Tsukishima estava naquele ginásio, completamente imerso no jogo de vôlei, assistindo a incríveis dez sets no total. Cada um dos quatrocentos minutos passados ali dentro, sem sombra de dúvidas, valeu a pena. Cada precioso minuto. Com os olhos cheios d'água, um sorriso iluminou o rosto de Tsukishima enquanto aplaudia em êxtase as vencedoras da partida, que naquele momento estavam cumprimentando o time perdedor. Pela primeira vez em cerca de doze anos, o imbatível Niiyama Girl's soria uma derrota.

   Naquele instante transcrito em câmera lenta, capturado pelos olhos reluzentes do homem, testemunhava-se a imagem comovente das meninas se abraçando no solo da quadra, derramando lágrimas e exultando com um orgulho inigualável por sua conquista, especialmente as jovens do terceiro ano. Kuroo, inebriado de emoção, abraçava cada uma delas com o mesmo fervor, enquanto elas expressavam sua gratidão pela sabedoria que ele havia compartilhado. Sem demora, a equipe masculina do Nokuma se agregava à quadra, celebrando em conjunto com as garotas, destacando-se, sobretudo, a efusiva comemoração de Katsuo e Sayuri, que choravam convulsivamente, suas vidas fundindo-se num abraço entrelaçado.

    Uma súbita e intensa sensação de calor tomou conta do peito de Tsukishima, enquanto uma gota insistente pingava em sua mão. Seu olhar, agora direcionado para o teto, buscava desvendar a origem daquela água que, com cadência constante, se projetava até encontrá-lo.

— Mas de onde é que está vindo toda essa água? Que droga — Murmurou o Tsukishima, confuso.

— Tsukki, você está chorando — Yamaguchi respondeu e então, Kei paralisou onde estava.

    Seus dedos esguios percorreram perplexos seu próprio rosto, a fim de verificar a veracidade das palavras de Tadashi. Ao sentir a umidade que banhava suas feições, Tsukishima constatou, surpreso, que realmente estava chorando. Nesse instante, o adolescente sentiu-se tomado por uma mistura de emoções tão intensa que achou a situação pateticamente cômica, o que o fez desferir uma risada solitária enquanto fitava sua própria mão. Naquele momento, Tsukishima havia vivenciado pela primeira vez a vulnerabilidade de lacrimejar diante de seus amigos do Karasuno, e essa experiência estava longe de ser como ele havia imaginado. Contudo, não tinha vergonha de suas lágrimas, tampouco arrependimento. Na verdade, Tsukishima estava vivendo um ápice de felicidade, na sua forma peculiar e inesperada.

   Tsukishima desceu as escadas em direção à quadra, indiferente aos olhares curiosos que encontrava no caminho. Naquele momento, ele não se importava se era inoportuno interromper para dar os parabéns ou não. Pela primeira vez, Tsukishima simplesmente seguiu o que seu coração lhe pedia. Assim que Sayuri e Katsuo notaram sua presença, eles correram em sua direção sem hesitação, envolvendo-o em um abraço caloroso. O abraço foi tão intenso e marcante que Tsukishima precisou se agachar no chão com seus filhos nos braços. Ele os envolveu com ternura, como se fossem crianças novamente, relembrando a noite em que eles acordaram assustados após terem o mesmo pesadelo em que ainda estavam no lar adotivo, nas primeiras semanas depois da morte de Akiteru.

— A gente conseguiu, pai! Estamos no Torneio de Primavera — Sayuri sorria largamente, esbanjando toda a felicidade que sentia naquele momento.

— Eu já sabia que vocês iriam conseguir. Parabéns, Sayuri — Kei devolveu o sorriso, voltando a abraçar os filhos.