Odeio Isso Aqui.

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29 DE JULHO DE 2024.
SEGUNDA-FEIRA.
19h42 DA NOITE.

  Nunca havia passado pela mente de Kei que, um dia, a ideia de se enforcar com uma gravata de cetim vermelha se tornaria uma saída tentadora para escapar de um jantar. Desde a última partida, que também foi sua primeira, Kei passava mais tempo trancado em seu quarto no hotel do que gostaria de admitir, saindo apenas quando absolutamente necessário: para treinar e comer. Sua única motivação para continuar era a presença dos gêmeos, que passavam a maior parte do tempo com ele, assistindo filmes e comendo besteiras durante os momentos livres.

  Agora, não havia mais os gêmeos nem Iwaizumi gritando no seu ouvido, como de costume, para lhe arrancar a motivação. Estava apenas ele, sua mente agitada, e a força de vontade que se esvaía cada vez mais. A ideia de comparecer a esse jantar o incomodava profundamente, e não sem motivo. Desde aquele fatídico dia em que fora praticamente arrastado para conhecer os patrocinadores, Tsukishima carregava um desconforto latente sempre que estava na presença deles. Cada olhar, cada palavra trocada, cada toque desnecessário fazia-o sentir-se assediado. Sua única chance de escapar dessa sensação sufocante era a esperança de que Kenma e Lev estivessem lá também, como patrocinadores da seleção.

   Desistindo da ideia de se enforcar com a gravata, Kei apenas a colocou normalmente dentro do terno. Suspirou uma última vez, colocando o seu perfume caro cujo cheiro já parecia sufocante para ele. Reunindo os últimos resquícios de coragem que lhe restavam, Kei saiu do seu quarto com o cartão do quarto e o celular em mãos. Ele digitou uma rápida mensagem para os gêmeos, pedindo para que não ficassem acordados até tarde. Katsuo foi o primeiro a responder, prometendo que cumpririam o que lhe foi pedido logo depois de terminarem a maratona de Jogos Vorazes que estavam. Sinceramente, tudo que Tsukishima queria agora era estar vendo Jennifer Lawrence se voluntariar pela sua irmãzinha. Alguém poderia se voluntariar por ele?

   Ele saiu do hotel com a carteira firmemente agarrada entre os dedos, os olhos atentos varrendo a rua em busca do primeiro táxi que cruzasse seu caminho. O vento cortante da noite o envolveu assim que ele deixou o edifício para trás, trazendo consigo um arrepio que parecia subir pela espinha. O peso da decisão que o aguardava mais à frente já começava a apertar o seu peito, enquanto seu estômago dava voltas, antecipando uma noite que prometia ser tão incerta quanto longa.

MAIS TARDE.
20h14 DA NOITE.

   Levou menos de meia hora para Tsukishima chegar no restaurante que havia sido inteiramente reservado apenas para aquele jantar com os patrocinadores. O restaurante escolhido foi o La Train Bleu, localizado na histórica estação Gare de Lyon, em Paris, e é considerado um ícone da gastronomia francesa e do estilo Belle Époque. Tsukishima pesquisou sobre o restaurante antes de vir, soube que os salões são adornados com lustres de cristal, afrescos detalhados e molduras douradas, criando uma atmosfera de luxo e sofisticação que remonta ao início do século vinte. O menu reflete o melhor da cozinha tradicional francesa, com pratos clássicos como foie gras, confit de pato e sobremesas refinadas. Para reservar o lugar inteiro para uma noite só, com certeza tinha muito dinheiro envolvido. Kei optou por não pensar muito sobre esses detalhes.

  Ao atravessar a porta do restaurante, Kei foi imediatamente envolvido por uma melodia suave, executada com precisão por uma orquestra clássica. O som das cordas parecia preencher cada canto do ambiente, complementando a sofisticação que o cercava. O coração dele disparava no peito; jamais havia pisado em um lugar tão requintado. O espaço lembrava um museu — não apenas pela grandiosidade, mas pela meticulosa disposição das obras de artes nas paredes Seria exatamente como um museu, se não fosse pelo perfume importado que flutuava no ar como um incenso sufocante. Desnorteado, quase fora de lugar, Tsukishima seguiu pelo longo tapete azul que se estendia à sua frente, os olhos percorrendo o salão em busca de algum rosto familiar. Queria, ao menos, encontrar um canto discreto, onde pudesse se esconder e escapar, o quanto antes, dos olhares e das conversas dos patrocinadores.

𝐅𝐎𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑 & 𝐀𝐋𝐖𝐀𝐘𝐒 • KuroTsukiOnde histórias criam vida. Descubra agora